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É preciso atitude contra a aids

Pesquisa revela como os brasileiros encaram a doença. A imensa maioria sabe como se prevenir, mas muita gente ainda dispensa o uso de camisinha e não tem o hábito de fazer o exame de HIV

Por Natalia Cuminale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h29 - Publicado em 8 nov 2014, 00h00

Aos 25 anos, o ator e bailarino Rafael Bolacha viu sua vida mudar radicalmente. Sem alterar os hábitos alimentares nem a rotina de atividade física, em apenas três semanas ele perdeu 5 quilos. Preocupado, procurou um médico. Entre os exames pedidos, o de HIV. Alguns dias depois, veio o resultado positivo para o vírus causador da aids. Foi um baque. “Raramente fazia sexo sem proteção”, lembra. As poucas vezes em que Bolacha diz ter se exposto ao perigo foram por confiar no parceiro ou por estar sob o efeito do álcool. Hoje, aos 30 anos, o bailarino se dedica a conscientizar outros jovens sobre os riscos do HIV. Em breve, adaptará um livro de sua autoria, Uma Vida Positiva, para os palcos, em São Paulo. “Os jovens de hoje acham que estão imunes à contaminação”, diz. “E, se contraírem o vírus, acreditam que é só tomar os remédios que poderão levar uma vida normal.” Não é assim. Para manter o HIV sob controle, Bolacha toma seis comprimidos por dia. Não é fácil. O bailarino convive com crises diárias e severas de diarreia.

Bolacha não é exceção. A imensa maioria dos brasileiros sabe como o vírus é transmitido e como se proteger, mas muita gente ainda dispensa o uso do preservativo e não tem o costume de fazer o teste de HIV. Esse é o resultado de um levantamento conduzido pelo Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Editora Abril, que edita VEJA. Parte integrante do projeto Atitude Abril – Aids, campanha institucional do Grupo Abril para a conscientização sobre a doença, o trabalho ouviu, via internet, em todo o Brasil, 15 002 homens e mulheres acima de 16 anos – 20% deles se declararam virgens e 5%, portadores do HIV. Dos sexualmente ativos, 11% têm relações desprotegidas e, deles, 33% não procuram investigar se carregam ou não o vírus. Outros levantamentos nacionais indicam números ainda maiores de displicência. Pelo menos metade dos brasileiros nunca ou raramente se protege durante o sexo. Deles, um em cada dois nunca fez o teste. Diz o infectologista Artur Timerman, uma das maiores autoridades brasileiras em aids: “Ter informação sobre determinada doença é diferente de ter consciência sobre ela. As pessoas sabem que é importante usar camisinha, mas ainda não introjetaram essa informação”.

Pesquisa AIDS
Pesquisa AIDS ()

Atualmente 720 000 brasileiros estão infectados pelo HIV. Desses, um em cada cinco não sabe que está contaminado. Da pesquisa Atitude Abril – Aids emergiram três perfis de risco – os jovens de 16 a 24 anos; os homens acima de 50 anos; e as mulheres com mais de 30 anos. A seguir, VEJA esmiúça o comportamento de cada um desses grupos.

Os jovens não têm medo

Jovens de classe média contaminados pelo vírus da aids em baladas regadas a muito álcool e drogas têm se tornado figuras frequentes nos consultórios dos infectologistas. A probabilidade de um jovem praticar sexo inseguro é cinco vezes maior se ele tiver bebido demais. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, as infecções pelo HIV entre rapazes e moças de 15 a 24 anos cresceu cerca de 25% entre 2003 e 2012. Na pesquisa Atitude Abril – Aids, 8% dos jovens até 24 anos declararam não usar camisinha. Outros levantamentos, no entanto, revelam dados mais assustadores. Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgada no início do ano, um terço dos rapazes e moças de 15 a 24 anos dispensa a proteção. Os especialistas são unânimes em afirmar que, na realidade, esse número deve ser ainda maior.

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O projeto Atitude Abril – Aids traz um dado revelador dessa realidade. Apenas um em cada quatro jovens associa a palavra medo à doença. A juventude do século XXI não testemunhou o horror dos primórdios da epidemia de aids. No início dos anos 80, quando não havia os remédios antirretrovirais, a infecção pelo HIV representava uma sentença de morte. Entre o diagnóstico e a fase terminal, transcorriam, em média, cinco meses. No fim da década de 90, com a criação do coquetel antiaids, foi possível prolongar, com qualidade, a vida dos portadores por tempo indeterminado.

É comum também o jovem dispensar a camisinha à noite e, no dia seguinte, recorrer ao uso profilático do coquetel. Administrados até 72 horas depois da exposição ao vírus, os medicamentos podem conter a proliferação do HIV. A maioria não leva em conta, no entanto, a extensa e dolorosa lista das reações adversas dos antirretrovirais – depressão, diarreia, anemia e gastrite, entre outras. No levantamento Atitude Abril – Aids, 36% dos entrevistados não acreditam nos graves efeitos colaterais dos medicamentos antiaids ou os desconhecem.

Gráfico AIDS
Gráfico AIDS ()

A displicência da maturidade

Entre 2003 e 2012, as contaminações por HIV no Brasil cresceram assustadoramente entre as pessoas acima de 45 anos. Nesse universo, os homens com mais de 50 anos despertam a preocupação dos especialistas. De cada 100 entrevistados na enquete Atitude Abril – Aids, 47 têm relações sem camisinha. Outros trabalhos apontam um cenário ainda mais sombrio, em que esse índice chega a 63%. Apesar do comportamento de risco, 31% na pesquisa da Abril nunca se submeteram ao exame de HIV. Mas por quê? A maioria tem certeza de que não tem o vírus. Igualmente estarrecedor é o dado de que 11% não fazem o teste porque têm medo de descobrir que estão infectados. É um comportamento de altíssimo risco.

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​O aumento da incidência de aids nesse grupo está diretamente associado aos avanços no tratamento da disfunção erétil. Os comprimidos an­ti-impotência lançados no fim da década de 90 afastaram o fantasma da impotência, e muitos homens recuperaram o vigor sexual. Eles, no entanto, não estavam habituados à camisinha. Um em cada três entrevistados para o Atitude Abril – Aids reconhece ter dificuldade para usar o preservativo. E o motivo? Para a maioria, porque atrapalha a ereção.

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CERTEZA PERIGOSA - Gygy Maciel foi contaminada por um namorado médico: “Confiei demais. Fui ingênua”, diz ela ()

​A exagerada confiança feminina

A paraense Gygy Maciel descobriu ser portadora do HIV aos 34 anos. Ela estava recém-separada. Fragilizada por causa do divórcio, Gygy começou a namorar seu ortopedista. Confiava plenamente nele, tanto que nunca cogitara o uso da camisinha. O relacionamento durou cerca de um ano. Pouco depois, por sugestão de uma amiga em comum, Gygy fez o exame. Positivo para o HIV. Das participantes do projeto Atitude Abril – Aids com 34 anos, em média, 14% dizem fazer sexo sem proteção porque, em sua maioria, confiam no marido ou namorado. Fora do universo das entrevistadas, o número de brasileiras nessa faixa etária que têm o mesmo comportamento está por volta de 52%.

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