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Brasileiro desenvolve diagnóstico da catarata pelo celular

Aplicativo faz mapa do olho e detecta a principal causa da cegueira ainda em estágio inicial. Sistema pode estar disponível para celulares em um ano

Por Marco Túlio Pires
29 Maio 2011, 15h19

No Brasil, 70% das pessoas com mais de 60 anos desenvolveram a catarata

“Apenas olhar através do dispositivo já indica a presença ou a ausência da doença” – Vítor Pamplona

Há um ano o brasileiro Vítor Pamplona, então doutorando visitante do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, ajudou a desenvolver o PerfectSight, um exame de vista pelo celular com um adaptador de dois dólares que poderia ser usado por qualquer pessoa. A ideia é transformar o celular em uma espécie de ‘termômetro’ para os olhos, auxiliando pacientes a determinar se precisam visitar o oftalmologista e usar óculos. Agora, Pamplona e uma equipe de doutorandos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) pretendem ampliar o PerfectSight para se tornar uma ferramenta móvel de diagnóstico completa para doenças do olho.

Para isso, a equipe multidisciplinar de sete pesquisadores da UFRGS, UFF e MIT, da qual Pamplona faz parte, terá que ampliar o escopo da ferramenta para cobrir outras doenças que acometem o globo ocular. O primeiro passo acaba de ser dado com o Catra, uma extensão do PerfectSight capaz de fazer o diagnóstico e o acompanhamento de uma doença que é a maior causa de cegueira no mundo: a catarata. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, no Brasil, 70% das pessoas com mais de 60 anos têm a doença.

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Assim como o PerfectSight, o Catra é um aplicativo de celular que funciona em parceria com um adaptador de plástico acoplado ao aparelho, no qual o paciente coloca o olho. A vantagem do novo sistema é que a catarata pode ser diagnosticada em estágio bastante inicial, o que dificilmente acontece pelos meios convencionais. De acordo com o oftalmologista Miguel Ângelo Padilha, membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, a doença é comumente ‘autodiagnosticada’ quando já está atrapalhando a vida da pessoa. “Na maioria dos casos, o próprio paciente chega ao consultório queixando-se da perda de qualidade na visão”, explica Padilha.

No consultório, os médicos utilizam um aparelho chamado Slit Lamp, ferramenta essencial para os oftalmologistas que faz um check-up do olho, para detectar a presença da catarata. O equipamento só pode ser usado por oftalmologistas e custa cerca de 1.500 dólares, muito mais que um celular e a peça de plástico necessária para o funcionamento do Catra, que pode ser usado por qualquer pessoa. “É um recurso que vai fazer as pessoas ficaram mais atentas aos problemas de vista”, avalia Padilha. “Com posse dessa ferramenta, as pessoas poderão acompanhar a saúde do olho e procurar ajuda médica com mais rapidez.”

Como funciona – De acordo com Pamplona, o Catra funciona em três estágios. No primeiro, o usuário olha através da peça ligada ao celular e observa um ponto verde na tela do aparelho. “Se o paciente perceber o pontinho piscar, borrar ou escurecer, ele tem catarata”, explica Pamplona. “Apenas olhar através do dispositivo pode indicar a presença da doença.” Na segunda etapa, o usuário pressiona a tecla do celular para marcar as vezes em que o ponto verde muda de forma, ou seja, piscar, perder o foco ou escurecer. A partir desses dados, o celular faz um mapa mostrando a posição e o tamanho da catarata.

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A última etapa, se necessária, compara uma região sadia do olho com uma atingida pela catarata. O paciente pressiona mais uma vez as teclas do celular para ajustar o brilho dos pontos verdes que vê. “A ideia é que os pontos fiquem semelhantes em termos luminosos, e com isso, informando ao celular qual a densidade da catarata que está sendo medida”, relata Pamplona. “Assim, o médico consegue ter uma informação mais detalhada de quão destrutiva é a anomalia para a visão do paciente”, diz. O processo todo leva de dez a 15 minutos.

Próximo passo – Pamplona espera que o projeto possa estar no mercado em um ano. “Tudo depende do modelo de negócios e da regulamentação para dispositivos médicos desse gênero”, explica. Como o exame não oferece nenhum risco à visão do usuário, o cientista espera que as regras sejam menos severas do que as aplicadas em dispositivos médicos tradicionais. “Além disso, ainda precisamos realizar muitos testes clínicos com os protótipos.”

Além da catarata, o Catra poderá ser adaptado para fazer diagnóstico e acompanhamento de outras doenças de opacidade no olho humano, como leucoma corneano e opacidades de vítreo. Junto com o PerfectSight – que diagnostica anomalias na visão, como a miopia, hipermetropia e astigmatismo -o Catra cobre boa parte das doenças mais comuns da oftalmologia. “Um terceiro equipamento, que será nosso próximo objetivo, será utilizado para detectar e quantificar doenças mais graves, como a degeneração macular e o glaucoma”, revela Pamplona.

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O especialista responde

Miguel Ângelo Padilha

Membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia

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O que é a catarata?

Todos nascem com uma lente dentro do olho chamada cristalino. Assim como a lente de uma câmera fotográfica, ela permite focalizar as imagens dos objetos sob a retina. Principalmente depois dos 60 anos, esse cristalino vai perdendo a transparência progressivamente e ficando opaco. A catarata é a opacidade do cristalino. Essa condição pode chegar a um grau que leva à cegueira.

Quem pode ter catarata?

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Se todos vivessem até os 100 anos, todos teriam catarata. É um processo biológico natural de envelhecimento do cristalino. Ela pode aparecer, no entanto, em vários estágios da vida por diferentes motivos. A catarata pode aparecer pelo excesso de exposição ao Sol, como ocorre na região do equador e com pancadas diretas no olho. Também pode ser causada pelo diabetes, pelo uso de medicamentos como cortisona e pode se desenvolver em portadores de distúrbios metabólicos, como o hipertireoidismo.

A catarata tem cura?

Sim, apenas com tratamento cirúrgico. Nos casos onde a catarata atrapalha a qualidade da visão do paciente interferindo em suas atividades, é feita a substituição do cristalino opaco por uma prótese artificial. Dependendo do caso, é possível que o paciente nem precise utilizar óculos depois da cirurgia.

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