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O câncer de Marcelo Rezende: otimismo ajuda em dura batalha

Embora o câncer de pâncreas seja agressivo, tratamentos combinados elevam a sobrevida. Especialistas afirmam que o otimismo também ajuda no tratamento

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 Maio 2017, 11h38 - Publicado em 18 Maio 2017, 11h06

No domingo, o apresentador Marcelo Rezende revelou em entrevista para o Domingo Espetacular, da TV Record, que está com câncer no pâncreas e no fígado. Rezende relatou que os sintomas apareceram há apenas um mês, quando começou a sentir cansaço e falta de apetite. Depois de uma bateria de exames, veio o diagnóstico: um tumor no pâncreas que se espalhou para o fígado.

Além de iniciar um tratamento, o apresentador decidiu fazer um retiro espiritual de sete dias para se fortalecer emocionalmente. A decisão veio após a alta na quimioterapia. Na mesma postagem, Rezende diz já se sentir curado, graças à fé. “O importante é que estou aqui orando firme e tenho certeza de que já estou curado”, afirmou em vídeo publicado no Instagram.

 

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Sete dias voltados a quem sempre estive voltado: DEUS. Só não fiz jejum porque estou fraco. Obrigado, meus irmãos em CRISTO, por tanto carinho, amor e orações 🙏🙏🙏🙏🙏🙏❤️

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Otimismo ajuda

Especialistas acreditam que o otimismo, de fato, ajuda no tratamento. “Embora não signifique que a pessoa vai se curar ou não,  é muito nítida, na prática clínica do tratamento de doenças graves, a influência positiva do otimismo na evolução do prognóstico”, diz Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião de fígado e aparelho digestivo e professor livre-docente pela Universidade de São Paulo (USP).

Para Felipe José Fernández Coimbra, cirurgião oncologista e diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center, “quando qualquer pessoa é diagnosticada com uma doença grave, existem várias formas de enfrentar a situação: negação, pessimismo, otimismo, racionalização. Embora não existam estudos sobre o assunto, na prática a gente vê que ser positivo é sempre bom. Essa atitude facilita a exposição ao tratamento, que não é fácil e ajuda na hora da internação hospitalar, por exemplo.”

Tumor agressivo

No entanto, também é necessário ter cautela. O câncer de pâncreas é considerado um tumor agressivo. Segundo o Inca, no Brasil, o tumor é responsável por cerca de 2% de todos os tipos de câncer diagnosticados e por 4% do total de mortes pela doença. A taxa de sobrevida geral é de 5% a 10%.  A localização do órgão, as características do tumor — sua estrutura em estroma (células e proteínas que ‘protegem’  as células tumorais dos remédios) e a predominância do diagnóstico tardio dificultam o tratamento. 

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O pâncreas é um órgão localizado na parte de trás da região do abdômen. Ao seu redor, estão várias estruturas importantes, como vasos que levam e trazem sangue para o intestino, fígado e estômago. Suas funções principais são produção de insulina — hormônio que controla a glicose do sangue — e de enzimas que ajudam na digestão dos alimentos.

O câncer de pâncreas costuma ser dividido em dois grupos: os tumores exócrinos, que crescem nos dutos responsáveis pela produção de enzimas que ajudam na digestão, e os endócrinos, que se formam em células especializadas na produção de hormônios, como a insulina. Entre os exócrinos, está o adenocarcinoma, tipo responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de pâncreas no mundo. Isso acontece por dois motivos: as células cancerígenas tendem a se multiplicar de maneira rápida e não há exames preventivos para a detecção precoce do tumor.

No grupo dos endócrinos, está o carcinoma neuroendócrino, tipo que atingiu Steve Jobs, fundador da Apple.  Esse tipo de tumor costuma ter um desenvolvimento mais lento, o que acaba aumentando a sobrevida do paciente. Como tem origem nas células especializadas do órgão, ele pode interferir diretamente na produção de hormônios como a insulina e o glucagon (ambos relacionados ao diabetes).

Um dos agravantes da doença é o alto risco de metástase, mesmo nos estágios iniciais da doença, principalmente nos gânglios ao redor do pâncreas, peritônio e fígado. Rezende teve metástase no fígado. Segundo Coimbra, o órgão é o lugar mais comum de metástase porque uma de suas muitas funções é filtrar o sangue que vem do abdômen. Isso faz com que ele receba células oriundas de outros órgãos, como pâncreas.

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Segundo Ferraz Neto, quando há metástase em adenocarcinomas, há pouca chance de sucesso. “Mas, se houver diagnóstico precoce, que é incomum, é possível. Existe a possibilidade de cura”.

Por outro lado, se o tumor for um carcinoma neuroendócrino, a possibilidade de cura ou de vida em longo prazo é grande, mesmo quando há metástase.

Fatores de risco e sintomas

Os principais sintomas da doença são: emagrecimento, perda de apetite, aparecimento ou piora do diabetes, icterícia (pele e mucosa amareladas), dor abdominal em faixa, dor nas costas, vômitos, dores de cabeça, sudorese e mal-estar. Esses sintomas, comuns a várias condições, contribuem para a alta incidência de diagnóstico tardio, já que os pacientes demoram a procurar o médico ou se consultam com médicos de outras especialidades, que demoram para identificar o tumor.

Os fatores de risco para a doença são tabagismo, diabetes, pancreatites e histórico familiar. “O segredo do diagnóstico e o segredo do tratamento é fazer exame sempre. Qualquer pessoa que se submete a um check-up frequente tem chance de receber um diagnóstico precoce”, ressalta Ferraz Neto.

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos são registrados quase 145.000 novos casos de câncer de pâncreas e cerca de 139.000 mortes. Sem um diagnóstico precoce eficiente, a doença chega a vitimar, em até cinco anos, 85% dos pacientes que desenvolvem o tumor. A incidência é mais comum após os 50 anos de idade e quase duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres – e de duas a três vezes mais frequente entre fumantes.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito por meio da avaliação dos sintomas, seguida de exames como tomografia, ressonância e eco-endoscopia, além de análises mais específicas como marcadores no sangue e biópsia.

As opções de tratamento dependem diretamente do grau do tumor. “Hoje em dia, o tratamento é personalizado. Então, para cada situação, tem um tratamento mais indicado. De maneira geral, cada tratamento tem um objetivo. A cirurgia trata a doença localizada, fazendo uma limpeza na região. A quimioterapia circula no corpo todo e atinge todos os pontos de tumor ao mesmo tempo. A radioterapia também tem uma função de tratamento localizado. Mas, normalmente, todos esses são tratamentos complementares”, explica Coimbra.

Quando o tumor é localizado, as opções são: começar pela quimioterapia, que atinge o tumor e as células circulantes. Em seguida, a cirurgia, para retirar o que sobrou do tumor. Esse tratamento pode ser seguido de mais quimioterapia ou radioterapia, dependendo da necessidade do paciente.

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Se o tumor já tiver se espalhado (metastático), a prioridade é combater todos os pontos ao mesmo tempo. Neste caso, começa-se pela quimioterapia e, dependendo da resposta (o tumor pode regredir, estabilizar ou o tratamento pode não apresentar efeito), são avaliadas outras opções.

Segundo Coimbra, atualmente, quando é feita a cirurgia e os tratamentos combinados, a sobrevida sobe para 20% a 30% e mesmo em casos avançados existe a possibilidade de sobrevida grande ou controle da doença em longo prazo.

No entanto, um tratamento tem duração média inicial de dois a três meses, com reavaliação ou outro tratamento na sequência. Já para dizer se uma pessoa está “curada”, são necessários pelo menos cinco anos desde o início do tratamento.

Entre os cuidados que o paciente deve ter, então, estão manter-se bem orientado, buscar informação com profissionais especializados, se manter bem nutrido, seguir atividade física leve e procurar contar com o apoio da família e dos amigos.

 

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