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Um retrato das selfies

Estudo feito com 2,5 milhões de autofotos publicadas no Instagram traça o perfil dos narcisistas virtuais e revela como eles gostam de se mostrar na rede

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jul 2017, 06h00 - Publicado em 22 jul 2017, 06h00

Todos os dias, algo em torno de 1 milhão de selfies são clicadas ao redor do planeta. Em meio a essa febre narcisista tão própria da era virtual, somente no Instagram (comprado pelo Facebook, em 2012, por 1 bilhão de dólares) 282 milhões de autorretratos foram postados entre 2011, quando o gênero surgiu na web, e o fim de 2016. Intrigado com essa formidável quantidade de material, um grupo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, dedicado à área de ciências da computação, decidiu estudar o fenômeno. Para tanto, peneirou, ao longo de três meses, 2,5 milhões de registros publicados mundo afora no Instagram, de acordo com os seguintes critérios: todos deveriam ser públicos, postados com a hashtag #selfie e limitar-se a imagens estáticas (ou seja, os vídeos ficaram de fora). O resultado, divulgado na revista da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial, trouxe à tona um perfil pioneiro sobre quem publica selfies e o que pretende com elas — pela primeira vez foram utilizados para isso um programa de reconhecimento facial e dados obtidos de hashtags.

No trabalho, os autores defendem a ideia de que “as selfies projetam traços de identidade valorizados tanto nas redes sociais como na vida off­-line: atributos físicos, riqueza, saúde. Elas misturam as versões conectada e desconectada do indivíduo”. Para o psicólogo Cristiano Nabuco, do núcleo de dependência de internet do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o exagero no uso das redes expõe características muito fortes da personalidade, sobretudo no que se refere ao narcisismo. Diz ele: “Quanto mais a pessoa posta, maior a sua necessidade de aprovação social. Ela busca no universo virtual algum retorno que não recebe na vida real”.

(//VEJA)

O raciocínio de Nabuco encontra respaldo nos principais elementos coletados pelos cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia. Mais da metade das imagens analisadas tem o objetivo de valorizar a aparência física e costuma ser acompanhada de hashtags com nomes de marcas de luxo, como Armani e Sephora. Junto a isso, os pesquisadores perceberam a repetição de poses em automóveis no banco do motorista, numa tentativa de mostrar espontaneidade no cotidiano, embora se tratasse, claro, de fotos planejadas.

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Por mais que o culto ao autorretrato virtual esteja relacionado a uma postura esnobe e narcísica, o terceiro grupo com maior número de selfies detectado na pesquisa americana — atrás apenas das que exibem a aparência física e a interação com familiares e amigos — é o daquelas que mostram traços culturais e étnicos e usam hashtags como #InstaTurkey (#InstaTurquia). Nas fotografias com referência à sexualidade e às questões de gênero, em sétimo lugar no volume de imagens postadas, o ativismo é explícito em termos do tipo #Trans­LivesMatter (#VidasTransImportam).

Onipresente no dia a dia contemporâneo, “selfie” foi escolhida a palavra do ano em 2013 pelo Dicionário Oxford. Apesar de o primeiro registro do termo, ocorrido num fórum de internet realizado na Austrália, datar de 2002, a selfie número 1 só foi postada em 2011 — a americana Jennifer Lee queria mostrar um suéter novo, clicou a si mesma vestida com ele e compartilhou a imagem. Em média, os millennials — quem se tornou adulto nos anos 2000 — gastam uma hora por semana em busca do ângulo perfeito para um autorretrato virtual. Cada integrante dessa geração deverá tirar 25 000 selfies ao longo da vida. “Enquanto a prática não interferir em outras atividades, como trabalho e estudos, não há problema em fazer parte dessa turma”, diz Nabuco, da USP.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540

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