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“Fui pressionado a dizer que era culpado. Sou inocente”

Em entrevista a VEJA, Adônis Negri, acusado de ter envenenado o achocolatado que causou a morte de um menino de 2 anos, diz que confessou por pressão

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 jun 2017, 15h38 - Publicado em 15 jun 2017, 14h58

Em setembro de 2016, a morte de um menino de 2 anos, em Cuiabá (MT), após tomar um achocolatado envenenado comoveu o país. Alguns dias depois, Adônis José Negri, de 66 anos, foi preso ao confessar ter envenenado a bebida que provocou a morte de Rhayron Christian da Silva Santos. O homem foi solto trinta dias depois e aguarda o processo em liberdade.

Recentemente, o juiz Jurandir Florêncio de Castilho Júnior, da 10ª Vara Criminal de Cuiabá, acatou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) contra ele, por homicídio qualificado por emprego de veneno. Segundo o MPE, o veneno foi colocado propositalmente no achocolato por Negri, que desejava se vingar de um assaltante – Deuel de Rezende Soares, que também foi preso na ocasião, mas já está solto – que estava furtando sua casa e comendo alimentos de sua geladeira.

Na época, ele confessou ter envenenado a bebida com a finalidade de matar ratos que estavam em sua residência. Mas, em entrevista exclusiva ao site de VEJA, Adônis afirma que é inocente e que só confessou porque sofreu uma “pressão muito grande do policiamento”. Ele também afirma que nunca teve o produto em questão (Itambezinho, da Itambé) em sua residência e só consome achocolatado da marca Italac.

Para Raul Brandão, advogado de Negri, ele “está condenado sem defesa”. Brandão afirma ainda que elementos da acusação não comprovam nada contra o idoso. “Eu tenho uma suposição mediante o que colhemos dos autos. O rapaz que alegou ter roubado isso na casa dele está tentando se desvencilhar, imputando a responsabilidade ao Sr. Adônis. Acredito até que pode ter havido um erro muito grande dentro do inquérito policial, devido à velocidade da investigação.”, diz.

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Quando soube da morte da criança, o senhor imaginou que seriam os achocolatados furtados da sua casa? Não. Inclusive nunca teve esse produto lá. O que eu sempre comprei foi o Italac.

Mas no Italac que estava na sua casa o senhor tinha colocado algo? Eu nunca coloquei nada. Eu só falei porque fizeram muita pressão, por isso que eu falei. Entendeu? Mas não tem nada. Não tem nada que possa confirmar que fui eu.

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Então o produto que a criança tomou não foi roubado da casa do senhor? Não. O que encontraram lá foi o Italac, inclusive levaram para análise o tubinho e nada constatou.

Na denúncia consta que o senhor confessou que envenenou os achocolatados com a intenção de matar os ratos da sua casa, certo? Minha querida, sob pressão você fala tudo. Eu sofri uma pressão muito grande do policiamento, por isso que eu falei isso. Eles queriam bater em mim, havia uma [arma] 12 apontada para mim. Eu vou morrer? Não. Chegaram lá em casa às 6 da manhã, como se eu fosse o maior bandido do mundo. Eu estava deitado ainda. Pularam a cerca, bateram na porta e me pegaram até de cueca dentro de casa. Entraram encapuzados, apontando arma para mim e me jogando no chão como se eu fosse um bandido. Foi um negócio terrível. Coisa que nunca aconteceu na minha vida. Eu queria saber o que aconteceu, então me contaram porque estavam ali e eu falei que nunca fiz nada disso. Aí me falaram “pode falar, que não vai acontecer nada com o senhor”. E eu, como nunca tive um problema com a polícia, acreditei e pensei “então vou falar que eu coloquei o veneno”. Inocentemente eu falei.

Então o senhor está respondendo por uma coisa que não fez? Eu não fiz, exatamente. É uma denúncia que deram de mim lá. Inclusive o pessoal chegou lá… Me empurraram, me agrediram lá dentro de casa e eu nem sabia o que estava acontecendo.

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Quem denunciou? Eu não sei quem que foi. Deve ser o bandido que entrou lá que pegou, ué.

E o senhor o conhecia? Não. Não conheço. Inclusive há dois anos essa mesma pessoa me roubou um carro dentro da minha própria casa, mas eu só fiquei sabendo disso na delegacia, quando estava preso, porque ele contou.

Então ele não roubava sua casa frequentemente? Não.

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O que mudou na sua vida desde então? Eu nunca fui nem perto de uma delegacia até hoje ué. Para mim foi constrangedor demais. Ter que pagar por uma coisa que você não fez, é difícil… Não é fácil, não.

Isso atrapalhou sua vida? Ah, atrapalha, né? Inclusive até minha filha, que mora no Paraná, não conversa comigo achando que eu sou o culpado. Mas eu não sou culpado, eu sou inocente. Eu moro em Cuiabá, ela mora em Curitiba. A cada quinze dias, uma vez por mês, a gente estava conversando e, depois desse fato aí, até ela parou de conversar comigo. Inclusive, ela ficou sabendo pela mídia e eu nem consegui conversar com ela para explicar o que aconteceu.

Agora o senhor vai entrar com a defesa. Acha que vai dar tudo certo? Que eles vão acreditar no senhor? Uai, tem que acreditar, porque eu sou inocente. O advogado vai entrar agora para me defender aqui e eu quero ver o que pode acontecer. Tem que aguardar agora.

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O senhor continua morando no mesmo lugar? As pessoas mudaram em relação ao senhor? Continuo no mesmo lugar, mas a turma fica olhando com cara feia pra gente. Os vizinhos, amigos, ficam olhando com cara feia. Mas vai fazer o quê?

Como foi ser preso? Foi um negócio chato pra caramba para mim. Deus me livre e guarde. Fiquei trinta dias lá e foram os piores trinta dias da minha vida. Sofria gozação. Falavam “o homem do veneno”. No café da manhâ era a maior gozação em cima de mim. Já pensou todo mundo tirando sarro em cima de você? Como é que você ia se sentir? Prefiro nem lembrar.

E a volta para o trabalho? Mudou alguma coisa? Muda, né? Meu chefe ficou meio ressabiado. Mas eu já trabalho na empresa há mais de vinte anos e nunca aconteceu nada comigo. Continuo lá, mas com a consciência meio pesada devido à gozação das pessoas.

 

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