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Um filho-bomba

O primogênito de Trump foi um elo da campanha com os russos — e ele tentou esconder isso, até ser flagrado por um estupendo trabalho de investigação

Por Johanna Nublat 13 jul 2017, 12h55

O rebento mais velho do presidente Donald Trump é uma réplica cuspida e escarrada do pai. Em mais de 19 000 tuítes, Donald Trump Jr., 39 anos, ataca com frequência a imprensa que cobre as estripulias do seu genitor. Como o seu pai, tem uma fixação pela rede de TV americana CNN. “Eles sempre serão número 1 em notícias falsas”, escreveu no início do mês. Assim como Trump pai, o filho é dado a hipérboles. Na campanha de 2016, Don Jr., como é chamado, publicou uma imagem de um pote de balinhas coloridas seguida da frase: “Se eu dissesse que apenas três entre estas o matariam, você pegaria um punhado? Esse é o problema dos refugiados sírios”. O jovem imita o pai em outra habilidade, a de armar bombas, ou autobombas, com efeitos devastadores.

A explosão mais recente veio à tona no sábado 8, quando o jornal The New York Times revelou que Don Jr. havia se encontrado com a advogada russa Natalia Veselnitskaya no 25º andar da Trump Tower, em Nova York, um piso abaixo do escritório de Trump, no dia 9 de junho de 2016, em plena campanha presidencial. Questionado pelo jornal no sábado, quando ainda não se sabia do teor da conversa com a russa, Don Jr. disse que eles haviam falado sobre o fim de um programa de adoção de bebês. Foi sua primeira versão. No domingo 9, quando o Times divulgou que a reunião fora marcada para tratar de informações russas contra a candidata Hillary Clinton, Don Jr. trouxe outra explicação. Afirmou que Natalia lhe teria dito que indivíduos ligados ao governo russo estariam financiando o Comitê Nacional Democrata, mas as informações eram “vagas, ambíguas e sem sentido”. Assunto resolvido? Que nada.

Ao saber que os incansáveis jornalistas do Times publicariam novas revelações sobre o caso, Don Jr. decidiu antecipar-se e, na terça-feira, divulgou várias mensagens trocadas com Rob Goldstone, um ex-jornalista de tabloide inglês que lhe propusera o encontro com a advogada russa. Também participaram da tal reunião o genro do atual presidente, Jared Kushner, e seu chefe da campanha, Paul Manafort. Todos para tratar de inofensivas adoções de bebês? Claro que não.

Nos e-mails, Goldstone apresenta Natalia como advogada do governo russo e promete revelar sujeiras da campanha de Hillary. “Isto obviamente é informação sensível e de muito ­alto nível, mas é parte do apoio da Rússia e seu governo ao senhor Trump”, escreveu. Goldstone afirmou que ele atuava a pedido de outros dois russos, o cantor pop Emin Agalarov e seu pai, Aras. Aras é próximo do Kremlin e conhecido de Donald Trump, pois levou o concurso de Miss Universo (patrocinado por Trump) à Rússia em 2013. Em um dos e-mails, Goldstone relatou que Aras se encontrara com um procurador russo, que teria oferecido à campanha de Trump documentos oficiais para prejudicar Hillary. Dezessete minutos depois, Don Jr. respondeu: “Se for o que você diz, vou adorar”.

Alguma dúvida de que a campanha de Trump buscou informações sigilosas junto aos russos? Em vários momentos, o presidente negou que sua equipe tivesse combinado algo com os russos. “Não há evidência de conluio entre a Rússia e Trump”, tuitou o presidente em maio. Além do chefe, pelo menos seis pessoas do primeiro escalão de sua equipe rejeitaram publicamente qualquer contato com enviados russos, com o presidente russo Vladimir Putin ou seus comandados. Os e-mails de Don Jr., porém, deixam claro o desejo russo de catapultar Trump à Presidência — e deixam claro também que os trumpistas mentiram abertamente.

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De longa data – Donald Trump e Emin Agarolov durante Miss USA em 2013 (Steve Marcus/Reuters)

Ainda que esteja no centro da questão, não existe crime de conluio tipificado na lei americana. Ao tentar enquadrar o arranjo com os russos na legislação, há quem fale em traição à pátria, mas há dúvidas, uma vez que tal delito só seria cabível em uma situação de guerra. Uma das possibilidades para Don Jr. é que, ao receber Natalia, ele tenha infringido a legislação eleitoral. Nos Estados Unidos, é proibido solicitar de um estrangeiro contribuição em dinheiro ou outra forma que tenha valor durante uma campanha. “É possível argumentar que o que Donald Trump Jr. fez se encaixa na definição de conspiração para violar a legislação eleitoral, que proíbe receber qualquer coisa de valor de um estrangeiro”, diz Jimmy Gurulé, professor de direito da Universidade de Notre Dame, que já atuou nos departamentos de Justiça e do Tesouro dos Estados Unidos. O simples fato de Don Jr. declarar que quer uma ajuda ou de ele se abrir para essa possibilidade já poderia lhe trazer problemas.

As trocas de e-mails com Goldstone e os detalhes da reunião na Trump ­Tower se somarão ao conjunto de provas que estão sendo recolhidas pelo procurador ­especial Robert Mueller. Por enquanto, não se pode dizer que Natalia tenha de fato entregado algo que veio a favorecer Trump. Também não parece haver vínculo entre a reunião e a divulgação de e-mails hackeados do comitê democrata pelo WikiLeaks, em julho do ano passado. Mas está claro que os Trump vêm mentindo para esconder contatos com os russos.

Publicado em VEJA de 19 de julho de 2017, edição nº 2539

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