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Perito de Temer diz: ‘não garanto a autenticidade da gravação’

Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente para desqualificar áudio gravado pelo empresário Joesley Batista, aponta 60 pontos potenciais de edição

Por Felipe Frazão
Atualizado em 22 Maio 2017, 21h41 - Publicado em 22 Maio 2017, 18h29

Contratado pela defesa do presidente Michel Temer (PMDB), o perito Ricardo Molina divulgou na noite desta segunda-feira análise em que contesta a autenticidade dos áudios feitos pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS “Não garanto a autenticidade da gravação”, disse Molina a VEJA instantes antes de divulgar os resultados de sua perícia. “É uma gravação tão contaminada que não pode ser levada a sério. Ela só está sendo levada a sério pelo contexto político que a circunda. A Procuradoria é ingenua e incompetente. Aquilo é coisa de leigo e que não sabe mexer em áudio. Eles se esconderam atrás de frases como “índice provável de confiabilidade”. Essas duas pessoas [analistas do Ministério Público Federal] não entendem nada de áudio”, disse.

Segundo o perito, existem cerca de 60 pontos potenciais de edição. “Não dá para dizer que é edição. Tem alguma falha sistêmica neste gravador”, afirmou. “A questão é: dá pra garantir que é autêntica? Não”. “Há inúmeras portas na gravação para quem queira fazer uma edição”, disse o perito, que afirmou a categoricamente que a gravação “não é a original”.

(Felipe Frazão/VEJA/VEJA)

Em um hotel de Brasília, onde apresentou as avaliações de sua análise preliminar sobre os áudios, Molina chegou a comparar a gravação feita pelo delator a uma carne em que parte esteja contaminada. “Carne podre a gente joga fora”, atacou. Em suas conclusões, o perito afirmou que o áudio apresentado pelo empresário Joesley Batista é “uma gravação inteiramente contaminada por inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruídos, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa e várias outras incertezas não poderia ser considerada como prova material válida”. De acordo com ele, “existem inúmeros pontos na gravação nos quais se poderia efetuar, sem deixar qualquer vestígio, uma edição envolvendo corte de material original. Nenhum perito no mundo descobriria isso”.

Ao anunciar o resultado de sua avaliação, Molina criticou a “pressa de transcrições de todo tipo” e disse que, no caso de provas materiais, não existe “prova mais ou menos boa”. “Ela deveria ser considerada imprestável desde o primeiro momento. Há eventos suspeitos. Estou inclinado a dizer que sim [foi manipulada]”, declarou.  Ele ainda questionou o critério do Ministério Público Federal para adotar a gravação como peça do inquérito para dar partida à investigação: “Por que a PGR [Procuradoria-Geral da República] se apressou em publicizar uma gravação tão nitidamente corrompida antes de submetê-la a uma perícia técnica rigorosa?”. Molina ainda afirmou que adotou critérios adotados universalmente nesse tipo de gravação para analisar os áudios apresentados por Joesley em seu acordo de delação premiada e atacou: “Perito não deve ficar fazendo força para provar a autenticidade. Se a prova é ruim, a prova é ruim”.

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“Se essa gravação não tivesse problemas, não estaríamos discutindo aqui. Qualquer gravação contínua do início ao fim não cria esse tipo de discussão. Essa gravação tem problemas e problemas detectadas até por leigos”, disse. Segundo ele, há um “otimismo de leigo” na avaliação do Ministério Público sobre a credibilidade da gravação. Molina destacou que sequência lógica não é um “critério técnico” para se analisar um áudio como este e questionou: “Onde está a sequência lógica se eu escuto o Joesley e não o presidente Temer? Sequência lógica é um critério altamente subjetivo numa gravação esburacada. A postura ética correta seria desprezar.”

Em sua exposição, Molina classificou o gravador usado pelo dono da JBS como “vagabundo” – segundo a defesa de Joesley, um pen-drive dotado de microfone e gravador acoplado, que ainda será encaminhado aos investigadores e à PF para perícia. “Causa estranheza que uma gravação tão importante tenha sido feita com gravador tão vagabundo. Esse gravador custa 26 reais no Mercado Livre [site de comércio on-line]. Joesley poderia ter comprado uma coisa um pouquinho mais cara. A gravação está inteiramente contaminada, com longos trechos ininteligíveis e várias outras incertezas. Num processo normal, essa gravação sequer seria aceita como prova em função do excesso de vícios que ela tem”, disse o perito, acompanhado do advogado de Temer, Gustavo Guedes.

Eduardo Cunha

Molina disse ter analisado diversos trechos da gravação, entre truncagens e pontos de obscuridade e apontou que dezenas de casos registrados por Joesley levariam um perito a “jogar essa fita no lixo”. “Há falhas sistêmicas [do equipamento, por baixa qualidade] e outras falhas de descontinuidade que podem ser edição, embora não seja possível afirmar”. Na gravação, o empresário indicou que estava pagando ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao operador Lúcio Funaro uma mesada para eles ficarem calados. Os dois estão presos. Diante desta afirmação, Temer teria dito: “Tem que manter isso, viu?”. Segundo Molina, no trecho do diálogo sobre Cunha foram encontradas seis falhas.

Inquérito no STF

A defesa de Temer desistiu nesta segunda-feira de pedir a suspensão do inquérito instaurado contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa — as acusações se basearam na delação premiada de Joesley. O pedido para paralisar a investigação havia sido protocolado pelos advogados do presidente no último sábado, quando Temer fez um duro pronunciamento desqualificando as provas contra ele.

Segundo a defesa de Temer, o objetivo do pedido era levar a Justiça a fazer uma perícia no áudio em que Joesley grava o presidente durante um encontro, que não consta na agenda oficial, ocorrido na noite do dia 7 de março, no Palácio do Jaburu, em Brasília. Após a movimentação da defesa e com a anuência da PGR, o ministro do STF Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na corte, determinou a análise do material. Com isso, a defesa não viu mais razão de prosseguir com o pedido.

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