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Eles não estão nem aí

Em meio à crise política, o mercado permanece em paz. Motivo: para os executivos, o essencial é a agenda de reformas, e não a manutenção do atual presidente

Por Giuliano Guandalini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jul 2017, 14h09 - Publicado em 13 jul 2017, 12h54

O mercado não está nem aí para o presidente Michel Temer. Pouco importa se o ocupante do Palácio do Planalto é Temer ou o deputado Rodrigo Maia, candidatíssimo à sucessão. Na avaliação de empresários e executivos do mercado financeiro, o fundamental é perseverar nas reformas (e é isso que deverá ocorrer caso Maia assuma o comando do Planalto). Enquanto as políticas de ajustes continuarem sendo aplicadas, o país contará com uma boa dose de complacência dos investidores. Essa percepção explica a tranquilidade dos agentes financeiros nos últimos dias, a despeito do desgaste diário a que foi submetido o presidente. Sem dúvida, o mercado, antes dependente de Temer, descolou-se dele.

(Arte/VEJA)

Logo depois das denúncias de Joesley Batista, em maio, a primeira reação dos investidores foi negativa. A bolsa de valores despencou, e o dólar subiu, como pode ser visto no gráfico abaixo. Nas semanas seguintes, com a situação de Temer ficando cada vez mais precária, o pânico foi se dissipando. A cotação do dólar voltou ao valor pré-Joesley. (Contribuiu para a queda do dólar e a recuperação da Bovespa a condenação de Lula pelo juiz Sergio Moro, na quarta-feira.)

Embora concreta, a placidez do mercado financeiro não significa que a economia tenha se desvinculado por completo do noticiário político. Quer dizer apenas que, apesar das agitações e convulsões de Brasília, não se vê sinal, ao menos no curto prazo, de reedição de uma política econômica à moda Dilma Rousseff. A administração das estatais foi aprimorada, o Banco Central voltou a combater a inflação e os tempos de  pedaladas e manobras contábeis ficaram para trás. “Há duas coalizões no Congresso. Uma em defesa das reformas e a outra em defesa de Temer”, diz o analista João Augusto de Castro Neves, diretor da consultoria Eurasia. “Essas coalizões não andam necessariamente juntas.”

Na semana passada, por exemplo, a reforma trabalhista foi aprovada pelo Senado. É o tipo de notícia que contribui para a relativa boa vontade com a qual o Brasil é visto hoje, tanto entre investidores brasileiros como estrangeiros, ainda que seja cedo para antecipar uma retomada vigorosa do crescimento. Muito mais do que Temer, são tidos como fiadores da estabilidade o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Resume o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido: “O mercado entende que o importante é manter a equipe econômica, principalmente Meirelles e Ilan, e preservar o comando das estatais. Maia já sinalizou que deve fazer isso, então não houve nenhuma reação significativa nos últimos dias”.

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Reservadamente, executivos comentam que, nas atuais circunstâncias, Temer se tornou na verdade um obstáculo para as reformas econômicas. Sua prioridade tem sido a própria defesa no processo de corrupção aberto pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. É aí que o presidente gasta o seu capital político, e não na articulação de projetos espinhosos, como é o caso da reforma da Previdência. Mesmo que ele sobreviva à primeira denúncia, a ser avaliada pelos deputados, Janot disse que fará pelo menos outras duas denúncias, o que poderá arrastar o impasse até outubro. “Não há a menor possibilidade de retomar a tramitação desse projeto enquanto não houver definição sobre a situação de Temer”, diz um banqueiro.

Conta a favor do Brasil o atual cenário externo. A economia mundial passa por um período de aceleração do crescimento, o que ajuda na valorização dos produtos locais no mercado internacional. Os juros nos países ricos, ao mesmo tempo, permanecem historicamente baixos. Esse conjunto de fatores contribui para a entrada de dólares por aqui.

Olhando mais adiante, existem duas visões distintas sobre a economia brasileira. Para alguns observadores, há um risco elevado de o país voltar às políticas populistas, especialmente no caso de uma eventual vitória de Lula em 2018. Se for esse o caso, haverá uma reversão instantânea dos mercados. A benevolência chegaria ao fim, o que significaria um tombo da bolsa e a disparada do dólar. Outra corrente, entretanto, acredita que a situação fiscal brasileira é tão grave que não existe espaço para populismo. “A própria Dilma, antes de perder o cargo, tentou fazer o ajuste”, afirma Tony Volpon, economista do banco UBS Brasil. “Existe um equilíbrio político que favorece a realização de reformas. Algumas, como a da Previdência, poderão ficar para 2019.”  Mas, para o mercado, isso pouco importa. Hoje existe uma convicção de que o Brasil passará por um processo lento de ajustes e reformas — com ou sem Temer.

Publicado em VEJA de 19 de julho de 2017, edição nº 2539

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