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A ciência chega perto de desvendar o orgasmo feminino

Uma pesquisadora está estudando os mecanismos do orgasmo feminino para descobrir, entre outras coisas, como é exatamente a sensação da mulher

Por Da redação
25 nov 2016, 18h30

É mulher e já teve um orgasmo? Tem certeza? Como as mulheres sabem se estão tendo um orgasmo? Embora essas perguntas possam parecer óbvias, não são. Tanto que a neurocientista Nicole Prause está desafiando os tabus da pesquisa sexual para desvendar essa e outras questões sobre o orgasmo feminino.

Segundo informações do jornal britânico The Guardian, no incipiente campo da pesquisa do orgasmo, enquanto entre os homens há um claro feedback fisiológico na forma de ejaculação, a maior parte dos dados femininos baseia-se em auto-relatos. os quais, por sua vez, são muitas vezes discrepantes dos sinais físicos apresentados.

Afinal, como uma mulher tem certeza que chegou ao clímax? Já parou para pensar que a sensação associada ao clímax seja apenas um dos primeiros sinais de excitação?

Diante dessas dúvidas e após seus projetos de pesquisas sobre o assunto serem recusados em diversas instituições, Nicole decidiu estudar os mecanismos do orgasmo em seu próprio laboratório. Ela espera que uma melhor compreensão do que acontece no corpo e no cérebro de uma pessoa durante a excitação e o orgasmo ajudem no desenvolvimento de dispositivos que consigam aumentar o desejo sexual sem a necessidade de medicamentos.

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No experimento, os voluntários, tanto homens quanto mulheres, praticavam sexo enquanto usavam dispositivos que detectam a atividade cerebral e as contrações e reações do corpo tipicamente associadas ao orgasmo como eletrodos de eletroencefalograma. Isso permite uma imagem mais precisa da excitação e do orgasmo de uma mulher. No entanto, após esses experimentos, Nicole notou que “muitas das mulheres que relataram ter um orgasmo não estavam tendo nenhum dos sinais físicos – as contrações – de um orgasmo.”

Não está claro por que isso acontece, mas é fato que sabemos pouco sobre orgasmos e sexualidade. “Nós não pensamos que elas estão fingindo. Eu acredito que algumas mulheres não sabem o que é um orgasmo. Há muitos picos de prazer que acontecem durante a relação sexual. Se você não nunca teve contrações você pode não saber que há algo diferente.”, afirma.

Orgasmo e saúde mental

Nicole acredita que o orgasmo possa trazer benefícios para a saúde mental. Caso isso se confirme, essa pode ser uma nova “linha de tratamento” contra depressão. Mas, toda vez que ela tentava incluir esse tópico em seu estudo sobre novas intervenções em depressão, recebia um não.

Foi então que ela decidiu se unir à Liberos, uma empresa americana de biotecnologia sexual. Na época, a organização estava trabalhando em um estudo sobre os benefícios e a eficácia da “meditação orgásmica”.

Parte do movimento do “sexo lento” (tradução livre da expressão slow sex, em inglês), a prática envolve uma mulher ter seu clitóris estimulado por um parceiro – muitas vezes um estranho – por 15 minutos. “Este estado de orgasmo é diferente. É sem objetivo, intuitivo e dinâmico. Ele flui por todo o lugar sem direção definida. Pode incluir clímax, ou não. Em Orgasmo 2.0, aprendemos a ouvir o que o nosso corpo quer, em vez do que ‘deveríamos’ querer.”, afirma o site da companhia americana One Taste, especializada na prática e que coparticipou da pesquisa com a Liberos. 

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“As pessoas que praticam [a meditação orgásmica] alegam que ela ajuda a combater o stress e melhora sua capacidade de lidar com situações emocionais, embora, como cientista, pareça bastante explícito sexualmente para mim”, disse Nicole.

A pesquisadora está analisando praticantes de meditação orgásmica em seu laboratório. Antes e depois de medir as mudanças corporais durante a aplicação do método, os pesquisadores fazem perguntas aos participantes para determinar seu estado físicos e mental. O objetivo do estudo é determinar se atingir um nível de excitação requer esforço ou uma liberação no controle. Em seguida, ela quer observar como a meditação orgásmica afeta o desempenho dos participantes em tarefas cognitivas, como ela muda a reatividade a imagens emocionais e como ela se compara com a meditação regular.

Estimulação cerebral

Outra linha de pesquisa é a estimulação cerebral. Nicole acredita que essa poderia ser uma alternativa viável a medicamentos como o Sprout, conhecido como “Viagra feminino”. O remédio precisa ser administrado diariamente, não pode ser misturado com álcool e seus efeitos colaterais incluem quedas repentinas de pressão sanguínea, desmaio e sonolência. “Muitas mulheres preferiam tomar algumas taças de vinho do que um medicamento diário que nem é muito eficiente”, disse a neurocientista.

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Embora ainda esteja em seu estágio inicial, o campo da estimulação cerebral pode ser muito promissor no tratamento desse e outros problemas que envolvem estímulos cerebrais. Estudos preliminares mostraram que a estimulação transcraniana de corrente contínua (tDCS, na sigla em inglês), que utiliza correntes elétricas diretas para estimular partes específicas do cérebro, pode ajudar na depressão, ansiedade e dor crônica, mas também pode causar queimaduras na pele. Já a estimulação magnética transcraniana, que usa um ímã para ativar o cérebro, tem sido usada para tratar depressão, psicose e ansiedade, mas também pode causar convulsões, mania e perda de audição.

O estudo de Nicole foca na utilização dessas tecnologias para o tratamento de problemas relacionados ao desejo sexual. Em um dos estudos, homens e mulheres receberam dois tipos de estimulação magnética no centro de recompensa do cérebro. Após cada sessão, os participantes são convidados a concluir tarefas para ver possíveis mudanças em sua capacidade de resposta às recompensas monetárias e sexuais (pornografia).

Com a estimulação direta, Nicole quer incitar o cérebro das pessoas usando correntes diretas e, em seguida, acionar pequenos vibradores conectados aos órgãos genitais dos participantes. Isso proporciona estimulação sexual de uma forma que elimina a subjetividade das preferências que as pessoas têm por pornografia.

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“Já temos um modelo básico de funcionamento. A barreira está em encontrar um dispositivo que um ser humano pode aplicar em si mesmo de forma confiável e que não prejudique a própria pele.”, disse.

Entretanto, outros especialistas alertam para o perigo de danos colaterais associados a esses dispositivos de estimulação cerebral. Nicole, que também é psicóloga, ressalta também para os perigos de você vender esses dispositivos em excesso. Segundo ela, os problemas sexuais podem ser desencadeados por pressões sociais que nenhum dispositivo pode corrigir.

Pressão social

Leonore Tiefer, psicóloga especializada em sexualidade afirma que classificar o baixo desejo sexual como uma condição médica exige definir o que é normal e o que é insalubre nessa área. “O sexo não se presta a esse tipo de classificação. Há demasiada variabilidade, tanto culturalmente quanto em termos de idade, personalidade e diferenças individuais. O que é normal para mim não é normal para você, sua mãe ou sua avó.”, disse a psicóloga ao The Guardian.

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Nicole ressalta ainda que nenhum dispositivo jamais vai resolver uma ‘condição’ chamada “problema Bob” (tradução livre a expressão Bob problem, em inglês) – quando uma mulher em uma relação heterossexual não está ficando excitado porque a técnica de seu parceiro não é boa. “Nenhuma pílula ou estimulação cerebral vai corrigir isso”, finalizou ela.

 

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