Júri dos canibais é retomado em Pernambuco
Dia será de debates entre defensoria e Ministério Público. Na quinta-feira, os três réus confessaram os crimes diante dos jurados
Foi retomado na manhã desta sexta-feira, em Pernambuco, o julgamento do trio acusado de matar, esquartejar, comer e rechear salgadinhos com os restos mortais de suas vítimas. Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, o júri recomeça com a fase de debates entre o Ministério Público e os advogados de defesa dos réus Jorge Beltrão Negromonte, de 52 anos, sua mulher, Isabel Cristina Pires, de 53, e a amante dele, Bruna Cristina da Silva, de 28. Os três respondem pela morte da moradora de rua Jéssica Camila da Silva, de 17 anos. Os suspeitos confessaram à Polícia ter assassinado a jovem para roubar a sua filha, que na época tinha apenas um ano, e para “purificar a sua alma” mediante práticas de canibalismo. O trio foi indiciado por homicídio quadruplamente qualificado, além de vilipêndio (ultraje) e ocultação de cadáver.
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O júri teve início na manhã de quinta-feira. Já foram ouvidos perito médico Lamartine Hollanda e o delegado da Polícia Cilvil Paulo Sérgio Berenguer, além dos réus. O primeiro dos canibais a depor foi Negromonte, que afirmou, de olhos fechados, estar arrependido de ter matado Jéssica, segundo o jornal Diário de Pernambuco. “Foi um momento de extrema fraqueza e me sinto na posição das pessoas que perderam seus entes queridos. Minha verdadeira prisão é minha consciência”, disse.
Diante dos jurados, todos os três admitiram os crimes, afirmaram não ver diferença entre a carne humana e a bovina em relação ao sabor, e se disseram arrependidos. Terceira a depor, Bruna, declarou que as cenas do assassinato de Jéssica “perdiam para Jogos Mortais”, em alusão ao filme de terror americano, que mostra pessoas sendo esquartejadas, estripadas e queimadas. “Eu fiquei apavorada. Nunca vi isso nem em filme. Jogos Mortaisperdia. Minha Nossa Senhora, tremi tanto. Eu e Isabel limpamos tudo e pegamos os restos mortais. O Jorge cavou quatro buracos”, afirmou durante o interrogatório. Em seguida, ela explicou porque comeu a carne de Jéssica. “Eu comi porque o Jorge disse que na Bíblia estava escrito que se matasse tinha que comer. Mas eu revirei a Bíblia toda e não achei isso”, disse, em tom de deboche.
Entenda o caso – Segundo a polícia, o grupo acreditava fazer parte de uma seita intitulada de Cartel, que pregava a redução populacional e a purificação do mundo. Em depoimento, os réus relataram que escolhiam as vítimas de acordo com missões recebidas por entidades sobrenaturais. Depois de executar as mulheres, o grupo tirava a pele, desossava e fatiava os cadáveres. Em seguida, guardava porções das nádegas, coxas e do fígado na geladeira. O restante do corpo era enterrado no quintal da casa. Além de encontrar os restos mortais das vítimas, a polícia achou na casa um livro, escrito por Negromonte, que detalhava o modo e os motivos dos assassinatos. Os réus consideravam a ingestão de carne humana como um processo de “purificação da alma”.
No caso do processo que corre em Olinda, o grupo atraiu a moradora de rua, que na época tinha uma filha de 1 ano, oferecendo-lhe abrigo. Como não tinha condições biológicas de ter filhos, o casal Negromonte e Isabel planejava roubar a menina, segundo denúncia do Ministério Público. De acordo com a polícia, Jessica foi imobilizada no banheiro da casa, e em seguida levou um corte de faca na jugular. Todo o seu sangue foi retirado com a ajuda de um garrote. Depois, seu corpo foi esquartejado e a pele retirada. A carne foi fatiada e guardada na geladeira. No dia seguinte, foi ingerida grelhada, temperada com sal e cominho. A criança também comeu da carne da mãe. O resto foi enterrado em forma de cruz no quintal.
Com Jéssica morta, a terceira integrante do grupo, Bruna, assumiu a identidade dela e passou a cuidar da menina. O assassinato da jovem só foi descoberto depois de a polícia prender o trio pela morte das duas mulheres em Guaranhuns, e encontrarem com eles a criança, que tinha, então, cinco anos. Na ocasião, ela foi entregue ao Conselho Tutelar. Os acusados também relataram à polícia que vendiam empanadas e coxinhas feitas com os restos mortais das vítimas pelas ruas de Guaranhuns.