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Especialista diz que segurança tem que ser pensada para já

Para Luiz Flávio Sapori, o tiroteio de sábado em São Conrado e a invasão do InterContinental mostram que é um erro acreditar que o estado está pacificado

Por Rafael Lemos e Leo Pinheiro
23 ago 2010, 18h11

“A solução do Rio é para agora, é para amanhã. Não é para 2014 e nem 2016. Os benefícios para as Olimpíadas e a Copa advirão dos avanços que forem alcançados ao longo do tempo na contenção da violência e da criminalidade na cidade nos próximos anos. Política de segurança é para a população”

O confronto entre traficantes e policiais ocorrido em São Conrado no último sábado foi um desastre, seja qual for a verdade sobre o que aconteceu. Se foi uma ação planejada à revelia do comando da Polícia Militar, é grave. Se foi planejada, foi malfeita. Se a polícia fazia uma ronda e topou com um “bonde”, o desfecho evidencia o despreparo. Para Luiz Flávio Sapori, ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais, nessa hipótese (que é a oficialmente assumida pela secretaria de Segurança Pública), teria sido fundamental mobilizar uma força maior e evitar ao máximo o tiroteio que se espalhou e levou pânico aos moradores do bairro.

Sapori diz que o risco de situações como aquelas acontecerem na cidade continua grande, porque o Rio ainda vive uma situação de domínio territorial de grandes áreas pelo tráfico de drogas. Seria um erro, portanto, acreditar que o estado está pacificado apenas porque uma política de ocupação pacífica de favelas está obtendo bons resultados. No entanto, Sapori diz que também é um erro usar o desastre de sábado como prova de que a política de segurança do Rio está completamente equivocada. “Não gostaria de ver esse fato descrito como sinal de que as coisas estão indo mal. Não me parece que seja uma análise adequada do que está se passando no Rio de Janeiro”, diz Sapori, que é secretário executivo do Instituto Minas pela Paz. Ele acredita que, embora muito grave, o tiroteio de sábado e a invasão do hotel InterContinental não joga por terra os avanços que, em sua opinião, estão acontecendo no estado.

UPPs – Para Sapori, as Unidades de Polícia Pacificadora são ilhas de excelência numa cidade cheia de problemas de segurança. Defensor do modelo, ele diz que a ocupação de favelas as UPPs são uma saída real para a segurança no Rio, mas não podem ser universalizadas rapidamente para toda a cidade e região metropolitana. “As UPPs estão no caminho certo, e no ritmo possível”, avalia. Sapori alerta, no entanto, para o fato de que mesmo quando houver muito mais unidades implantadas, a polícia terá que enfrentar ações criminosas, que existem em qualquer lugar do mundo, e terá que estar preparada para isso. O especialista pondera também que a segurança do Rio não deve ser pensada apenas visando a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “A solução do Rio é para agora, é para amanhã. Não é para 2014 e nem 2016”, diz. “Os benefícios para as Olimpíadas e a Copa advirão dos avanços que forem alcançados ao longo do tempo na contenção da violência e da criminalidade na cidade nos próximos anos. Política de segurança é para a população”, conclui.

Política – O vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, reafirmou nesta segunda-feira que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) continuarão sendo prioridade na política de segurança do estado. Pezão participou de um almoço de adesão à campanha de reeleição do governador Sérgio Cabral, que, coincidente e ironicamente, estava marcado para o Hotel Intercontinental, principal cenário do sábado de pânico no bairro de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Como não poderia deixar de ser, a pauta principal acabou sendo o confronto entre um “bonde” de 60 traficantes e a polícia, na manhã do último sábado. Sem entrar nos detalhes do episódio, o vice-governador (que também se candidata à reeleição) disse que o Estado do Rio está combatendo o crime organizado como nunca se fez antes, e que “é natural que haja avanços e retrocessos”.

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Assim como já fizera o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, Pezão defendeu as UPPs, e disse que elas continuarão a ser implantadas como prioridade se Cabral for reeleito. O plano é abrir concurso para 20 000 novos PMs, dos quais dez mil serão treinados para integrar a polícia pacificadora que já se instalou em doze favelas. A favela da Rocinha, que fica em São Conrado e tem 100 000 habitantes, é a unidade mais importante no planejamento, e receberá 2 000 homens até 2012, segundo Pezão.

Buscas – Às 14h30, os inspetores da 15ª DP (Gávea) saíram em duas viaturas em direção à Avenida Aquarela do Brasil, em São Conrado. Lá, eles ficaram por cerca de duas horas e meia. Passaram primeiro pelo Hotel InterContinental, onde baixaram para um pen drive imagens da central do circuito interno de TV referentes ao período de todo o final de semana. Em seguida, os policiais se dirigiram para os edifícios do condomínio Village São Conrado. De acordo com o chefe da diligência, o inspetor Di Donato, os policiais entregaram aos responsáveispela segurança ofícios com solicitação de imagens de cada prédio. Os policias se demoraram mais no condomínio Porto Rotondo, que mais de 30 bandidos armados usaram como passagem para o edifício Port of Spain, na rua Álvaro Alberto, 681, na rota de fuga. De lá, os criminosos saíram em frente ao shopping Fashion Mall, atravessaram as pistas a pé e se refugiaram na Rocinha. A polícia também foi ao shopping solicitar as imagens das câmeras externas. No Porto Rotondo, os policias conversaram com a síndica e os funcionários na tentativa de entender a dinâmica da ação dos bandidos.

Técnicos de informática das empresas de vigilância passarão nos edifício do condomínio Village São COnrado para reunir o material e repassá-lo à polícia. As imagens serão ampliadas no estúdio da 15ª DP, com o intuito de compará-las com o acervo de fotos da Polícia Civil e, assim, tentar identificar os fugitivos. Ao todo, 28 criminosos teriam conseguido escapar, de acordo com contagem preliminar da polícia. Os investigadores também requisitarão imagens das equipes de TV que cobriram o evento, assim como os vídeos de moradores divulgados por elas. O objetivo é identificcar os bandidos e qualificar os crimes de cada um. Nas imagens obtidas até o momento, já foi possível, através da roupas, identificar 4 dos criminosos presos no hotel.

Ao todo, foram 10 presos, sendo um menor, e uma mulher morta. Adriana Duarte dos Santos, que faria parte do bando e seria tesoureira do tráfico da Rocinha, foi atingida na Avenida Aquarelado Brasil durante tiroteio entre policias e bandidos. O menor de idade está na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), na Central do Brasil. Um dos bandidos encontra-se no Hospital Getúlio Vargas, sob custódia.

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