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O adulto do Brexit

Ocupante do 2º cargo mais importante no governo britânico diz que o divórcio da União Europeia não é populismo e que o país quer se aproximar dos emergentes

Por Johanna Nublat Atualizado em 29 jul 2017, 06h00 - Publicado em 29 jul 2017, 06h00

Como ministro das Finanças inglês, Philip Hammond já foi chamado pela imprensa de “o adulto entre as crianças” e de “líder dos realistas” quando o assunto é Brexit, a opção feita pelos britânicos em um plebiscito em junho de 2016 para se separar da União Europeia (UE). Pouco mais de um ano após a decisão, que prometia “devolver” aos ingleses o controle do país, a situação é dramática. A economia começou 2017 enfraquecida e a premiê conservadora, Theresa May, está com o cargo por um fio depois de ter antecipado as eleições para o Parlamento. May queria conquistar nas urnas um respaldo maior à sua proposta de um “Brexit duro”, um desligamento quase total do bloco europeu, mas acabou perdendo a maioria. Como consequência, os ingleses agora discutem um punhado de alternativas possíveis de relacionamento com o bloco. No meio da confusão, há até quem cogite um retorno ao antigo casamento. Hammond, que ocupa o segundo posto mais importante do governo e é um dos cotados para suceder a May como premiê, não acredita em uma reconciliação. “Foi uma decisão clara do eleitorado britânico, e precisamos seguir em frente”, disse o ministro por telefone a VEJA. Nesta semana, ele chega ao Brasil para encontros com empresários e autoridades. A seguir, os principais trechos de sua entrevista.

POPULISMO

Para entender o Brexit, é importante olhar para a nossa história. Os britânicos sempre tiveram visões conflitantes sobre a UE. Muitos ainda se lembram do tempo em que integrávamos a Comunidade Econômica Europeia, que era apenas um mercado comum. Só depois essa instituição se transformou na UE, que é uma união mais política. Mas essa mudança nunca deixou os britânicos muito confortáveis. Desejar retornar ao estágio anterior não é necessariamente populismo. Durante a campanha do Brexit, jamais houve uma retórica contra o comércio ou contra a globalização, como vimos nos Estados Unidos (na eleição de Donald Trump). Os dois lados do debate sobre o plebiscito apoiaram fortemente a ideia de que a Inglaterra deveria renovar seus vínculos comerciais com o resto do mundo. A questão, portanto, era principalmente sobre equilibrar o peso relativo da Europa. Temos bons vínculos com o mundo, e há uma sensação forte até de que devemos nos aproximar das economias que mais crescem, em vez dos mercados maduros da Europa.

GLOBALIZAÇÃO

No mundo, as nações que mais crescem são as emergentes, como China, Índia e Brasil — bem, esperamos que o Brasil retome o ritmo rapidamente. Ao passo que isso acontece, essas economias se modificam e o apetite delas por serviços complexos e de alta qualidade, como os que oferecemos, também cresce. Sendo a quinta economia global, temos várias áreas importantes, como a de serviços financeiros, de consultoria internacional, de auditoria e de serviços legais. Dessa forma, vejo grandes oportunidades para todos.

BREXIT IDEAL

Assumimos o compromisso político de deixar a União Europeia em março de 2019. Isso vai acontecer. O desafio será fazê-lo de forma a minimizar transtornos e maximizar o potencial da economia britânica no futuro. No discurso que a primeira-­ministra, Theresa May, fez no começo do ano e em nossa carta à União Europeia, nós dissemos que queremos uma parceria profunda e especial com o bloco, um amplo acordo de livre-comércio e um acordo de cooperação aduaneira, para que bens possam fluir livremente entre a Inglaterra e a UE.

IMIGRAÇÃO

É verdade que nosso sucesso em muitas áreas está baseado em nossa capacidade de atrair um grande número de talentos de todo o mundo, e não apenas da UE. Obviamente, não temos uma fronteira totalmente aberta, mas as pessoas de fora do bloco com interesse em vir podem solicitar uma permissão de trabalho. Essas autorizações continuarão disponíveis.

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REDUÇÃO DO CRESCIMENTO

O principal fator que explica um crescimento menor do PIB é a inflação que temos no momento. Essa subida de preços foi o resultado da depreciação da moeda que ocorreu no ano passado. Depois do plebiscito, a libra esterlina se depreciou cerca de 15% em relação à cesta de moedas internacionais. Apesar de ter acontecido alguma recuperação, a libra ainda está significativamente baixa em relação ao dólar e ao euro. Como somos uma economia muito aberta, que importa comida e energia, isso elevou os preços e o custo de vida. Mas, felizmente, esse pico de inflação vai passar. Quando isso ocorrer, os salários reais recuperarão seu valor e haverá um novo aumento no consumo.

JUVENTUDE

Os jovens estão percebendo que não conseguirão as mesmas vantagens que seus pais tiveram. Muitos terão de arcar com dívidas depois da universidade, porque a forma como levantamos os recursos para a educação superior mudou. Atualmente, isso é feito por meio de financiamentos. Quando eu era estudante, o Estado oferecia a educação sem custos. Além disso, os jovens terão problemas para encontrar empregos com esquemas generosos de aposentadoria, algo que era a norma há trinta anos. Outro empecilho, ainda mais imediato, é que eles vêm tendo problemas para comprar uma casa, porque o preço da moradia está muito alto. Isso é uma dificuldade mesmo para aqueles na faixa dos 20 e 30 anos que têm um bom emprego. Assim, precisamos encontrar soluções para ajudá-los a acessar o mercado imobiliário e para que também possam ter a sua propriedade. Na campanha para as eleições antecipadas, nosso partido não havia percebido a dimensão dessas questões. Aprendemos com essa experiência e estamos nos reestruturando por causa disso.

AMBIÇÕES POLÍTICAS

Estou concentrado no trabalho de ser ministro das Finanças, que é uma tarefa bastante desafiadora. Estamos com as negociações do Brexit em curso, precisamos lidar com as incertezas que elas trazem à economia e ainda temos um grande desafio adiante, que é equilibrar novamente nossas finanças públicas depois da crise de 2009. Há muito trabalho pela frente, e estou ocupado com ele.

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2017, edição nº 2541

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