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‘Minha boca ia explodir’, diz mulher após procedimento labial

Quando a busca desenfreada por um padrão de beleza a qualquer custo coloca em risco a segurança dos pacientes

Por Da redação
Atualizado em 6 dez 2016, 12h53 - Publicado em 6 dez 2016, 12h52

Em 2013 o Brasil era o campeão no ranking dos países que mais fazem cirurgias plásticas no mundo. Apesar da queda nos últimos dois anos, os números continuam altos. Segundo uma pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps, na sigla em inglês), em 2015, o Brasil realizou 1,22 milhão de procedimentos. Houve também um aumento por procedimentos menos invasivos e duradouros, como preenchimentos labiais. No entanto, estes também não estão livres de risco.

“Assim que terminou, entrei no carro e chorei. Senti que eu tinha me autoflagelado”, disse uma das milhares de jovens que se submetem ao preenchimento facial como uma solução milagrosa para elevar a autoestima, no Reino Unido, segundo informações da BBC Brasil.

Lá, o procedimento estético é considerado um dos mais acessíveis, uma vez que não precisa ser feito por médico ou clínica autorizada. Desde 2014, tem havido um aumento de 13% ao ano em todos os procedimentos estéticos, de acordo com relatório anual da Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Estéticos (Baaps, na sigla em inglês). No entanto, essa continua a ser uma das áreas menos regulamentadas da medicina no Reino Unido, o que coloca em risco a segurança dos pacientes.

Aos 24 anos, Tina, que prefere não revelar seu nome verdadeiro, pagou 75 libras (cerca de 350 reais) por um preenchimento labial, realizado no salão de beleza que frequentava.

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“Foi fácil demais. Logo depois, ficou horrível. Muito inchado. Eu nunca senti tanta dor como naquela noite. Fiquei acordada de 2h até 5h da manhã no banheiro, observando meu lábio no espelho. Minha boca ia explodir. Essa era minha sensação. E senti vergonha por ter me submetido a isso apenas por vaidade”, contou a jovem.

Segundo ela, seu parceiro não se conformava. “Ele ficou bravo. Eu pensei que a gente ia terminar por causa disso. Ele dizia: ‘Você sempre falou que queria parecer natural – por que você fez isso?'”, relatou.

O caso de Tina é um entre muitos. Uma pesquisa realizada em outubro pela rede britânica BBC, mostrou que 32% das mulheres britânicas buscam cirurgia plástica. Entre as mulheres com menos de 35 anos, esse percentual sobe para 45%. O procedimento cirúrgico mais popular é o aumento dos seios.

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Sarah, que também não quis dar seu nome verdadeiro, se submeteu a essa operação aos 21 anos pois estava infelizmente com sua aparência. A jovem se consultou gratuitamente em uma clínica onde conta ter sido recebida por uma equipe calorosa, que não parecia ser formada por médicos. Pagou um depósito não-reembolsável de 500 libras (cerca de 2.330 reais) e foi submetida à cirurgia para colocar silicone nos seios.

Entretanto, após o procedimento, ela diz que sentiu uma dor tão forte que não conseguia sentar na cama sem ajuda por duas semanas. E imediatamente teve consciência de que o implante parecia completamente falso.

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“É algo que eu tenho que admitir. Sou tão superficial que passei por tudo isso e ainda gastei esse dinheiro todo. Os implantes só duram de 10 a 15 anos, se você tiver sorte. Então depois, você ainda tem que passar por isso novamente para ter as próteses substituídas ou removidas”, lamenta.

Próteses adulteradas

Há seis anos, um escândalo – que revelou próteses mamárias adulteradas, feitas a partir de silicone industrial – levou o governo a solicitar uma revisão da regulamentação da indústria. A revisão chamou a atenção para as injeções de preenchimento facial, recomendando que só deveriam ser aplicadas mediante prescrição médica. Para Rajiv Grover, ex-presidente da BAAPS, a medida tornaria o procedimento mais seguro.

“Iria regulamentar quem é capaz de realizar esse tipo de tratamento – que teria que ser um profissional médico – e impediria tanta publicidade. O excesso de marketing dá a impressão que esses tratamentos são um passaporte para uma vida de glamour. Essa ideia é completamente equivocada”, afirmou Grover.

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A revisão também recomendou um registro obrigatório de cirurgiões plásticos, que listariam suas especialidades, qualificação para aplicar preenchimento facial e um seguro compulsório para o caso de algo dar errado. Nenhuma das medidas foi totalmente implementada.

Rosemary Leonard, médica que participou do painel de revisão, sente que a análise foi perda de tempo e conta que frequentemente recebe em sua clínica diversas pacientes vítimas de cirurgias plásticas mal sucedidas. “Eu vi cicatrizes assustadoras de cirurgias que deram errado”.

Arrependimento

Mas, mesmo procedimentos são bem sucedidos podem ser questionados. Sharon Dhaliwal fez uma rinoplastia (cirurgia plástica no nariz), aos 23 anos, após ter sofrido bullying na escola.

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Embora ela afirme que se tornou mais extrovertida após o procedimento, agora ela se pergunta se devia ter encarado seu nariz proeminente indiano como normal, ao invés de se render a uma visão eurocêntrica de beleza.

“Eu removi parte da minha identidade. Me sinto chateada, ninguém me disse que eu era bonita mesmo com um nariz grande”, desabafa.

No ano que vem, o Royal College of Surgeons vai lançar um novo registro para cirurgiões plásticos que exige um número mínimo de procedimentos realizados e referências para qualificação. O órgão consultivo Health Education England  também desenvolveu uma qualificação, com status de pós-graduação, para os profissionais que desejam aplicar preenchimentos faciais.
Mas, até o momento, nem o registro nem a qualificação serão obrigatórios. E a indústria da beleza bilionária – avaliada hoje em  3,6 bilhões de libras, (quase 17 bilhões de reais) continuará a funcionar sem ser regulamentada.

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