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No Conselhão, Bumlai ‘sensibilizou’ o BNDES. E levou mais crédito

Amigo de Lula era membro do grupo que dá sugestões ao Planalto sobre estratégias para o país. Ele conseguiu que o banco ampliasse financiamento para setor de biocombustíveis. PF investiga repasses para duas usinas dele

Por Da Redação 28 jan 2016, 06h24

A presidente Dilma Rousseff retoma nesta quinta-feira as reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado Conselhão, instituído no início do governo Lula e usado desde então como forma de criar fatos positivos para o governo durante as crises. O conselho reúne ministros, empresários e membros da sociedade civil para debater e sugerir estratégias para a agenda governamental – muitas delas, porém, acabam ignoradas pelo Planalto. Um conselheiro, contudo, não pode reclamar: o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, conseguiu em uma das reuniões a liberação de mais verba do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para o setor de biocombustíveis. Hoje, a Operação Lava Jato investiga empréstimos da instituição a duas usinas em nome dos filhos do empresário.

Sem mostrar resultados claros, o grupo entrou em desuso logo no primeiro mandato da petista. Acuada diante dos indicadores cada vez mais preocupantes da economia e alvo de um processo de impeachment, Dilma decidiu resgatar o Conselhão. A petista se reunirá com empresários como Abílio Diniz (BRF), Luiza Trajano (Magazine Luiza), Jorge Paulo Lemann (AmBev), Benjamin Steinbruch (CSN), José Roberto Ermírio de Moraes (Votorantim), Josué Gomes da Silva (Coteminas) e Murilo Ferreira (Vale), além dos banqueiros Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Roberto Setúbal (Itaú).

Atas das reuniões anteriores do conselho mostram que, se para o desenvolvimento de políticas públicas o grupo tem eficácia questionável, pelo menos uma pessoa fez bom proveito da cadeira. Em um encontro em 2007, Bumlai “sensibilizou” o BNDES a liberar mais investimentos para o setor de biocombustíveis. O empresário é ligado a duas usinas – São Fernando Açúcar e Álcool e São Fernando Energia -, administradas por seus filhos. Bumlai é membro do conselho desde 2003. Se não estivesse preso, certamente estaria mais uma vez dando suas relevantes contribuições ao país já a partir desta quinta.

Conforme consta em relatório de atividades, o empresário usou a palavra durante encontro para fazer um apelo: reclamou da falta de ajuda para o desenvolvimento do setor e da necessidade de “garantias pesadas” para a concessão do benefício. Na ocasião, o conselheiro Antoninho Trevisan fez coro ao pronunciamento de Bumlai.

O discurso surtiu efeito: “Sensibilizado pelas posições e propostas dos Conselheiros, o Superintendente de Infraestrutura do BNDES, João Carlos Cavalcanti, convidou os Conselheiros Antoninho Trevisan e José Carlos Bumlai para uma reunião, a fim de discutir com mais profundidade uma agenda de crédito para a bioenergia e os biocombustíveis”, afirma o relatório do ano. O documento acrescenta que após o diálogo com membros desse grupo de trabalho, o banco “ampliou significativamente suas linhas de financiamento para o setor de bioenergia e biocombustíveis e criou uma superintendência para tratar especificamente deste tema”. Procurado pelo site de VEJA, o BNDES informou que “o apoio ao setor sucroalcooleiro tem ocorrido de acordo com as regras das linhas e programas operados pelo banco, que são aplicadas de maneira idêntica a todos os postulantes de financiamento junto à instituição. O processo de análise das operações de crédito passa por mais de 50 pessoas, envolvendo órgãos colegiados”.

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No ano seguinte ao encontro, a usina São Fernando Açúcar e Álcool Ltda recebeu um generoso empréstimo do BNDES de 388 milhões de reais. Em julho de 2012, a São Fernando Energia I Ltda., também de Bumlai, recebeu mais uma bolada do banco: mais de 100 milhões de reais, embora na época a empresa contasse com apenas sete funcionários. Nove meses depois a companhia entrou em recuperação judicial com uma dívida de 1,2 bilhão de reais, incluindo débito de 300 milhões de reais resultado de empréstimos do banco de fomento. Como VEJA havia revelado em 2011, o pecuarista foi favorecido por financiamentos do BNDES. Agora, a Polícia Federal investiga o caso. “O financiamento à São Fernando Açúcar e Álcool seguiu rigorosamente todos os trâmites usuais do BNDES, sem qualquer tipo de excepcionalidade. A operação já foi explicada reiteradas vezes pelo banco, e detalhes sobre ela podem ser consultados no site do banco”, afirma o BNDES.

Bumlai foi preso da 21ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada em novembro do ano passado. Em depoimento de delação premiada, o lobista Fernando Baiano disse ter repassado 2 milhões de reais a uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a pedido de Bumlai. Segundo as investigações, os valores eram uma bonificação que recebeu depois de fazer um empréstimo fictício de cerca de 12 milhões de reais com o Banco Schahin para camuflar o repasse milionário de propina ao Partido dos Trabalhadores.

Confira a seguir a nota enviada pelo BNDES:

Seria desconhecer totalmente as práticas e procedimentos do BNDES supor que qualquer mudança na política do Banco em relação ao setor sucroalcooleiro tenha sido fruto de gestão pessoal do empresário José Carlos Bumlai – ou de qualquer outro. O contato do representante do BNDES com o empresário deu-se em caráter institucional, da mesma forma como ocorre com todos os representantes de grupos que investem ou investiram no setor e suas associações de classe, e a demanda foi apresentada como uma necessidade setorial. As medidas tomadas pelo Banco à época não tiveram como foco o aumento de liberação de recursos ou a criação de uma política de crédito mais favorável ao setor, mas uma reestruturação das áreas técnicas para ampliar a estrutura de atendimento às suas demandas, dado o aumento dos investimentos observado em novas usinas de cana a partir de 2005. Este ciclo gerou um aumento dos desembolsos do Banco para o setor em mais de 3 vezes (R$ 600 milhões em 2004 para R$ 2.200 milhões em 2006). Ignorar esse contexto de forte expansão vivido pelo setor à época seria pouco criterioso.

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