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Fernando Francischini: ‘Não tenho telhado de vidro’

Delegado licenciado da Polícia Federal, deputado federal tucano capturou o traficante Juan Carlos Abadia e já prendeu falsário dentro da Câmara

Por Gabriel Castro
29 ago 2011, 11h37

O deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR) está no primeiro mandato. Delegado licenciado da Polícia Federal (PF), ele já pertenceu ao Exército e à Polícia Militar (PM). Antes de ingressar na política, se notabilizou pela prisão do traficante colombiano Juan Carlos Abadia, em 2008. E parece não ter se afastado das atividades investigativas: na semana passada, deu voz de prisão a um falso pastor evangélico que tentava cooptar deputados federais dentro do Congresso Nacional. Francischini gosta de alimentar a imagem de policial implacável.

O delegado licenciado tem pela frente agora a relatoria do processo contra Valdemar Costa Neto (PR-SP) no Conselho de Ética. O deputado é acusado de envolvimento nas fraudes do Ministério dos Transportes e de ligação com um esquema de cobrança de propina na Feira da Madrugada, em São Paulo. Será mais um teste para a capacidade de investigação do policial, que diz se sentir um delegado infiltrado em meio aos parlamentares.

Como o senhor avalia as acusações contra o deputado Valdemar? São fatos graves, a imprensa notificou e agora a minha função é buscar os indícios verdadeiros que existem nos autos dos processos e no Ministério Público para confirmar as matérias publicadas.

Já foi possível construir uma posição sobre o caso? Tenho trabalhado nisso nos últimos dias. Provavelmente, vou apresentar um relatório preliminar no dia 13 de setembro. Até lá, eu quero fazer uma visita ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Geral da República para obter mais informações sobre a situação atual dos processos que envolvem as denúncias do PPS e do PSOL contra o Valdemar.

Essa apuração é parecida com a que seria feita em uma investigação criminal? É quase a mesma coisa: buscar informações em outros órgãos, compartilhar informações, fazer um relatório de pessoas que precisam ser ouvidas e tentar fazer um relatório imparcial, isento. Talvez esse seja o motivo pelo qual eu fui escolhido relator. Por ter sido da Polícia Federal, não tenho telhado de vidro.

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Mas as lógicas são diferentes, não são? Com certeza. A apuração no Conselho de Ética é administrativa, política. Não é necessária a configuração de um crime para se provar a quebra do decoro parlamentar, ou da ética. Então, todos os pequenos detalhes podem ser importantes nesse contexto.

O senhor criticou o governo durante a crise do PR. Espera-se um relatório pela cassação? Eu acho que não. Tenho conversado com todos os membros do Conselho de Ética, disse que vou tentar ser o mais isento possível, mas a gente não pode fugir do que tiver provas e materiais. Só que até agora nós só temos apresentados ao conselho uma relação de fatos que supostamente existiram. O meu trabalho vai ser buscar esses fatos como relator. Agora, eu tenho a chance de requisitar oficialmente as investigações sobre tudo aquilo que eu criticava.

O senhor conseguiu prender criminosos importantes. Teme que, investigando um político, perca para a impunidade? Eu tenho visto que houve uma boa renovação na Câmara e o próprio Conselho de Ética é renovado. Eu tenho que ter esperança de que a gente consiga elaborar um relatório de votação quase unânime em relação ao caso Valdemar.

O senhor se sente parte da bancada da segurança pública na Câmara? Eu me sinto hoje o representante da Polícia Federal na Câmara. Mesmo sendo de um partido de oposição, no meio da crise envolvendo a Operação Voucher no Turismo, o ministro da Justiça me recebeu para comentar a operação e pedir que eu ajudasse a fazer a defesa da PF na questão das algemas e da legalidade da operação.

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O deputado e delegado Protógenes (PC do B-SP) não é levado a sério? Ele tem uma linha de denúncia que ficou dificultada, por ser de um partido da base do governo. Mas ele tem uma grande credibilidade, pelas ações que já comandou. Acontece que, sendo de oposição, eu posso ser um fiscal mais livre do que ele.

A oposição está enfraquecida por causa da grande desvantagem numérica em relação aos aliados? Nós nunca estivemos tão fortes, com a CPI da Corrupção, com as cobranças e fiscalizações do governo. Muitos membros da base do governo dizem que está sendo mais difícil enfrentar essa pequena oposição hoje – e, se você for fazer a conta, não passa de trinta ou quarenta deputados. A verdade é essa. Porque nós temos atuado como guerrilha, como dizem deputados da base do governo. Ou seja: somos poucos, mas ruidosos, e mais batalhadores do que quando os números eram equilibrados.

O senhor já prendeu um falsário na Câmara, foi designado para investigar o deputado Valdemar Costa Neto e gosta de inquirir ministros. Sente-se mais um policial federal do que um deputado? Às vezes eu me sinto. Se você assistir às grandes audiências, eu escuto de tudo quanto é lado: “Menos, delegado. Você aqui é deputado”.E muitas vezes eu me sinto o delegado da Polícia Federal que foi pinçado pela população e colocado dentro do Congresso. Muitas perguntas duras que tenho feito para os ministros são aquelas que poucos fariam. Se esses ministros, deputados não tivessem foro privilegiado iam ter que sentar na frente da Polícia Federal para ser ouvidos e iam ser indiciados. Então eu falo: “Eu estou me sentido aqui o delegado da Polícia Federal que pode perguntar aquilo que o delegado comum não pode”. E isso tem colocado esses ministros numa situação muito delicada, constrangedora.

O senhor é um parlamentar de perfil conservador, que defende mais rigor no combate ao crime, é contra a descriminalização das drogas e a legalização do aborto. Encontra eco dessas ideias na Câmara? São poucos que têm a noção de que a sociedade está cansada de assalto, drogas nas escolas. Na campanha, todo mundo tem as bandeiras que o marketing e apesquisa indicam. Quando chega na Câmara, o lado da emenda parlamentar, das obras, acabam falando mais alto e os deputados se esquecem dessas bandeiras, que são bandeiras da vida das pessoas.

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