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A derradeira tacada

Acossado pela Lava‑Jato e politicamente isolado, Aécio Neves destitui Tasso Jereissati da presidência do PSDB, implode o partido e parte para o tudo ou nada

Por Ana Clara Costa Atualizado em 10 nov 2017, 13h40 - Publicado em 10 nov 2017, 06h00

Menos de 24 horas depois de ter oficializado a sua candidatura ao comando do PSDB, o presidente interino da sigla, o senador cearense Tasso Jereissati, recebeu em seu gabinete uma visita inesperada do ex-aliado e atual desafeto Aécio Neves. O senador mineiro, afastado do comando do partido desde que foi flagrado achacando em 2 milhões de reais o empresário Joesley Batista, comunicou ao colega que, para concorrer à presidência da sigla em 9 de dezembro, seria recomendável que cedesse o cargo de interino a Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB. Surpreso, Tasso disse que não faria isso. Aécio, então, declarou que, na condição de presidente afastado, estava naquele momento destituindo o cearense do cargo de presidente interino. A discussão que se seguiu a partir daí, aos berros, pôde ser ouvida nos corredores.

Tasso Jereissati foi o último a tomar conhecimento da decisão de Aécio. No dia anterior, o mineiro havia telefonado para o governador Marconi Perillo, concorrente de Jereissati no pleito do dia 9, para avisá-­lo sobre o que faria. Em seguida, ligou para Goldman, em São Paulo, e pediu-­lhe que voasse para Brasília na manhã seguinte. Quando Aécio chegou ao gabinete de Tasso, às 15 horas, todas as providências para o comunicado da destituição do cearense e da nomeação de Goldman já estavam tomadas. Uma hora depois, ele fez o anúncio.

Com essa última tacada, o senador mineiro tentou evitar o que o destino pode lhe reservar de pior: o fim de sua influência no partido que representou em 2014 como candidato à Presidência da República e a sua transformação em um simples membro da bancada de Minas da legenda. A vitória do governador Marconi Perillo no dia 9 é a única chance de sobrevida que ele tem no momento. Perillo tinha o apoio declarado da bancada mineira e da goiana, o que nem de longe garante sua eleição. Tasso é apoiado pela maioria da bancada paulista e conta com a chancela de grão-tucanos como Fernando Henrique Cardoso e do grupo tucano conhecido como cabeças-pretas, formado por deputados que pregam uma “higienização” do partido — o que inclui o desembarque do governo Temer e a expulsão de Aécio da sigla. No Senado, a candidatura de Tasso Jereissati só não tem o apoio da bancada mineira.

Ao destituir Tasso, Aécio pretende reduzir a chance de eleição do cearense, que vem catalisando o apoio dos setores mais jovens do PSDB com um discurso de “salvação” do partido e “reconexão com as ruas”. Já Perillo, apoiado também pelos ministros que não querem desembarcar do governo, propaga a ideia de manter as coisas como estão — inclusive as erradas. No centro, corre o governador Geraldo Alckmin, que, na última hora, resolveu embarcar na disputa com o intuito de usar a presidência da sigla para se fortalecer para 2018. Oficialmente, o governador nega pleitear o cargo. Mas, nos bastidores, está no jogo. Tanto ele como Perillo são investigados na Lava-Jato.

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Ao anunciar sua candidatura na manhã de quarta-feira, o senador cearense, com um estudo feito pela consultoria Ideia Big Data em mãos, apresentou seu projeto para recuperar a imagem da legenda, que inclui a criação de um código de ética e a fiscalização de práticas internas. “O PSDB tinha credibilidade. Muita gente não votava no partido, mas o respeitava. Isso não acontece mais”, diz. Os últimos episódios mostram que a missão de resgatar esse passado não é fácil. Antes de perguntar quem vai salvar o PSDB, seria o caso de saber se ele tem mesmo salvação.

Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2017, edição nº 2556

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