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Abertos a não hóspedes

Que dormir, que nada. Esvaziados pela crise, os hostels se reinventam como pontos de festas e baladas para quem quer se divertir muito e gastar pouco

Por Isabela Izidro Atualizado em 13 out 2017, 06h00 - Publicado em 13 out 2017, 06h00

Rio de Janeiro, começo de noite, balada que se estende pela calçada, gente jovem e animação. É um bar? Um boteco? Um quiosque na praia? Não, é um hostel se reinventando. Em tempos de crise geral na hotelaria nacional, os hostels, um tipo de empreendimento que teve vigorosa disseminação no Brasil por causa da Copa do Mundo e da Olimpíada, lançaram as mesmas iscas que sempre usaram para atrair hóspedes: visual descolado, preços baixos e diversificação da clientela. Por “diversificação da clientela” entenda-se que os hostels passaram a abrir para não hóspedes, que podem usufruir bar com drinques a preços moderados, participar de festas temáticas e até alugar as instalações para casamentos e aniversários. Com tudo isso, criou-se um novo ponto de encontro em diversas cidades brasileiras.

Para conciliar hospedagem com balada, a maioria desses albergues simplesinhos, com quartos coletivos e banheiro no corredor, feitos para acomodar jovens mochileiros, costuma firmar parcerias com restaurantes, bares e cervejarias. Boa parte da diversão é organizada pela própria direção do hostel: em dois ou três dias por semana, geralmente na quarta e na quinta, o bar fica aberto para quem quiser beber e se divertir, com música ao vivo, drinques e comidinhas, em promoções que reúnem principalmente gente na faixa dos 25 aos 35 anos. Os fins de semana são tomados por festas privadas de aniversário, despedidas de solteiro e “mini-­weddings”, como são anunciados os casamentos para poucos convidados.

Aniversariantes e noivos ganham duplamente — como o espaço acomoda em geral umas cinquenta pessoas, eles têm a desculpa perfeita para não convidar a família toda; e o aluguel, sem comida nem decoração, fica na faixa dos 600 reais, uma pechincha. A consultora comercial Patrícia Silveira, de 45 anos, se encaixa nos dois perfis. No hostel Califórnia, situado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, comemorou primeiro seu aniversário, em 2015. Gostou e voltou — realizou lá sua festa de casamento, no começo deste ano. “O hostel me passa a ideia de que estou no quintal da minha casa, me dá liberdade para fazer umas produçõezinhas, e o custo é ótimo”, elogia.

No We Hostel, na Vila Mariana, também em São Paulo, espaço com fachada de casa antiga, decoração caprichada e diárias a partir de 40 reais, o empresário Guilherme Perez vem pondo o conceito em prática com sucesso. “Hoje, a frequência de fora é bem mais importante que a de hóspedes”, diz. Mais de 70% do faturamento local se deve à locação para festas e ao bar — instalado em um quintal cercado de trepadeiras. É um movimento sem fronteiras. “Do jeito que as coisas estão, temos de pensar em atividades diferentes para fidelizar o cliente”, concorda Leonardo Escudero, dono do Ramon Hostel, um espaço de pretensões mexicanas decorado com redes e paredes de cores fortes, no Recife.

Parabéns – Festa de criança em hostel de São Paulo: impulso no faturamento (Jefferson Coppola/VEJA)

Conceito criado na Alemanha, no início do século passado, como forma de turismo para jovens de poucos recursos que se encarregavam inclusive da limpeza e da cozinha, os hostels se expandiram pelo mundo todo como sinônimo de hospedagem simples e acessível. No Brasil, as disputas esportivas fizeram seu número explodir — mas aí veio a desaceleração da economia e do turismo, e os quartos se esvaziaram. De 2014, o ano da Copa do Mundo, até agora, passando pelos Jogos Olímpicos, em 2016, a taxa média de ocupação dos hostels no Brasil caiu quase pela metade, de 72% para 40%. O Estado do Rio de Janeiro, que se tornou polo magnético de más notícias, foi o mais afetado. O número de albergues, que havia subido de 210 para 348 antes dos Jogos, registrou 38 portas fechadas até maio deste ano.

O baque foi maior que o esperado. “Sentimos muito a recessão. Sabíamos que o movimento iria cair depois da Olimpíada, mas ninguém esperava que fosse tanto”, desabafa Beth Agra, proprietária do Contemporâneo Hostel, em Botafogo, Zona Sul do Rio, que instalou seu bar em um contêiner estacionado na área externa e o mantém aberto ao público em geral. Entre outros chamarizes, o Contemporâneo também organiza, em parcerias com festivais, suas concorridas exibições de curtas-metragens. Os filmes são projetados na parede do prédio em sessões gratuitas, com cadeiras na calçada, enquanto o bar funciona a pleno vapor. Sim, há vizinhos (e hóspedes também) que reclamam do barulho noite adentro. Em conversas com os incomodados, os donos do negócio argumentam que o maior movimento em seus estabelecimentos ajuda a recuperar o entorno. “Eu mesma já fui falar com os vizinhos e lembrar que, quando chegamos à rua, ela era cheia de mendigos. Agora tem iluminação e a polícia passa com maior frequência”, aponta Beth. É verdade que as viaturas às vezes vêm avisar que o som está alto demais. Mas isso, afinal, faz parte de ser hostel.

Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2017, edição nº 2552

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