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Funaro fala direto da prisão

Em entrevista a VEJA, o empresário apontado como operador de Eduardo Cunha diz que está disposto a colaborar com a Operação Lava-Jato

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 jul 2016, 19h39 - Publicado em 28 jul 2016, 19h17

Preso há quase um mês, o empresário Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, resolveu falar – e se defender, partindo para o ataque. Em entrevista escrita a VEJA, intermediada pelo advogado Daniel Gerber, Funaro disse que pretende colaborar com os investigadores da Operação Lava-Jato. “Sem dúvida estou aqui para colaborar ”, disse, rejeitando, porém, assumir o papel de delator. “Só delata quem cometeu o crime, e eu não cometi”.

O empresário, denunciado pela Procuradoria-Geral da República por desvio de dinheiro na Caixa Econômica Federal, alega que é vítima de um mercado de delações premiadas. “Existe um mercado de delações em andamento, e a Procuradoria-Geral da República deve tomar cuidado com isso, sob pena de acabar prejudicando toda a operação”, afirma. “Não entendo como a PGR aceita este tipo de delação, mas irei demonstrar o que falo ao longo do processo. O que me incomoda é que, na minha vida, sempre que fiz denúncias à PGR, e foram várias, as fiz com prova do que falava. Hoje, basta falar, falar, falar…”

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor cogita colaborar com as investigações da Operação Lava-Jato?
 Sem dúvida estou aqui para colaborar. Mas a imprensa confunde isso com delação. Só delata quem cometeu o crime, e eu não cometi. Colaborar é diferente. Por exemplo, quando denunciei [o empresário Milton] Schahin para a Procuradoria-Geral da República, demonstrando o rombo que ele provocou na Petrobras, eu estava colaborando, mas em nada se confunde com delação. Na operação Themis, por exemplo, sou testemunha da acusação, arrolado pelo próprio MPF, mas nada tenho a ver com os fatos. Enfim, colaborar faz parte de minha história.

Em algum momento antes de ser preso, o senhor procurou a força-tarefa da Lava-Jato para propor uma colaboração? Não. Mas meses antes de ser preso, protocolei uma petição afirmando que estava à disposição.

Por que o senhor procurou o advogado Antonio Figueiredo Basto, em Curitiba, antes de ser preso? Ele sabe.

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O senhor foi procurado por advogados interessados em negociar com você o conteúdo de delações? Quem te procurou? O senhor os gravou em vídeo ou áudio? Sim, fui. Tais apontamentos serão feitos dentro do processo, e ficará claro que parte das delações que existe na Lava-Jato foi negociada pelos delatores e seus representantes legais. Existe um mercado de delações em andamento, e a Procuradoria-Geral da República deve tomar cuidado com isso, sob pena de acabar prejudicando toda a operação.

O seu escritório é repleto de câmeras de segurança. O senhor costumava gravar as suas reuniões? Por quê? O senhor guarda um backup desse material? Peço desculpas, mas estas respostas virão apenas dentro do processo.

O senhor tinha um bom trânsito no meio político. Com quais parlamentares o senhor mantinha uma boa relação? São muitos, não há como se nominar. Estas relações positivas surgiram justamente porque sempre mantive com o poder público uma relação de cooperação. Denunciei crimes no caso Bancoop, denunciei crimes no caso petrolão, participei de CPIs apontando responsabilidades etc.

O MPF te acusa de ser o operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, utilizando as empresas para receber e repassar propinas. Isso é um equívoco. Toda a movimentação financeira que o MPF classifica como suspeita se dá entre empresas minhas, que operam com caixa único. Não existe nada, absolutamente nada, que verse sobre depósitos irregulares para referido deputado.

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O senhor participou da indicação de Fábio Cleto para a Caixa Econômica Federal? O senhor sabia que ele operava propinas no FI-FGTS? Não participei de indicação alguma. Apenas distribui o currículo dele, a pedido dele mesmo. Logo depois, brigamos e jamais mantive qualquer participação na questão de aprovação de créditos do FI-FGTS. Tanto é que Cleto não apresentou prova alguma do que fala.

O senhor recebeu recursos da empresa Eldorado Brasil, que recebeu um aporte do FI-FGTS alguns meses antes. O senhor teve participação na liberação do investimento feito pelo fundo na companhia controlada pela J&F? Não tive participação na liberação de tal investimento. Pior: ao que me consta, este foi um dos empréstimos mais caros que a J&F já tomou até hoje. Ou seja, beira ao ridículo imaginar que a empresa subornou alguém para contrair um empréstimo que, no mercado, se pesquisasse melhor, obteria com taxas menores de remuneração.

Qual a sua relação com a Hypermarcas e o seu controlador, João Alves de Queiroz Filho? Por que um ex-diretor da empresa te acusa de ser o beneficiário de propinas? Qualquer operador de bolsa sabe do que falo. Hypermarcas iria quebrar se os crimes assumidos por Nelson respingassem em toda a diretoria e presidência. Todos seriam presos pela Justiça americana, além da class action correspondente. Por tal motivo, Nelson assume a culpa de tudo, afirma que fez tudo “sozinho”, ou seja, que autorizou pagamentos de mais de 30 milhões de reais para alguns políticos, sem que ninguém soubesse. Tal delação beira ao ridículo, pois jamais na história um executivo “praticou crimes pelo bem da empresa, sem que a empresa soubesse”. Jamais um grupo econômico como esse dá poderes a um executivo para ordenar pagamentos sozinho, sem qualquer tipo de controle interno. Ridículo. Não entendo como a PGR aceita este tipo de delação, mas irei demonstrar o que falo ao longo do processo. O que me incomoda é que, na minha vida, sempre que fiz denúncias à PGR, e foram várias, as fiz com prova do que falava. Hoje, basta falar, falar, falar…

Outro lado – Procurada a respeito da entrevista de Funaro, a Hypermarcas reforçou o conteúdo da sua nota divulgada no dia 1º de julho em que diz que “não encontrou evidência da participação de outros administradores e/ou colaboradores da companhia nos atos” praticados pelo ex-diretor da empresa Nelson Mello. “Também ficou claro no curso da investigação que os atos praticados pelo Sr. Mello não foram detectados pelos controles internos da companhia na medida em que ficou demonstrada a intenção do Sr. Mello de conferir aspectos de normalidade às contratações realizadas”, afirmou.

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