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Nunca foi tão fácil ser assaltado no Rio de Janeiro

Estado registrou, em janeiro, o maior número de casos dos últimos dez anos, com 13.876 roubos. Volume é 26% superior ao de janeiro de 2007, início do governo Cabral

Por Leslie Leitão 26 mar 2014, 17h43

As estatísticas de criminalidade – um instrumento poderoso para diferenciar o fato do boato, quando se discute segurança pública – trazem uma constatação alarmante para a população do Rio de Janeiro. O dado mais recente disponível para as autoridades policiais, reunidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio mostram que em janeiro de 2014 houve a maior incidência de roubos dos últimos dez anos. Somados todos os tipos de roubo (residência, coletivos, transeuntes, carros e celulares), o primeiro mês do ano da Copa do Mundo foi o mais perigoso dos últimos dez anos, com 13.876 registros – 30% a mais do que janeiro de 2007, quando José Mariano Beltrame assumiu a Secretaria de Segurança do governo Sergio Cabral. Naquele ano, janeiro teve um total de 10.993 ocorrências desse tipo.

Em outras palavras, nunca foi tão fácil ser assaltado no Rio, apesar dos avanços como a redução dos homicídios e outras modalidades de crime. Os roubos estão entre os delitos considerados prioritários pelo ISP e pela Secretaria de Segurança.

A revelação do ISP faz cair por terra o desafio lançado pelo coronel da Polícia Militar Frederico Caldas, o comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No último dia 10, para defender o programa, Caldas propôs uma comparação: “O Rio de Janeiro era um inferno há dez anos. Vamos olhar para trás. Não podemos esquecer o reflexo desse trabalho no asfalto”, disse, para ressaltar a importância da política de pacificação para além das favelas ocupadas.

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O site de VEJA foi atrás dos números sugeridos pelo coronel. O cenário não é favorável, como imaginava o oficial. Janeiro de 2014 também carrega o recorde negativo de roubo de automóveis dos últimos 81 meses: foram 3.226, impressionantes 65,9% de aumento em relação ao mesmo período de 2013. Se comparado ao ano de 2004 (2.673 veículos), como desafiou o comandante da PM, o aumento foi de 8%.

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Para especialistas consultados pelo site de VEJA, a explicação para a explosão dessa modalidade de crime está, em primeiro lugar, no que parece ser a explicação óbvia: falta de policiamento de rua. O problema da limitação de efetivo nos batalhões da PM se acentuou após a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs): dos últimos 10.000 policiais militares que ingressaram na corporação, praticamente todos foram colocados dentro das favelas ocupadas. Outro problema é a falta de investigação para identificar e prender essas quadrilhas, esta uma falha da Polícia Civil. Como detectou o Ministério Público do Estado, houve uma diminuição considerável de investigações nos últimos anos. A explicação está no desgaste entre o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e a Polícia Civil, que teve a frente nos últimos três anos a delegada Martha Rocha – exonerada a pedido, em janeiro, para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj).

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Os números de assaltos a pedestres também são expressivos. No primeiro mês de 2004, quando a população do Rio de Janeiro era de 15,2 milhões de habitantes, 1.384 pessoas foram assaltadas nas ruas de todo o Estado, o que o ISP classifica como roubo a transeunte. No mesmo período de 2014 (população de 16,5 milhões), 6.490 assaltos foram registrados, um aumento de 368%.

Outro dado preocupante está nos coletivos. Janeiro de 2004 registrou o menor número de assaltos a ônibus neste período em dez anos, com 231 assaltos. A partir do ano seguinte os ataques foram subindo gradativamente até atingir o ápice no início de 2009, com 829. Desde então os dados do ISP indicaram quedas, atingindo 405 ano passado. Em 2014, porém, os números voltaram a subir e atingiram 594 ocorrências, ou seja, quase o triplo de uma década atrás. A boa notícia está nos ataques às residências, que em janeiro de 2004 registraram 165 e agora marcaram 123.

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Assassinatos – O número de homicídios caiu consideravelmente na era Cabral/Beltrame. O governo atual assumiu com 526 mortes em janeiro de 2007. Esse volume caiu para 329 no mês de abertura de 2012. No ano passado, os homicídios voltaram a subir, com 397 casos em janeiro. Mas, no acumulado do ano, houve retrocesso: os homicídios ficaram em 4.700 casos no ano – mesmo volume de 2010. No primeiro mês deste ano, houve registro de 469 assassinatos, 72 a mais que no mesmo período de 2013 (crescimento de 18%).

Automóveis – Ao longo da última década, somente os meses de março de 2007 (3.381) e maio de 2006 (3.261) tiveram índices piores do que o registrado no começo deste ano (3.226). Outro dado interessante pinçado das estatísticas do ISP indica que a maior ação policial já registrada no País – a invasão dos complexos do Alemão e da Penha, em novembro de 2010 – fez o índice daquele mês ser o mais baixo em uma década, com apenas 1413 veículos roubados.

O número de veículos roubados vinha caindo desde o ano anterior. Em novembro de 2009, o total de carros e motos roubados chegou a 1.688. As ocorrências oscilaram entre 1.439 e 1.650 durante quase todo o ano de 2011 e voltaram a subir em fevereiro de 2012, atingindo 1.981 casos. Manteve-se, assim, o patamar até julho de 2013, quando novamente houve aumento gradativo desse tipo de crime, até os 2.893 roubos de dezembro.

O índice de janeiro de 2014 ( quando houve 3.226 casos) obrigou o próprio governador Sergio Cabral a fazer uma reunião de emergência no Palácio Guanabara para tratar da questão. Dali saiu a decisão de colocar em prática o plano do novo delegado da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), Marcus Vinícius Braga, que reeditou antigas rondas noturnas durante três dias por semana.

O reflexo da ação ainda não pode ser percebido em fevereiro, mês em que o Estado atingiu 3.080 veículos roubados, o maior número para o mês em dez anos. Os dados de fevereiro ainda não foram computados pelo ISP.

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