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Guerra de palavras

Trump e Kim Jong-un, da Coreia do Norte, abusam das declarações explosivas, mas ambos têm ótimas razões para evitar um confronto nuclear

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 ago 2017, 06h00 - Publicado em 12 ago 2017, 06h00

A julgar pela virulência dos petardos verbais trocados entre o presidente americano Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un, o planeta está a poucos minutos de uma guerra nuclear. “É melhor a Coreia do Norte não fazer mais ameaças aos Estados Unidos. Ela terá pela frente fogo e fúria como o mundo jamais viu”, esbravejou Trump na terça-feira 8. Um dia depois, os norte-coreanos emitiram um comunicado: “O Exército está analisando seriamente um plano para atacar (a ilha americana) Guam com o uso simultâneo de quatro foguetes Hwasong-12 para interditar as forças do inimigo nas bases militares e enviar um alerta crucial aos Estados Unidos”. A declaração desce a detalhes como o trajeto que seria percorrido pelos quatro artefatos: eles voariam 3 356 quilômetros em menos de dezoito minutos e cruzariam os céus sobre as “províncias japonesas de Shimane, Hiroshima e Kochi” (no oeste do arquipélago). O plano para executar a agressão estaria concluído em meados deste mês, quando seria entregue ao “comandante em chefe da força nuclear”, o Grande Sol do Século XXI — um dos epítetos de Kim Jong-un. Até o momento, nada indica que algum dos dois esteja falando sério.

O jornal francês Libération fez uma montagem espirituosa com o cabelo de Trump e o rosto de Kim para simbolizar como os líderes estão intrincados e se parecem, sobretudo, no que diz respeito ao interesse imediato: ameaçar, mas sem dar passos concretos na direção do confronto. Trump não enviou mais soldados para a região nem corrigiu o rumo de seus navios de guerra. Em abril, quando ele afirmou estar mandando uma poderosa armada na direção da Coreia do Norte, a reação de Kim veio no costumeiro tom tonitruante — prometeu “devastar impiedosamente” os Estados Unidos em caso de ataque de Washington. Trump, no entanto, foi flagrado dias depois na mentira — a tal armada estava bem longe, em exercícios militares na Austrália.

Trump e Kim Jong-un sabem que, na hipótese de uma guerra, ambos teriam muito a perder. Para o ditador, o principal temor diz respeito à própria sobrevivência e à de seu regime. Seu arsenal nuclear é seu escudo. Na semana passada, o jornal The Washington Post revelou que os norte-­coreanos conseguiram miniaturizar uma ogiva nuclear capaz de ser transportada por um de seus mísseis. Até então, a maior parte dos analistas acreditava que só dentro de alguns anos o país teria sucesso em projetar uma ogiva compacta o suficiente para ser acoplada a um míssil intercontinental. A reportagem do Post baseou-se em documentos secretos do governo americano. Diz Brian Finlay, do centro de pesquisas em segurança Stimson, de Washington: “Já não se trata de saber se o mundo pode conviver com uma Coreia do Norte montada em armas nucleares, o que parece ser uma evidência, mas como aprenderemos a lidar com essa condição”.

Com popularidade em baixa, Trump poderia se sentir tentado a fazer o que já fizeram outros presidentes americanos para melhorar a sua imagem — criar um fato novo, preferencialmente bélico. A dissuadi-lo da ideia está, entre outras coisas, a imprevisibilidade da reação norte-coreana, cujo arsenal se encontra montado em plataformas móveis, algumas de localização desconhecida. “A hipótese de a disputa se alongar e provocar muitas vítimas americanas teria um custo alto para Trump”, diz Benjamin Valentino, professor de relações internacionais na Universidade Dartmouth. Até o momento, esse cenário está mais distante do que fazem supor os insultos hiperbólicos vindos dos dois lados. A guerra, por enquanto, é para ver quem grita mais alto.

Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2017, edição nº 2543

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