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Açúcar é o novo vilão da alimentação

Por Da Redação
18 set 2009, 21h45

No dia em que o primeiro europeu colocou uma pitada de açúcar na boca, o mundo começou a girar mais rápido. A data precisa desse acontecimento não foi registrada pela história, mas deu-se em algum momento da Idade Média. De lá para cá, na vertigem da descoberta do açúcar, a civilização ocidental passou a mudar num ritmo intenso. “O açúcar redesenhou o mapa demográfico, econômico, ambiental, político, cultural e moral do mundo”, diz a historiadora canadense Elizabeth Abbott, autora de um livro sobre a civilização do açúcar, “Sugar, a bittersweet history” (“Açúcar, uma história agridoce”).

Movido pela sua energia calórica, o mundo segue girando rápido, tão rápido que estamos ágora na soleira de outra mudança vertiginosa: o açúcar começa a ser considerado um vilão da saúde humana, um veneno tão prejudicial que merece ser tratado com o mesmo rigor empregado contra – suprema decadência! – o tabaco. Está mais perto o dia em que um pacote de açúcar trará a inscrição: “O Ministério da Saúde adverte: este produto é prejudicial à saúde”.

O açúcar em suas várias formas é o grande promotor da obesidade, mas seus níveis altos no sangue podem ser associados à quase todas moléstias degenerativas, do ataque cardíaco ao derrame cerebral e a diabetes. Existem suspeitas científicas sérias de que o açúcar pode até ser uma das causas de alguns tipos de câncer. Na lista, está o câncer de pâncreas, o mesmo que matou o ator Patrick Swayze aos 57 anos na semana passada. Em Harvard, pesquisadores acompanharam 89 000 mulheres e 50 000 homens e descobriram que os refrigerantes podem aumentar o risco de câncer de pâncreas em mulheres, só em mulheres. Antes que os homens se sintam premiados pela natureza, outro estudo, que examinou 1 800 doentes, sugere que dieta açucarada pode aumentar o risco de câncer do intestino grosso em homens, só em homens.

Mas, se o açúcar, como o tabaco, subir no patíbulo, o refrigerante se tornará o cigarro da vez. Nos Estados Unidos, já há um movimento, incipiente, mas sólido, integrado pelos cientistas mais reputados do país, contra o consumo de refrigerante, considerado umas das formas mais prejudiciais de ingestão de calorias de açúcar. Os estados de Nova York e do Maine já discutiram cortar o consumo de refrigerantes a golpes de imposto. Em Nova York, o governador David Paterson propôs uma alíquota de 18%, mas recuou depois de perceber a má vontade dos parlamentares e a força do lobby do açúcar cujo poder é lendário na política americana.

Os Estados Unidos são a barricada mais potente contra o açúcar do refrigerante, mas não são a única. Na Inglaterra e na França, a propaganda de refrigerantes está banida da televisão. No México, onde a obesidade cresce num ritmo assustador, é proibido vender refrigerante nas escolas de todo o país. Na Alemanha e na Bélgica, a proibição vale até para o comércio nas imediações das escolas. Na Irlanda, celebridades não podem fazer comerciais de refrigerantes dirigidos ao público infantil.

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O açúcar e a obesidade que dele advém são um problema em todo o planeta, inclusive no Brasil. Examinando dados relativos a 2005, a Organização Mundial da Saúde estimou que 1,6 bilhão de seres humanos estão acima do peso ideal e 400 milhões estão obesos. É um colosso de gordura, uma fartura de matar de inveja nossos ancestrais da savana africana, eles que, coitados, se arrebentavam por uma mísera caloria. Já surgiu um neologismo para sublinhar a dimensão global da obesidade – é a “globesidade”. Do alto de sua autoridade científica, o professor Walter Willett prevê: “Obesidade e diabetes serão o desafio de saúde pública do século XXI.”

O açúcar integrou-se de tal modo na alma brasileira que inspira sinônimos para todas as gradações. Na dose certa, é meiguice, suavidade, brandura. Com um grão de ousadia, é dengo e sedução. No exagero, é enjoo, tédio. O açúcar, sendo doce e amargo, é uma bela metáfora do brasileiro, que funde em si mesmo, com desembaraço intrigante, o homem cordial e o homem violento. Que o açúcar tenha o destino que tiver que ter para que a humanidade seja saudável e feliz. Se um dia desaparecer da mesa, os brasileiros pelo menos terão o consolo de lembrar dele na doce, sensual e úmida definição do poeta Ferreira Gullar:

“Afável ao paladar

Como beijo de moça, água

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Na pele, flor

Que se dissolve na boca.”

Leia a reportagem completa em VEJA desta semana (na íntegra somente para assinantes).

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