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Gabinetes do PT viram bunker para documentaristas no impeachment

Os petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann atuaram diretamente para que documentaristas tivessem 'passe livre' no Senado

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 ago 2016, 12h34 - Publicado em 27 ago 2016, 12h34

O Partido dos Trabalhadores é recorrente em moldar a história à luz do que lhe convém. Tentou reduzir o escândalo do mensalão a um esquema de caixa dois de campanha eleitoral. Tentou estampar o discurso de perseguição política quando o ex-presidente se viu às voltas com a justiça batendo à porta. No esforço do momento, tenta diuturnamente martelar a tese de que o processo de impeachment contra Dilma Rousseff é um “golpe” contra a democracia. Na reta final do julgamento que deve confirmar a saída definitiva da presidente do Palácio do Planalto, o PT resolveu agora abrigar equipes de documentaristas em gabinetes de senadores do partido. Ícones máximos da tropa de choque de Dilma, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) transformaram seus locais de trabalho em verdadeiros bunkers para os times de filmagem. Nos gabinetes, parte das equipes de documentaristas pede comida, guarda equipamentos, faz reuniões e discute os próximos takes e planos de sequência.

Os dois senadores também foram pessoalmente pedir ao presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) “passe livre” para cinegrafistas, produtores e roteiristas dos documentários. Tiveram sucesso. Os documentaristas adquiriram o status de “intocáveis” nos corredores do Senado. Oficialmente os filmes são produções independentes. A diretora Petra Costa revelou em entrevista a VEJA que, no caso dela, o filme é autofinanciado na fase de produção e tenta captar recursos em fundos internacionais de financiamento. Nos corredores do Senado, no entanto, as equipes são jocosamente chamadas de “os documentaristas do PT”. “Apenas cedi o espaço porque pediram”, rebate Gleisi.

Petra Costa tem contrato para produzir um mini documentário para o jornal The New York Times. O material bruto de todo o processo de impeachment será editado também para a produção de um longa-metragem.

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Embora tanto Petra quanto a documentarista Maria Augusta Ramos, que também tem captado imagens do processo de impeachment e base de apoio no gabinete de Gleisi, afirmem que pretendem sopesar todos os lados do procedimento contra a presidente afastada Dilma Rousseff, segundo o relato de senadores algumas perguntas dirigidas a eles pelas equipes de produção tinham um “tom inquisitorial” e remetiam à cantilena petista de que o processo constitucional de impeachment era antidemocrático. “O senhor apoia o golpe?”, questionaram a um senador aliado do presidente interino Michel Temer.

Em uma coletiva do peemedebista, nova referência ao conveniente discurso do PT. Um dos cinegrafistas relatou sua avaliação do que acontecia no momento em que gravava imagens para o documentário e repassou aos demais integrantes da produção em um aplicativo de mensagens instantâneas: “Temer está justificando o golpe”.

Senadores ouvidos por VEJA também reclamaram do assédio dos produtores e do que classificam como “invasão de privacidade”. Em alguns casos, microfones eram “escondidos” em áreas interditadas para a imprensa para captar confidências de assessores e estratégias parlamentares. Câmaras eram dispostas estrategicamente para captar trocas de mensagens em celular. Assessores e congressistas flagraram ainda tentativas de leitura labial.

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Para tentar se aproximar de Antonio Anastasia, relator do impeachment na comissão especial do Senado, por exemplo, os documentaristas alegaram que precisavam entrevistá-lo sobre um tema totalmente alheio à denúncia de crime de responsabilidade. Queriam que o tucano discorresse sobre reforma agrária. Ele negou a entrevista tanto sobre questões agrárias quanto sobre o andamento do processo contra Dilma.

A fim de convencer outras autoridades a gravar depoimentos, a equipe da documentarista Petra Costa chegou a propor uma espécie de cláusula de edição, em que políticos como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ministro de Relações Exteriores José Serra (PSDB) teriam direito a moldar as declarações deles como achassem necessário. O staff de Petra tinha preparado contratar um advogado para redigir os termos do acordo. Nem Cunha nem Serra aceitaram em dar declarações.

A professora Janaína Paschoal, uma das signatárias da denúncia contra Dilma por crime de responsabilidade, foi uma das personagens do impeachment que concordaram em assinar um termo autorizando os documentaristas a usar as imagens dela na produção. No Senado, Ronaldo Caiado (DEM-GO), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Simone Tebet (PMDB-MS) e Ana Amélia Lemos (PP-RS), por exemplo, se recusam a gravar para os documentários. Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), aliados de Michel Temer, assim como parlamentares ligados à Dilma Rousseff, depuseram, sem problemas, diante das câmeras. O ponto alto das gravações, no entanto, ainda não chegou: será na próxima segunda-feira, quando Dilma Rousseff irá ao Senado para se defender na etapa final do processo, e seu padrinho político, o ex-presidente Lula, acompanhará o discurso de dentro do Congresso.

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