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Entre dois mundos

Não fosse sua concessão aos efeitos de praxe, 'It — A Coisa' seria um exemplar do 'pós-terror' atual, em que o sobrenatural é um reflexo psicológico

Por Isabela Boscov Atualizado em 8 set 2017, 06h00 - Publicado em 8 set 2017, 06h00

It — A Coisa (It, Estados Unidos, 2017), já em cartaz no país, oferece os efeitos especiais de praxe — corpos em decomposição, pinturas soturnas que ganham vida, bocas que revelam fileiras de dentes medonhos. Mas o filme do argentino Andy Muschietti, de Mama (2013), o faz com jeito de que cumpre uma obrigação. Sua cabeça e seu coração estão em outro lugar: nos terrores cotidianos, reais e por isso mesmo avassaladores, vividos pelos “otários” — o grupo de seis garotos e uma garota que, em 1989, sofre bullying na escola e, fora dela, é atormentado por Pennywise, um demônio em forma de palhaço. Há décadas Pennywise (uma ótima atuação de Bill Skarsgard) escraviza a cidadezinha de Derry, atraindo crianças para então devorá-las. Ele tem o dom perverso de adivinhar medos ocultos e conjurá-los em visões. No caso dos “otários”, a matéria-prima é farta: perdas trágicas, abuso sexual, violência doméstica, pais que imaginam doenças nos filhos. Aos 13 anos, os protagonistas tentam se defender de um mundo adulto em que prevalecem a indiferença, a neurose e a truculência. Seu desamparo só não é completo porque eles têm uns aos outros — e aí está o verdadeiro assombro: na força de sua cumplicidade.

Adaptado da criação do escritor Stephen King, It rompe com o clima censura livre da minissérie de 1990. Com sua câmera desenvolta, o diretor mergulha nos pavores da vulnerabilidade, e também no senso de aventura desse verão em que os “otários” vão cruzar o limiar entre a infância e a vida adulta. É Conta Comigo — uma das melhores versões já feitas de um livro de King — com imagens de terror ora banais, ora evocativas, e com um elenco excelente, encabeçado pelos jovens Jaeden Lieberher, Sophia Lillis, Finn Wolfhard e Jeremy Ray Taylor. It está ele próprio num limiar, indeciso entre cruzá-lo ou não. No íntimo, é um legítimo “pós-terror” da leva atual, em que o sobrenatural é um reflexo distorcido do psicológico. Na forma, porém, não tem coragem de dispensar as convenções e tornar-se a criatura que verdadeiramente quer ser.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2017, edição nº 2547

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