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Empréstimo a Bumlai foi ligado por Marcos Valério ao caso Celso Daniel

Operador do mensalão afirmou ao MP que dinheiro silenciou empresário que ameaçava implicar Lula e Gilberto Carvalho no crime. Ao pedir a prisão do pecuarista, Lava Jato relembra depoimento, mas diz que destino do dinheiro é incerto

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 nov 2015, 17h43

Na esteira de sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal em 2012, por envolvimento no esquema do mensalão, o publicitário Marcos Valério prestou um depoimento ao Ministério Público Federal naquele ano em que citava o caso do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, em São Paulo. Como revelou VEJA, diante da condenação a mais de 40 anos de cadeia, Valério indicou ao STF seu desejo de prestar novas declarações ao tribunal sobre o esquema. Um acordo de delação, contudo, nunca chegou a ser firmado. Na ocasião, o publicitário disse que um empréstimo concedido pelo Banco Schahin ao empresário José Carlos Bumlai em 2004 tinha como finalidade pagar uma extorsão a que eram submetidos Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho. No pedido de prisão preventiva de Bumlai no âmbito da Operação Lava Jato, o Ministério Público volta a citar o depoimento de Valério. O pagamento teria viabilizado a contratação da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda Vitória 10.000. Com base nos depoimentos de três delatores – o empresário Salim Schahin, o lobista Fernando Baiano e o ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa -, o MP avalia que os 12 milhões de reais foram, de fato, para o caixa do PT. Mas ainda não esclareceu com qual finalidade.

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A negociação do empréstimo entre Bumlai e o grupo Schahin é descrita na delação premiada do empresário Salim Shahin. Segundo ele, Bumlai pediu os 12 milhões de reais em nome do partido, “pois havia uma necessidade do PT que precisava ser resolvida de maneira urgente”. Na ocasião, Salim teria dito que se interessava em se aproximar do governo petista, mas se sentia “desconfortável” em ir adiante com a negociação por considerar o valor muito elevado. Dias depois, Bumlai apareceu com o então tesoureiro do PT Delúbio Soares, que lhe disse que a Casa Civil o procuraria como “evidência adicional”, segundo o depoimento do acionista do grupo Schahin. O então chefe da Casa Civil José Dirceu telefonou pouco depois, contou. “A conversa tratou de amenidades, não abordando a operação de José Carlos Bumlai, mas a mensagem estava entendida (…) Apesar do desconforto pelo alto valor envolvido, o depoente (…) determinou a realização da operação”, diz o texto do MPF.

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O empréstimo só viria a ser pago em 2009 por meio da escolha da Schahin para operar o navio sonda. A negociação envolveu a intermediação do lobista Fernando Soares, o Baiano, com o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Em depoimento de delação premiada, Baiano conta que foi procurado por Bumlai no final de 2006. O amigo do ex-presidente teria dito que “tal empréstimo tinha por finalidade quitar dívidas contraídas pelo PT na campanha presidencial de 2002”. Depois, no entanto, o lobista relatou ter ouvido de “outras pessoas” que a quantia seria usada para “pagar uma chantagem que o presidente Lula estaria sofrendo”. Questionado sobre quem seriam esass pessoas, ele disse, sem se lembrar do nome, que poderia ser alguém próximo a Bumlai ou algum técnico da Petrobras. Na delação de Baiano ainda é explicitada a intimidade do pecuarista com Lula. Segundo os relatos do lobista, a amizade entre os dois se fortaleceu após o empréstimo tomado do grupo Schahin. Baiano, inclusive disse ter presenciado o empresário atendendo e fazendo ligações para o então presidente e que “o grau de intimidade nas conversas era realmente muito grande”.

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“Após ser transferido ao frigorífico Bertin, o destino final dos 12 milhões de reais ainda é controverso. Uma tese seria de que os recursos foram destinados ao Partido dos Trabalhadores com o objetivo de pagar dívidas da campanha presidencial (versão dada por Fernando Soares e Eduardo Musa). Outra versão seria de que o dinheiro foi utilizado para pagar um empresário de Santo André que ameaçava envolver pessoas relacionadas à cúpula do Partido dos Trabalhadores no caso Celso Daniel (versão de Marcos Valério)”, afirma o MP no pedido de prisão de Bumlai.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que está investigando o percurso do empréstimo tomado do Banco Shahin até chegar ao caixa do PT. “Temos indicativos claros do uso de falsos documentos para a falsa quitação do empréstimo. O caminho do dinheiro para o PT ainda está em investigação”. Ele também afirmou que não há provas da participação de Lula no petrolão, mas chamou a atenção para o fato de o nome do ex-presidente ter sido usado por Bumlai para viabilizar as negociações. “Esses empréstimos já eram noticiados por Marcos Valério naquela época (do mensalão). Há uma continuidade do uso de nomes de pessoas ligadas ao governo, incluindo o ex-presidente, por parte de Bumlai”, afirmou.

Em seu depoimento de 2012, Valério cita o navio sonda locado à Schahin, a intermediação de Bumlai e o assassinato do ex-prefeito. Um montante de 6 milhões de reais teria sido repassado ao empresário de transportes de ônibus de Santo André Ronam Pinto para impedir que ele implicasse Gilberto Carvalho, Lula e José Dirceu no caso, segundo o depoimento de Valério. “Desse modo, Marcos Valerio também corroborou a versão do colaborador Eduardo Musa no sentido de que o empréstimo concedido a Bumlai destinava-se a pagar dívidas do PT, sendo posteriormente saldado com a contratação da Shahim para operação do navio-sonda Vitoria 10.000. Valério, contudo, vai mais longe, alegando que o empréstimo de Bumlai visava comprar o silêncio do empresário Rinam Pinto de Santo André, que ameaçava envolver pessoas ligadas ao PT à morte de Celso Daniel”, diz relatório do MPF entregue ao juiz Sergio Moro.

Caso Celso Daniel – Prefeito de Santo André e coordenador da campanha de Lula, Celso Daniel foi sequestrado ao sair de uma churrascaria e morto em circunstâncias misteriosas em janeiro de 2002. O caso chocou o país. As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso.

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Conforme a versão da polícia, abraçada pelos petistas, Celso Daniel foi vítima de crime comum: extorsão mediante sequestro, seguido de morte. Já familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista. É também a tese do Ministério Público: desentendimentos sobre a partilha dos recursos teriam motivado o assassinato.

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