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Multa por excesso de velocidade

Essa corrida vertiginosa é um dos problemas do péssimo ensino

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 29 jul 2017, 06h00 - Publicado em 29 jul 2017, 06h00

Deu na Tribune de Genève: pilotan­do a sua Ferrari, um certo senhor cruzou um vilarejo a mais de 200 quilômetros por hora. Foi multado em 3 000 francos suíços e preso sem direito a fiança.

Como meu espírito hoje é incendiário, proponho penas terríveis para autores de currículos e ementas de curso que são longos demais, obrigando os alunos a percorrer os programas em excesso de velocidade. Multa e prisão para eles.

Segundo o meu guru A.N. Whi­te­head, não importa tanto o que ensinar, mas que seja sem­pre em profundidade. Concluo então que para aprender muito é preciso ensinar pouco. A velocidade é fatal.

A abundante pesquisa hoje disponível nos permite saber que se aprende pela repetição, seja o saque do tênis, a ortografia, os verbos irregulares ou a elegância no escrever. Se é assim, aprendizado é função do tempo dedicado a praticar. Sem a repetição, apenas pensamos que aprendemos, mas continuamos sem saber. É a diferença entre ouvir falar e realmente dominar algum conhecimento.

Esse princípio nos leva a uma aritmética inelutável: se há coisas demais para aprender, por importantes que sejam, o tempo será repartido e insuficiente para cada uma. Assim sendo, o grande inimigo da educação é o excesso de velocidade com que avança a Ferrari curricular.

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Mas é pior do que isso, pois gostamos do que entendemos e nos sentimos frustrados com o que não entendemos. Portanto, como ideias novas não entram instantaneamente na nossa cabeça, a primeira reação é negativa. Se batalhamos com elas, começamos a entender e, eureca, começamos também a gostar. Para que isso aconteça, é preciso que haja tempo.

Se o ensino roda com excesso de velocidade, passamos ao tema seguinte sem haver entendido o anterior. Portanto, é abandonado antes de começarmos a gostar dele. Ao fim do ano, não gostamos de nada e não aprendemos nada.

Deveria ganhar uma medalha o professor que arroste o sistema e ensine cuidadosamente apenas um terço da ementa de sua disciplina. Seus alunos saberão mais do que os outros.

Por que a Fórmula 1 dos currículos e ementas? Parece que os seus fabricantes pensam que o aluno só tem o assunto dele para estudar. Ademais, faz parte da nossa cultura acadêmica propor cursos para gênios, não para os alunos comuns, como se faz no Japão ou nos Estados Unidos.

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Como não tenho dúvida de que essa corrida vertiginosa é um dos problemas do nosso péssimo ensino, insisto na multa e na prisão por excesso de velocidade para quem cometer esse crime de lesa-pátria.

Tenho mais uma sugestão (politicamente incorreta): o ministro da Educação e o presidente do Inep deveriam sempre se submeter oficialmente ao Enem e ter as suas notas postadas na internet. Desta forma, experimentariam de primeira mão o turbilhão de matérias que se enfia goela abaixo nos alunos do ensino médio. Quem sabe, isso aumentaria a sua motivação para multar os infratores?

Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2017, edição nº 2541

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