Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Femme fatale por natureza

Jeanne Moreau, que morreu na segunda-feira (31) em Paris, sobrepôs-se até a Brigitte Bardot e a Catherine Deneuve como o grande ícone do cinema de seu país

Por Isabela Boscov Atualizado em 5 ago 2017, 06h00 - Publicado em 5 ago 2017, 06h00

Os lábios cheios mas de expressão severa, os olhos de alcova, o ar de desafio ou, às vezes, de um enfado tipicamente gaulês: com uma personalidade que agigantava o seu miúdo 1,60 metro de altura e um talento moderno, que eletrizava a tela com suas contracorrentes, Jeanne Moreau foi uma combinação turbulenta de feminilidade — ela era razoavelmente bonita, mas absolutamente sedutora; matéria-pri­ma de fantasias masculinas, mas também a encarnação de uma independência irredutível de corpo e espírito. Jeanne era a mulher que, entre o marido e um amante, escolhia o último, sem revelar nenhum traço de remorso ou temor (em Amantes, de 1958, de Louis Malle) — ou que, entre dois amantes, escolhia a ambos (em Uma Mulher para Dois, de 1962, de François Truffaut). Não é acaso que ela se tenha tornado a atriz-símbolo da nouvelle vague francesa: um novo cinema exigia uma nova estirpe de protagonista, tão livre e anticonvencional quanto ele próprio.

Passei a vida tentando provar a meu pai que tinha razão em querer ser atriz.

Jeanne Moreau (1928-2017)

Jeanne, que morreu na segunda-fei­ra 31 em Paris, aos 89 anos, de causas naturais, decidiu que seria atriz aos 15 anos, assistindo a uma montagem da tragédia grega Antígona. Mas, ao comunicar sua decisão ao pai, levou um tapa na cara — e o tomou como encorajamento para fazer de si o que bem entendesse. Aos 20 anos, tornou-se a mais jovem integrante regular da história da Comédie-Française. A despeito da década de consagração que teve nos palcos da Comédie e do Teatro Popular Nacional, para onde migrou em seguida, foi no cinema que sua singularidade se mostrou plenamente. Atriz de minúcias quase abstratas, que desde a juventude irradiava uma sexualidade madura e uma força que não raro submergia os companheiros de cena, Jeanne sobrepôs-se até a Brigitte Bardot e a Catherine Deneuve como o grande ícone do cinema de seu país. Em 1973, já na maturidade, veio ao Brasil para filmar Joanna Francesa, sob a direção de Cacá Diegues — e consta que enlouqueceu todos os homens a sua volta. Jeanne Moreau não tinha idade. Era uma femme fatale por natureza.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2017, edição nº 2542

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.