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Comer durante a noite pode desregular o ‘relógio alimentar’

Pesquisa mostra que uma proteína denominada quinase C exerce um papel importante na programação do relógio alimentar, que controla os períodos em que o corpo se prepara para se alimentar

Por Da Redação
5 jan 2013, 13h56

Durante as férias e festas de fim de ano, é comum comer mais tarde do que o usual, ou mesmo no meio da noite. Estudos mostram que essas atitudes podem desregular o ‘relógio alimentar’ presente no organismo, que controla os períodos em que o corpo se prepara para se alimentar.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: PKCγ participates in food entrainment by regulating BMAL1

Onde foi divulgada: periódico Proceedings of the National Academy of Sciences

Quem fez: Luoying Zhanga, Diya Abrahama, Shu-Ting Lina, Henrik Osterb, Gregor Eicheleb, Ying-Hui Fua e Louis J. Ptáček

Instituição: Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos EUA

Resultado: Camundongos que receberam alimentos apenas durante as horas em que costumavam dormir ajustaram seu relógio alimentar e passaram a acordar no novo horário das refeições. Já aqueles que não possuíam o gene que sintetiza a proteína quinase C não responderam à mudança de horários – e continuaram dormindo normalmente.

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Uma pesquisa desenvolvida na Universidade da Califórnia, em São Francisco, ajuda a entender como esse relógio funciona em nível molecular. O estudo, publicado na edição de dezembro do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que uma proteína denominada quinase C exerce um papel importante na reprogramação do relógio alimentar.

Em lugar de engrenagens e peças metálicas, esse relógio é composto pela interação de genes e moléculas, que mantêm o organismo em um nível metabólico estável. Esse mecanismo controla os genes relacionados a todo o processo de aproveitamento dos nutrientes ingeridos, desde a absorção no sistema digestivo até sua distribuição na corrente sanguínea. Ele também é capaz de antecipar nossos hábitos alimentares, o que explica porque é normal sentir fome perto da hora do almoço.

Esse não é o único relógio biológico presente no organismo dos seres humanos, animais e até plantas. Todos eles são governados pelo relógio biológico principal, o ritmo circadiano, que controla diversos processos biológicos durante as 24 horas do dia, como a renovação das células e o estado de sono e vigília. “É claro que às vezes nós não damos atenção a esse relógio. Nós programamos alarmes e acordamos mais cedo do que o nosso organismo gostaria, ou ficamos acordados até mais tarde. O relógio circadiano é algo em que nós podemos interferir, mas ele está sempre em funcionamento, dizendo quando devemos estar cansados e quando devemos despertar” afirma Louis Ptáček, um dos pesquisadores do grupo, ao site de VEJA.

Reprogramando o relógio alimentar – Diversos estudos mostram que o ‘relógio alimentar’ pode ser reprogramado quando um indivíduo muda seus hábitos alimentares, principalmente no que se refere ao horário das refeições.

Durante o estudo, camundongos que receberam alimentos apenas durante algumas horas, no período em que costumavam dormir, acabaram ajustando seu relógio alimentar, e passaram a acordar no novo horário das refeições. Mas os roedores que não possuíam o gene que sintetiza a proteína quinase C não responderam à mudança de horários – e continuaram dormindo normalmente, perdendo a chance de se alimentar. Isso demonstra a importância dessa proteína na regulação do relógio, embora os pesquisadores ainda não saibam com precisão como ocorre todo o processo.

Herança ancestral – A programação do ‘relógio alimentar’ para os horários em que as pessoas costumam fazer as refeições vem da época dos homens das cavernas, que só se alimentavam durante o dia, quando era possível caçar. “Se nós acordamos no meio da noite e vamos para a cozinha comer, podemos afetar o equilíbrio do nosso ‘relógio alimentar’ e dizer a ele que a comida está disponível em um horário incomum”, explica Ptáček.

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Inversão de horários Pessoas que comem durante a noite têm em média um risco maior de desenvolverem obesidade e diabetes. “Se eu comer durante a noite a mesma quantidade que uma pessoa come durante o dia, meu risco de desenvolver obesidade é maior”, afirma Ptáček.

Mas isso não significa que comer durante a noite algumas vezes seja prejudicial. “A saúde é a soma do nosso comportamento durante longos períodos. Você pode ficar acordado até mais tarde ou comer tarde, em uma festa, quando sentir vontade, mas de forma geral é mais saudável manter um padrão”, diz.

Quem trabalha no período noturno também tende a ganhar mais peso. No entanto, Ptáček explica que isso acontece porque a maioria das pessoas mantém os hábitos ‘diurnos’ mesmo trabalhando à noite por um longo período. Isso é o que faz com que eles continuem sentindo sono à noite, embora precisem ficar acordados por causa do trabalho. No entanto, se essas pessoas mudarem completamente sua rotina, é possível reajustar o relógio completamente e, dessa forma, seu risco de desenvolver doenças como a obesidade passa a ser o mesmo que o dos demais.

Tratamento – Para os pesquisadores, essa descoberta pode ajudar no entendimento das bases moleculares de doenças como diabetes, obesidade e outras síndromes metabólicas. Além disso, entender como ingerir alimentos nos horários ‘errados’ do dia pode dessincronizar o relógio alimentar é essencial para o desenvolvimento de tratamentos melhores para pacientes com síndrome alimentar noturna e também para sintomas do jet lag.

“Nós sabemos que podemos reajustar relógios por meio dos botões que eles possuem, então se em algum momento no futuro o conhecimento que nós e outros pesquisadores tivermos sobre o ‘relógio alimentar’ nos permitir ajustá-lo de modo que eu não tenha vontade de comer no meio da noite, isso pode ajudar a tratar a obesidade”, afirma Ptáček.

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