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Proposta de delação da Delta Engenharia cita PMDB e PSDB

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) estão entre os políticos que teriam recebido propinas da construtora

Por Da redação
19 out 2016, 09h18

O empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta Engenharia, negocia um acordo de delação premiada no qual pretende detalhar supostos pagamentos de propinas a políticos do PMDB e do PSDB relacionados a obras nos governos de São Paulo, Rio e Goiás, além de estatais federais como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Petrobrás. O acordo de colaboração se dá no âmbito da Operação Saqueador, da qual o empresário foi alvo em junho deste ano.

Na proposta, em forma de anexos, entregue aos procuradores do Ministério Público Federal do Rio e à Procuradoria-Geral da República, Cavendish, ao tratar de São Paulo, cita pagamentos indevidos que seriam destinados ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), segundo fontes com acesso às negociações.

A empreiteira integrou consórcio responsável por um dos lotes da obra de ampliação da Marginal Tietê, que foi alvo de denúncia do Ministério Público de São Paulo. A investigação apura o pagamento de um aditivo de 71 milhões de reais à Delta que teria sido repassado a empresas de fachada em nome do operador Adir Assad, alvo da Operação Lava Jato. Um dos responsáveis pela obra era o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira Souza, afilhado político de Nunes Ferreira. À época da assinatura dos aditivos, Vieira Souza não era mais diretor da estatal paulista

A obra, realizada entre 2009 e 2011, foi resultado de um convênio firmado entre o governo de São Paulo, à época comandado pelo atual ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), e a gestão municipal de Gilberto Kassab (PSD). A Delta recebeu ao todo 360 milhões de reais para a execução do lote 2, com abertura de vias da Ponte das Bandeiras, no centro, até a Rua Ulisses Cruz, próxima ao Parque do Piqueri, na Zona Leste.

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Maracanã

No anexo sobre o Rio, Cavendish detalha sua relação com o ex-governador do Estado Sérgio Cabral (PMDB) e desvios praticados para obter contratos de obras, como a reforma do Estádio do Maracanã, do Parque Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, realizado com dispensa de licitação, e da transposição do Rio Turvo. À época da Operação Monte Carlo, quando surgiram pela primeira vez as suspeitas sobre a relação de Cavendish e Cabral, o ex-governador Anthony Garotinho chegou publicar fotos do empresário, do ex-governador e integrantes do governo carioca em momentos de descontração em Paris e Mônaco.

No caso da reforma do Maracanã para a Copa de 2014, o suposto pagamento de propina já foi citado em delação premiada pelos executivos Rogério Nora de Sá e Clóvis Peixoto Primo, da Andrade Gutierrez. Segundo os delatores, Cabral teria cobrado 5% de propina do valor total do contrato para liberar a formação do consórcio entre Andrade, Odebrecht e Delta. Orçada inicialmente em 720 milhões de reais, a obra custou cerca de 1,2 bilhão de reais. O ex-governador nega ter recebido os valores. Em outro anexo, Cavendish também detalha uma série de pagamentos para parlamentares federais e estaduais do PMDB.

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Outro anexo da proposta relata supostos desvios praticados em Goiás, onde firmou contratos com o governo do tucano Marconi Perillo e municípios do Estado que somam ao menos 276 milhões de reais.

O empresário também detalha na proposta de colaboração supostas irregularidades para obter contratos com o Dnit. No anexo, ele explica como se deu o pagamento de vantagem indevida na disputa por obras de ao menos quatro rodovias federais – as BRs 482, 376, 104 e 101. A proposta é o primeiro passo para a delação, que precisa ser aceita pelo Ministério Público.

Prisão

Cavendish teve sua prisão decretada em 30 de junho pela Justiça Federal do Rio. Sua prisão temporária chegou a ser transformada em domiciliar, mas o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região decidiu pelo retorno do empresário ao regime fechado. Em agosto, porém, ele foi beneficiado por decisão do Superior Tribunal de Justiça e voltou para a prisão domiciliar.

Ao lado de Assad e do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, Cavendish foi denunciado na Operação Saqueador por envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro de cerca de 370 milhões de reais.

Os três já haviam sido citados na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal de Goiás. O caso foi encaminhado para a Justiça Federal do Rio que, em 2013, realizou a primeira fase da Saqueador. A partir de 2015, com o surgimento do nome de Adir Assad na Lava Jato, a investigação teve novo impulso e resultou na realização de sua segunda fase, na qual Cavendish foi preso.

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Atual líder do governo Michel Temer no Senado, o tucano Aloysio Nunes Ferreira afirmou que não tem contato com Fernando Cavendish e que qualquer menção a pagamentos indevidos relacionados ao seu nome é “mentira”. O senador afirmou ainda que ex-diretor da Dersa Paulo Vieira Souza é um “técnico e profissional altamente qualificado”, mas negou ser seu padrinho político. Procurado, Vieira Souza não foi encontrado.

Por meio de sua assessoria, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) informou que “não há o que comentar” sobre o assunto.

O advogado Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, responsável pela defesa de Cavendish, também afirmou que não comentaria o assunto. Por meio de sua assessoria, a Procuradoria-Geral da República informou que não comenta eventuais negociações de acordo de colaboração.

Em nota, o governador de Goiás Marconi Perillo informou que “as informações apresentadas não têm a menor procedência”. Segundo o texto, “conforme pode ser comprovado nas prestações de contas de 2010, aprovadas pela Justiça Eleitoral, a Delta não fez doações para a campanha do então senador Marconi Perillo”.

(Com Estadão Conteúdo)

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