Denúncias da JBS causam ‘espanto e indignação’, diz CNBB
Representação mais importante da Igreja Católica no Brasil defende 'rigorosa apuração' de denúncias e crise demanda o 'resgate da ética na política'
Em nota oficial divulgada nesta sexta-feira, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), representação mais importante da Igreja Católica no país, declarou que “acompanha, com espanto e indignação, as graves denúncias de corrupção política acolhidas pelo Supremo Tribunal Federal”. Homologada pelo STF, a delação premiada do empresário Joesley Batista contém acusações contra nomes importantes da política brasileira, incluindo gravações com o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
Na avaliação da CNBB, os fatos narrados demandam “rigorosa apuração, obedecendo-se sempre as garantias constitucionais” e, uma vez apurados, “os autores dos atos ilícitos devem ser responsabilizados”. A Confederação ressalta que cabe a todos os servidores públicos manter uma “conduta íntegra, sob pena de não poder exercer o cargo que ocupa”.
Assinado pelo cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília, o texto diz que “é necessário que saídas para a atual crise respeitem e fortaleçam o Estado democrático de direito”. Ele ressalta que a situação “exige o resgate da ética” e um “novo modo de fazer política, alicerçado nos valores da honestidade e da justiça social”.
No final de abril, quadros importantes da Igreja Católica entraram em conflito com o governo ao se colocarem a favor da greve geral e contra as reformas econômicas, por temerem que elas onerassem ainda mais os mais pobres. O presidente se incomodou e chegou a convocar uma reunião no Planalto com o núncio apostólico (representante do Vaticano no Brasil), dom Giovanni D’Aniello, para apresentar e defender as reformas. Com a nota desta sexta-feira, os bispos brasileiros voltam a se posicionar sobre a situação política e são mais uma voz a pedir a apuração das novas denúncias contra a classe política.
Leia a íntegra da nota da CNBB:
Pela Ética na Política
Nota da CNBB sobre o Momento Nacional
“O fruto da justiça é semeado na paz” (Tg 3,18)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, por meio de sua Presidência, unida aos bispos e às comunidades de todo o país, acompanha, com espanto e indignação, as graves denúncias de corrupção política acolhidas pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo a Constituição, Art. 37, é dever de todo servidor público, principalmente os que detêm elevadas funções, manter conduta íntegra, sob pena de não poder exercer o cargo que ocupa.
Tais denúncias exigem rigorosa apuração, obedecendo-se sempre as garantias constitucionais. Apurados os fatos, os autores dos atos ilícitos devem ser responsabilizados. A vigilância e a participação política das nossas comunidades, dos movimentos sociais e da sociedade, como um todo, muito podem contribuir para elucidação dos fatos e defesa da ética, da justiça e do bem comum.
A superação da grave crise vivida no Brasil exige o resgate da ética na política que desempenha papel fundamental na sociedade democrática. Urge um novo modo de fazer política, alicerçado nos valores da honestidade e da justiça social. Lembramos a afirmação da Assembleia Geral da CNBB: “O desprezo da ética leva a uma relação promíscua entre os interesses públicos e privados, razão primeira dos escândalos da corrupção”. Recordamos também as palavras do Papa Francisco: “Na vida pública, na política, se não houver a ética, uma ética de referimento, tudo é possível e tudo se pode fazer” (Roma, maio de 2013). Além disso, é necessário que saídas para a atual crise respeitem e fortaleçam o Estado democrático de direito.
Pedimos às nossas comunidades que participem responsável e pacificamente da vida política, contribuam para a realização da justiça e da paz e rezem pelo Brasil.
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos ajude a caminhar com esperança construindo uma nova sociedade.
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB