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Ex-Odebrecht diz que propina paga é muito maior do que a delatada

Em entrevista ao 'El País', Rodrigo Tacla Durán, que trabalhou cinco anos na empresa, diz que só um banco movimentou o triplo do que foi declarado

Por Da Redação
Atualizado em 28 jul 2017, 16h39 - Publicado em 28 jul 2017, 13h09

Advogado da Odebrecht entre 2011 e 2016, Rodrigo Tacla Durán se negou a participar do acordo de delação premiada firmado por 78 executivos e ex-executivos da empreiteira no final do ano passado, no âmbito da Operação Lava Jato. Vivendo hoje na Espanha, Durán, em entrevista ao El País, disse que tomou a decisão “por uma questão de princípios” e questionou a própria colaboração da empresa.

Ele contesta a versão de que a Odebrecht tenha confessado todos os seus crimes, no Brasil e no exterior, no acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF). Segundo Tacla Durán ao El País, a empreiteira omitiu parte da atuação do Meinl Bank, instituição financeira em Antígua e Barbuda comprada pela empresa. Às autoridades brasileiras, o grupo declarou ter pago 2,5 bilhões de reais em propina a agentes públicos – o advogado, no entanto, ouviu de um ex-diretor a cifra de 8 bilhões, mais de três vezes mais.

No Brasil, os executivos da Odebrecht assumiram ter pago 1,1 bilhão de reais. De acordo com a fala de Durán, é pouco. “O montante foi muito maior. A empresa gastava 481 milhões de reais por ano em propina. Até o porteiro recebia. Os subornos respingaram em todos os partidos. De direita, de esquerda… Do governo, da oposição… E não há somente políticos entre os beneficiários… A empresa apostava. Por exemplo, na disputa entre Lula e Dilma, a Odebrecht preferiu Lula”, afirmou na entrevista. Ele estima que, no país, sejam cerca de 500 pessoas envolvidas.

Segundo o advogado, o esquema funcionava da seguinte forma: a Odebrecht mantinha o Meinl Bank em Antígua e depois utilizava uma outra instituição, a Banca Privada de Andorra (BPA), para pagar as propinas em transações fora de registro. Ele elenca o país caribenho como uma das nações americanas em que a empresa teria dado dinheiro ilegalmente, mas cujas ações ilícitas foram omitidas na colaboração. Ele afirma que o primeiro-ministro de Antígua, Gaston Browne, recebeu 11 milhões de reais para omitir das autoridades brasileiras as movimentações da instituição.

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Já no suborno para campanhas eleitorais, explica que a contrapartida principal era o estabelecimento de obras preferenciais e até a articulação para ajudar os países a captar os recursos necessários para executá-las. “O primeiro contato era estabelecido na campanha eleitoral. A Odebrecht arcava com os gastos do marketing político dos candidatos. Tinha um acordo com o publicitário João Santana. A construtora sugeria depois as obras que seriam incluídas nos planos do Governo”. Santana fez, no Brasil, as campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.

‘Jamais’

Atualmente em Madri, Rodrigo Durán faz questão de dizer ao jornal que não “fugiu do Brasil”, tendo ido para a Espanha para compromissos empresariais. Com nacionalidade espanhola, recebeu uma ordem de prisão do juiz Sergio Moro, mas um tribunal superior do país europeu se recusou a extraditá-lo após 72 dias detido. Em liberdade provisória, colabora com a Justiça na Espanha e nos Estados Unidos, mas nega que tenha se envolvido com operações de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, conforme foi dito nas colaborações de ex-colegas da Odebrecht e de ex-executivos de outra empreiteira, a UTC.

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Ele ressalta que foi pressionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para assumir esses crimes e, por isso, uma vez que reafirma que não os cometeu, não pode colaborar com as autoridades brasileiras. “Os promotores do Brasil querem que eu reconheça crimes que não cometi. Não respeitaram meus direitos como advogado. Além disso, também querem atribuir crimes por informações que obtive na minha condição de advogado. Estão me atribuindo delitos sem provas, com base em declarações. Não houve nenhuma investigação policial”, afirmou.

Na entrevista ao El País, Tacla Durán também disse que foi pressionado pela Odebrecht a assinar o acordo, que representaria para ele seis meses de serviços comunitários e uma multa de 44 milhões de reais. Em troca de assinar a delação, receberia quinze anos de salários. “Neguei por uma questão de princípios. Enquanto falava com o Departamento de Justiça em Washington, o Brasil exigiu minha prisão em julho e setembro de 2016. Os EUA, no entanto, não me prenderam. Não quero trair ninguém”.

Outro lado

A Odebrecht se manifestou a respeito da entrevista de Rodrigo Tacla Durán por meio da seguinte nota:

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“Em resposta às declarações do Sr. Rodrigo Tacla Duran ao jornal El País, a Odebrecht esclarece:

  1. O Sr. Rodrigo Tacla Duran, diferentemente do que afirma em sua entrevista, jamais atuou como advogado em qualquer empresa do Grupo Odebrecht.
  2. O Sr. Rodrigo Tacla Duran foi um operador financeiro que teve participação em atividades ilícitas já informadas pela Odebrecht às autoridades em seu processo de colaboração, tendo sido preso na Espanha.
  3. A Odebrecht está colaborando com as autoridades no esclarecimento de todos os fatos por ela revelados, e reafirma o seu compromisso com a verdade e com uma atuação ética, íntegra e transparente, no Brasil e em todos os países nos quais atua”
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