Casos de sarampo poderão dobrar em países afetados pelo ebola
Crise causada pela epidemia de ebola na Guiné, Serra Leoa e Libéria reduziu a vacinação de crianças contra o sarampo
O número de mortes por sarampo poderá dobrar até o meio do ano nos países africanos que têm sofrido com a epidemia do ebola, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista Science. Com o estrago causado pelo ebola nos sistemas públicos de saúde da Libéria, Guiné e Serra Leoa, explicam os cientistas, desabou o índice de vacinação de crianças contra o sarampo, o que poderá desencadear um surto da doença nesses países. A estimativa é de que a vacinação contra o sarampo tenha caído 75% em toda a África Ocidental, onde ficam os países afetados pelo ebola.
Segundo os autores do estudo, é comum que crises humanitárias sejam seguidas de surtos de sarampo. Eles afirmam que já há uma epidemia da doença na região endêmica do ebola mas, com a saúde pública devastada, a interrupção dos programas de imunização infantil poderá provocar uma explosão dos casos. Durante a epidemia do ebola, vários hospitais e clínicas foram fechados ou ficaram desertos em decorrência da aversão pública por locais potencialmente contaminados.
No início da epidemia do ebola, no começo de 2014, foram registrados 127.000 casos de sarampo nos três países. A previsão é de que, dezoito meses depois, esse número aumente para algo entre 153.000 e 321.000. Os pesquisadores alertam, no artigo, que isso deverá provocar entre 5.000 e 16.000 mortes adicionais relacionadas ao sarampo. O ebola já matou cerca de 10.000 pessoas e infectou cerca de 24.000.
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Os cientistas, de universidade britânicas e americanas, usaram técnicas de modelagem matemática para prever a provável taxa de alastramento do sarampo, levando em conta fatores como índice de natalidade e suscetibilidade à infecção.
Sem vacina – Partindo da estimativa de que o índice de vacinação tenha caído 75%, os autores calcularam que, dezoito meses após o colapso na assistência médica, 1,1 milhão de crianças entre 9 meses e 5 anos ficarão sem vacina. Antes da crise, cerca de 778.000 crianças eram excluídas da vacinação. Os dados apontam que, a cada mês da epidemia de ebola, em média 19.500 meninos e meninas a mais ficaram sem vacina, à medida que o sistema de saúde se degradava. Por isso, pedem um agressivo programa regional de vacinação, assim que a ameaça do ebola começar a regredir.
Além do sarampo, os cientistas estão preocupados com outras doenças cuja vacinação teve sua distribuição limitada por causa do ebola, como meningite, tuberculose e pólio. Houve também impactos negativos em intervenções contra a malária e o HIV.
(Com Estadão Conteúdo)