Carta ao Leitor: Direto da fonte
O resultado do empenho de quatro repórteres é exemplo do bom jornalismo com que o leitor pode se deliciar
A engrenagem que, toda semana, coloca VEJA nas mãos de 1,2 milhão de assinantes da revista em papel e em formato digital começa a mover-se na manhã de segunda-feira. Uma reunião de pauta define os assuntos mais importantes de todas as editorias e, encerrada a discussão, dezenas de repórteres se entregam à missão de apurá-los — dentro ou fora da redação, no Brasil ou no exterior. Uns entrevistam, alguns leem, outros pesquisam, cada qual em busca dos melhores meios de obter dados mais relevantes para suas reportagens, sem contar o trabalho dos videofotógrafos e artistas gráficos.
Na semana passada, enquanto a repórter Nathalia Watkins, 34 anos, descia a favela do Morro de Petare, uma das maiores de Caracas, acompanhando manifestantes que se hostilizavam com xingamentos e pedras de gelo, a repórter Luisa Bustamante, 29 anos, subia morros e favelas no Rio de Janeiro em busca de informações sobre o cotidiano dramático das escolas em áreas de extrema violência. Ao mesmo tempo, enquanto a repórter Marcela Mattos, 29 anos, percorria os principais gabinetes do Congresso Nacional recolhendo elementos para dimensionar os rumos da crise política, a repórter Raquel Carneiro, 33 anos, sentada a uma mesa atulhada de Bíblias de diversos formatos e denominações, tentava entender as diferentes edições à sua frente.
O resultado do empenho das quatro repórteres, que contaram com a ajuda de seus colegas, é um exemplo do bom jornalismo com que o leitor pode agora se deliciar:
• A partir da página 40, está o saldo do trabalho de Marcela Mattos, que informa sobre os abalos recentes do governo de Michel Temer e a possibilidade de queda do presidente, agravada pelos primeiros sinais de que o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, começou a se movimentar no sentido de suceder a Temer em caso de deposição.
• A reportagem de Nathalia Watkins, que começa na página 46, mostra que a Venezuela parece ter chegado aos estertores de uma vida civilizada. Nathalia já esteve lá outras vezes, mas achou que agora as coisas estão piores. “Nunca senti o país tão convulsionado”, diz.
• O texto de Luisa Bustamante pode ser lido a partir da página 68. Com seu olhar agudo de boa repórter, ela faz um rico relato das espantosas dificuldades que as crianças das favelas enfrentam para simplesmente ir à escola. Luisa viu marcas de tiros, bocas de fumo nas esquinas, traficantes armados nas calçadas, professores impotentes. Mas o que mais a abalou foram os depoimentos das crianças. Diz ela: “É impressionante a naturalidade com que falam de tiros, de armas e de morte”.
• Na página 86, Raquel Carneiro escreve sobre suas conclusões depois de mergulhar no mercado de Bíblias e também revisa a longa história das traduções do livro. No lado popular, a Bíblia nunca foi tão moderna, e agora pode ser lida até em aplicativos de celular. No lado erudito, uma boa notícia: finalmente, o português vai ganhar a primeira tradução integral da Bíblia grega.
Boa leitura.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2017, edição nº 2538