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Em encontro tenso, PSDB paulista não decide sobre apoio a Temer

Maioria dos militantes presentes pregava o desembarque do governo, mas recado de Alckmin levado por João Doria fez reunião terminar sem qualquer definição

Por Eduardo Gonçalves
Atualizado em 6 jun 2017, 20h38 - Publicado em 5 jun 2017, 22h37

Repleta de idas e vindas e discursos divergentes, a reunião do diretório estadual do PSDB de São Paulo acabou nesta segunda-feira sem nenhuma definição sobre se o partido deve ou não continuar no governo do presidente Michel Temer (PMDB). A maioria dos militantes presentes pregava o desembarque, mas no fim sobressaiu a voz do prefeito João Doria, que, como ele próprio declarou, trazia a mensagem do governador Geraldo Alckmin: “Ao PSDB não cabe tomar uma decisão agora”.

Doria tinha compromissos marcados para o horário do encontro e sua chegada não era esperada. Ele, no entanto, resolveu aparecer de última hora e “apagar o incêndio”, conforme definiu um militante. “Se é para decidir o que o governador e o prefeito querem, então não chama a militância. Isso é uma palhaçada. Isso é o PSDB: muro”, reclamou o deputado estadual Coronel Telhada.

As declarações do presidente do diretório do PSDB paulista, Pedro Tobias, o responsável por convocar a reunião, deram uma boa demonstração da posição dúbia da legenda. À plateia ele anunciou que informaria à Executiva Nacional de que a maioria da base quer a saída do governo, medida a qual ele também defende. Aí Doria chegou, anunciou que falava em nome do governador e que o “inimigo efetivo” do PSDB deveria ser o PT, e Tobias recuou: “O PSDB não tem posição. Me deixem em paz. Vocês querem ver sangue. Vamos analisar amanhã”, disse a jornalistas que lhe cobravam a opinião do diretório. Era esperada uma votação sobre a questão entre os cerca de 300 militantes presentes, mas ela acabou não acontecendo.

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A reunião durou cerca de 3 horas e foi marcada por discursos enfáticos tanto de ataque como de apoio ao governo Temer. O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), afirmou que o partido passa por uma crise de identidade e não poderia perder a coerência. “Que vergonha saber que o partido que nós apoiamos faz reunião na madrugada, o que parece o encontro de um religioso com uma prostituta”, disse ele, lembrando que o ex-governador Mario Covas nunca aceitaria isso. Acompanhou-o na mesma linha o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê Macris, dizendo que apoiar as reformas não significa permanecer com Temer.”Os fins não podem justificar os meios”.

O deputado estadual Barros Munhoz (PSDB), por sua vez, fez duras críticas à investigação da Procuradoria-Geral da República que resultou em um inquérito aberto contra Temer com base na delação da JBS. Ele classificou as ações como o “maior escândalo do judiciário brasileiro”. “É uma ditadura que está se implantando. É muito mais perniciosa que a ditadura militar”, disse ele, acrescentando que a corrupção no Judiciário é maior do que no Legislativo e Executivo. Munhoz é líder do governo na Alesp e um dos maiores apoiadores de Alckmin.

Lideranças

As lideranças de Brasília adotaram um tom mais moderado, mas não esconderam as divergências internas do partido. O deputado Carlos Sampaio (PSDB) afirmou que as lideranças definiram como “data fatal” para o desembarque o início do julgamento no TSE com o intuito de se diferenciar de siglas como PT, PSOL e PCdoB, que já antes da delação da JBS encampavam o ‘Fora Temer’. Para ele, no entanto, tudo leva a crer que o presidente será inocentado na corte e que ele não renunciará. Por isso, defende que o partido entregue todos os ministérios no governo e continue dando apoio às reformas. “O PSDB não pode ter ética de bambu”, disse.

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O senador José Aníbal (PSDB), por outro lado, afirmou que, no momento em que aceitou integrar o governo Temer, o partido “assinou um contrato” que não pode ser rompido às pressas. Referindo-se a Alckmin como uma “liderança nacional”, Aníbal destacou que os tucanos devem pensar nas eleição de 2018 no sentido de manter um “processo racional de sucessão presidencial” para impedir o surgimento de salvacionistas, como o ex-presidente Lula (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo ele. “Esse espírito de tentar resolver as coisas de bate e pronto leva a muitos equívocos. A posição sensata é: ‘vamos esperar o TSE'”, completou.

O posicionamento do diretório paulista, o maior do país, é considerado crucial para pressionar a bancada do Congresso a sair de cima de cima do muro – o do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul já decidiram pelo desembarque. O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, convocou também para esta segunda uma reunião com parlamentares em Brasília. Militantes paulistas viram nisso uma manobra para esvaziar a reunião do diretório, na qual só compareceram os deputados federais Vanderlei Macris, Carlos Sampaio e Miguel Haddad – o grosso da plateia mesmo era formado por deputados estaduais, vereadores, prefeitos e delegados do partido.

Na última sexta-feira à noite, o presidente Michel Temer viajou a São Paulo para se encontrar com Alckmin numa tentativa de impedir a debandada do PSDB, tido como o principal pilar do seu governo. As tratativas, pelo jeito, deram resultado. Alckmin não compareceu à reunião de hoje, mas o seu pupilo transmitiu à militância o recado combinado com o chefe. “Tudo o que eu falar aqui falo autorizado pelo governador. (…) Ser guerreiro é saber guerrear, é saber usar as armas na hora certa para vencer a luta e não para precipitá-la. Muitas vezes, pelas boas causas, a precipitação pode levar à fragilização de um guerreiro. Pode condenar um exército vitorioso à derrota”, exclamou Doria.

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