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Em feito inédito, Doria é eleito em São Paulo no primeiro turno

Empresário apadrinhado pelo governador Geraldo Alckmin conquistou um eleitorado desiludido com um discurso de gestor, não político. PT amargou dura derrota

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Pieter Zalis Atualizado em 2 out 2016, 22h03 - Publicado em 2 out 2016, 20h30

A cidade de São Paulo elegeu neste domingo, pela primeira vez, um prefeito em primeiro turno: com 96,48% das urnas apuradas, João Doria (PSDB) tem 53,42% dos votos válidos. O tucano desbancou seus adversários Fernando Haddad (PT), Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB). Ainda que inédita, a vitória já no primeiro turno não era descartada pelos tucanos. Os trackings internos do partido na véspera das eleições já indicavam o candidato com um porcentual entre 45% e 50% dos votos. Ainda assim, dada a dificuldade do feito, no começo da tarde, de cima do palco montado no diretório do partido em São Paulo, o animador da militância pedia respeito aos outros candidatos, de olho em evitar rusgas com potenciais aliados no segundo turno.

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A vitória cai com uma ducha de água fria principalmente no PT, que nutria grande expectativa de ir ao segundo turno. O candidato à reeleição Fernando Haddad (PT) vinha crescendo nas pesquisas e a boca de urna do Ibope indicava que ele tinha 20% das intenções de votos válidos, contra 48% do tucano. Mas o resultado representa, sobretudo, uma vitória pessoal do governador Geraldo Alckmin – que apostou suas fichas e prestígio no novato. Alckmin bancou a candidatura de Doria contra boa parte dos integrantes de seu partido, provocando um racha na legenda que culminou na saída do vereador Andrea Matarazzo para o PSD. O resultado do afilhado dá força ao governador na busca pela indicação do partido para disputar a Presidência da República em 2018. Não à toa, o diretório do PSDB em São Paulo foi tomado por gritos de “Geraldo presidente 2018”.

O político que renega a política

Pupilo do governador Geraldo Alckmin (PSDB), o tucano largou a disputa na lanterna, como uma incógnita e apenas 5% das intenções de voto. Pesquisas preliminares apontavam que ele era menos conhecido entre o eleitorado do que Levy Fidelix. Com uma coligação de oito partidos, que rendeu a ele o maior tempo de televisão, o empresário à frente do Lide logo saiu do anonimato, apresentando-se como um outsider – “sou um empresário, não um político” -, um João que passou dificuldades na adolescência, mas acabou bem sucedido nos negócios.

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Na propaganda eleitoral, o empresário, que declarou 180 milhões de reais em bens à Justiça Eleitoral, o que incluía dois Porsches e uma mansão em Campos de Jordão (SP), tentou afastar a pecha de “riquinho”. No início da campanha, chegou a pedir aos jornalistas que não o fotografassem comendo. Não gostou de ter sido “flagrado” abocanhando um pastel e tomando um café com expressão de nojo. Por vezes, levou isso na brincadeira. Símbolo máximo dos antipetistas, a coxinha era quase onipresente em suas caminhadas por São Paulo.

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O empresário foi o que mais gastou com a campanha – 13,03 milhões de reais. Também o que mais tirou do próprio bolso para se bancar – 2,9 milhões de reais, quase metade do total arrecadado até agora, de 6,2 milhões de reais. Ganhou evidência nos debates ao se contrapor à gestão do petista Fernando Haddad. Com o slogan “Acelera São Paulo”, prometeu aumentar a velocidade das Marginais Tietê e Pinheiro logo na semana seguinte à eventual posse e acabar com sete secretarias da administração, entre elas das Mulheres e das Pessoas com Deficiência e outras duas (Juventude e LGBT) que nem existiam. Também fez uma ampla defesa das privatizações, anunciando que pretende vender o autódromo de Interlagos e o Anhembi e conceder à iniciativa privada faixas exclusivas de ônibus, parques municipais e o estádio do Pacaembu.

Com o discurso antipetista, Doria ganhou largo apoio de grupos que saíram às ruas contra a ex-presidente Dilma Rousseff, como o Movimento Brasil Livre, mas encontrou forte resistência dentro do próprio partido, que se dividiu entre a sua candidatura e a do vereador Andrea Matarazzo. O vereador acabou deixando o partido, disparando aos quatro ventos que Doria havia comprado os diretórios zonais, para ser vice de Marta pelo PSD. Para dirimir as críticas de que não era benquisto nem pelos seus, a campanha exibiu na última semana um vídeo em que caciques do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves, aparecem declarando voto a Doria. A ausência do ministro das Relações Exteriores José Serra, que já foi prefeito e governador de São Paulo, foi sentida.

Apesar de se mostrar como alguém de fora da política, o candidato contou com largo apoio de Alckmin, que apareceu ao seu lado em comícios e vídeos de campanha. Uma eventual vitória do tucano no segundo turno fortaleceria a posição do governador dentro do partido para se lançar candidato à Presidência em 2018. Na última semana, o Ministério Público Eleitoral pediu a cassação da chapa de Doria e uma punição a Alckmin por abuso de poder. Segundo o promotor José Carlos Bonilha, o governador usou a máquina do Estado, ao nomear um secretário estadual de um partido aliado, para beneficiar o candidato.

Outro ponto que foi levantado pelos adversários e gerou desgaste para a campanha foi ele ter incorporado a uma propriedade sua, em Campos de Jordão, uma área pública de 365 metros quadrados. A Justiça determinou a reintegração de posse imediata do terreno e o candidato se viu obrigado a anunciar que a devolveria, apesar de ter dito que poderia recorrer da decisão.

Quem é o novo prefeito

Nascido em dezembro de 1957, Doria é filho do político João Doria, que precisou deixar o país ao ter os direitos políticos cassados logo após o golpe militar de 1964. A família se exilou em Paris e retornou ao Brasil dois anos depois. Doria Júnior começou a trabalhar aos treze anos na fábrica de fraldas no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde sua mãe trabalhava. Dois anos depois, conseguiu seu primeiro estágio em uma agência de publicidade.

A partir desse emprego, estabeleceu uma carreira na área de publicidade, como comunicador e apresentador de televisão. Ainda na faculdade, assumiu um cargo de direção na antiga TV Tupi e depois tornou-se diretor na TV Bandeirantes. Apesar de negar ser político, foi presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) durante o governo Sarney e antes exerceu cargos na prefeitura de São Paulo durante a gestão de Mario Covas. Doria foi Secretário de Turismo e presidente da Paulistur.

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A partir da década de noventa, montou sua própria produtora e participou de programa de entrevista ligados a área empresarial e personalidades na Rede Manchete, RedeTV! e novamente na Rede Bandeirantes.

Em 1992, também criou o Grupo Doria para promover eventos empresariais no Brasil e no exterior. A partir desta iniciativa, fundou também em 2003, o Lide – Grupo de Líderes Empresariais, que reúne mais de 1.600 empresas nacionais e municipais, que representam 52% do PIB brasileiro.

O fracasso petista

Mesmo tendo a máquina administrativa nas mãos, o prefeito Fernando Haddad não conseguiu engrenar nas pesquisas até a última semana. Colheu os frutos dos altos índices de rejeição e da onda antipetista que tomou conta do país, especialmente de São Paulo. No início da campanha, evitou nacionalizar o debate por causa da impopularidade da ex-presidente Dilma Rousseff. Terminado o processo do impeachment, no entanto, mudou de estratégia e passou a associar a sua campanha ao movimento “fora Temer” e a acusar os três adversários de apoiarem o governo “ilegítimo” do presidente Michel Temer.

Réu por corrupção e lavagem de dinheiro e acusado de ser o “comandante máximo” do petrolão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, só apareceu na reta final da campanha em comícios para chamar a militância. Na propaganda da TV, ele não deu as caras. Em 2012, Haddad foi eleito como o “segundo poste de Lula”, depois da vitória de Dilma para a Presidência.

Preferido entre os eleitores mais ricos e escolarizados, Haddad não conseguiu emplacar nas zonas periféricas, tradicionais redutos do PT. Desde o primeiro dia de campanha, focou em mostrar os programas executados durante a sua gestão – implantação das faixas exclusivas de ônibus e ciclovias, Paulista fechada para atividades de lazer, Braços Abertos, redução da velocidade das Marginais, entre outros. Foi prejudicado – e bastante atacado – por não ter tirado do papel boa parte das metas definidas por sua administração. O prefeito culpou a crise econômica pelo não cumprimento das promessas. Com dificuldades de crescer nas pesquisas, o petista tentou se aproximar de Luiza Erundina (PSOL), que resistiu até o final do primeiro turno, dizendo que a sua candidatura era a “única de esquerda” em São Paulo. Num gesto para atrair a militância, Haddad ainda chegou a propor o passe livre para desempregados. Não funcionou.

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