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HIV: Tratamento precoce pode ter promovido a cura funcional em recém-nascido

Nos EUA, bebê infectado pelo vírus da aids passou a receber um coquetel de antirretrovirais apenas 30 horas depois de nascer. Para médicos, isso possibilitou a redução dos níveis do HIV e impediu que o vírus fosse reativado

Por Vivian Carrer Elias
4 mar 2013, 13h34

Neste domingo, médicos americanos anunciaram que, pela primeira vez, conseguiram promover uma cura funcional em um bebê recém-nascido infectado pelo vírus causador da aids. Segundo os especialistas, a criança, hoje com dois anos e meio de idade, não apresenta mais quantidades significativas do HIV em seu sangue e exames convencionais já não conseguem mais detectar a presença do vírus em seu organismo mesmo um ano após ela deixar de receber tratamento contra a infecção. Para os pesquisadores envolvidos no caso, o que tornou isso possível foi o fato de os antirretrovirais em doses terapêuticas terem sido dados ao bebê muito precocemente – apenas 30 horas depois de seu nascimento.

O caso foi conduzido por um time de pesquisadores do Centro Infantil da Universidade Johns Hopkins, do Centro Médico da Universidade de Mississipi e da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts. Segundo informaram os especialistas, o bebê nasceu com um alto risco de infecção pelo HIV pois a sua mãe, que apresentava o vírus, não recebeu tratamento adequado. Normalmente, crianças que nascem com esse risco recebem durante seis semanas um antirretroviral ou, dependendo do caso, uma combinação de dois desses medicamentos. São doses profiláticas com a finalidade de evitar uma infecção. Somente depois de elas receberam o diagnóstico da infecção – que é feito quando ela completa um mês de vida e é confirmado aos quatro meses – é que elas passam a receber doses terapêuticas do medicamento, que é a combinação de três antirretrovirais (o chamado coquetel).

No caso anunciado neste domingo, o que os médicos fizeram foi tratar o bebê diretamente com a dose terapêutica de antirretrovirais. O bebê, nascido na área rural do Mississippi, passou a ser tratado com um coquetel 30 horas depois do nascimento e seguiu com o tratamento ao longo de seus 18 primeiros meses. Nos dez meses seguintes, a criança ficou sem tratamento, que foi suspenso pela sua mãe. De acordo com os pesquisadores, exames feitos depois disso não detectaram quantidades significativas de vírus no corpo da criança. Assim, para os médicos, não há dúvida de que a criança experimentou uma “cura funcional” – ou seja, quando o paciente consegue obter e manter uma remissão do vírus HIV a longo prazo sem precisar tomar remédios.

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Motivo – Para os cientistas envolvidos no estudo, o uso imediato do coquetel promoveu a cura funcional pois impediu a formação de reservatórios virais, que são células dormentes responsáveis por reativar a infecção algumas semanas após o paciente interromper o tratamento. “A terapia antiviral imediata em recém-nascidos pode ajudar uma criança a eliminar o vírus e alcançar a remissão sem a necessidade de um tratamento a longo prazo ao prevenir que esses ‘esconderijos virais’ se formem”, disse, em nota, a médica Deborah Persaud, professora associada do Centro Infantil Johns Hopkins e coordenadora da pesquisa.

Em nota oficial divulgada pela Universidade Johns Hopkins, os autores dessa pesquisa afirmam que ainda não é possível alterar a forma como recém-nascidos com alto risco de infecção pelo HIV são tratados. Eles acreditam que mais testes são necessários para verificar se o tratamento teria o mesmo efeito em outras crianças. Mesmo assim, os pesquisadores acreditam que esse caso pode mudar a forma como recém-nascidos recebem tratamento e também pode reduzir o número de crianças que vivem com o vírus HIV.

Confirmação – Especialistas que não tiveram acesso aos detalhes da pesquisa dizem que ainda é preciso saber se o bebê realmente havia sido infectado pela mãe. Caso contrário, seria uma situação de prevenção, o que já foi feito em bebês nascidos de mães infectadas. Os médicos que acompanharam o caso afirmam que foram feitos cinco testes positivos no primeiro mês de vida do bebê, o que provaria que o recém-nascido estava infectado.

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Em entrevista ao site americano HIVandHepatites.com, a pesquisadora Deborah Persaud afirmou que a conclusão de que a criança não apresentava mais níveis significativos de HIV foi tirada a partir de uma série de exames laboratoriais. “Depois de a criança voltar ao nosso hospital e de nós sermos informados de que seu tratamento foi descontinuado, realizamos um teste para saber qual era a situação do vírus em seu sangue. Foi aí que vimos que o exame comum de anticorpos deu negativo. Outros testes, inclusive um de DNA, mostraram a mesma coisa”, disse.

De acordo com Persaud, sua equipe ainda realizou outros exames para saber se, por exemplo, essa criança carregava algum fator genético que a protegesse da infecção pelo vírus HIV ou a tornasse resistente, o que não foi o caso. “Eu acho que temos evidências suficientes de que essa criança tinha um vírus consistente em seu sangue pelo menos nos seus primeiros 19 dias de vida”, afirmou a pesquisadora.

Para Marinella Della Negra, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e especialista em aids em crianças, até que todos os detalhes científicos desse caso sejam revelados, não é possível tirar grandes conclusões. “A criança parece não apresentar quantidades significativas de vírus no sangue. Mas isso não quer dizer que ela não tenha mais nenhum vírus. O HIV não ter sido detectado pelos exames normais não significa nada. Não é possível, então, afirmar que a criança não transmitirá o vírus HIV durante a vida adulta, mas também não podemos dizer que ela poderá transmitir.”

As Nações Unidas estimam que 330.000 bebês foram infectados em 2011 e que mais de 3 milhões de crianças no mundo todo vivem com a o vírus da aids.

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