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Caça ao tucano

A construção de um aeroporto, impecável do ponto de vista legal mas discutível eticamente, acirra a guerrilha suja da internet contra Aécio Neves

Por Carolina Daher e Glória Tupinambás
30 jul 2014, 20h31

Nenhum político brasileiro sofreu antes ataques tão violentos e fantasiosos na internet como o senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República. Quanto mais aumentam as chances de Aécio nas pesquisas de intenção de voto, mais cresce a virulência da quadrilha que o pôs na mira. Muitos dos membros dessa falange utilizam computadores de órgãos do governo e de estatais, em um flagrante de uso imoral e criminoso da máquina pública para destruir um candidato da oposição. Aécio Neves conseguiu abrir processos para tentar conter a ofensiva, e a polícia e a Justiça já localizaram alguns dos principais focos geradores de calúnias divulgadas na internet por adversários do tucano pagos com o dinheiro dos brasileiros ou que usam a infraestrutura pública para disseminar barbaridades contra o senador mineiro.

Alguém que se informe sobre Aécio apenas pelas mentiras difundidas pela guerrilha suja da internet vai ter do oposicionista a imagem de um monstro capaz de usar a própria filha para carregar malas cheias de diamantes para o exterior, tomar terras de miseráveis e, entre uma crueldade e outra, entregar-se a todo tipo de bebida e droga. Com trinta anos de vida pública, neto de Tancredo Neves, duas vezes governador de Minas Gerais, deputado federal, senador, sempre bem avaliado em suas gestões e mandatos, Aécio, obviamente, não pode ter sua biografia desmontada pelos guerrilheiros oficiais na internet. Mas eles vão continuar tentando.

Se não precisa de fatos para atacar Aécio Neves, a quadrilha virtual, certamente, comemorou na semana passada a notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo que revela que, quando era governador de Minas, Aécio construiu ou asfaltou cerca de trinta pistas de pouso em cidades do interior do estado, sendo uma delas em Cláudio, terra natal de sua avó materna, Risoleta Neves, onde o candidato tucano tem uma fazenda que fica a 6 quilômetros da pista em questão. Como atesta o Ministério Público, que em 2009 investigou e confirmou a legalidade da obra de Aécio em Cláudio, não houve nenhum dano ao Erário, desperdício ou corrupção. Mas desde o Império Romano é sabido que, aos olhos da opinião pública, não basta ser correto, é preciso parecer correto. No caso de uma campanha eleitoral, um candidato de oposição à Presidência da República, e com boas chances de vencer o pleito, pode ver uma faísca qualquer transformar-­se em um incêndio incontrolável.

“A obra foi feita dentro dos requisitos técnicos do programa de asfaltamento e melhorias dos aeroportos”, disse Aécio. Não há dúvida sobre isso. O fato de Aécio usar a pista quando vai à sua fazenda em Cláudio deveria ter acendido um alarme na cabeça do então governador de Minas e ele deveria ter feito a coisa certa: vetar as melhorias da pista. Procedimento ético, aliás, que ele seguiu fielmente no caso de outros melhoramentos de infraestrutura em Minas Gerais quando, mesmo amparados pelas melhores justificativas técnicas, eles pudessem beneficiá-lo ou a seus parentes. Agiu assim quando não permitiu que o asfaltamento de uma estrada de rodagem chegasse à fazenda de seu pai no norte mineiro. Foi assim quando, como governador, litigou em favor do Estado contra o próprio pai em um processo de posse de terras. Esse processo tramitou por doze anos e só foi decidido na instância máxima, o pleno do Supremo Tribunal Federal (STF), que, por unanimidade, reconheceu os direitos de Aécio Cunha, pai do tucano. Ironia do destino, Aécio Cunha morreu antes da sentença favorável de cuja redação consta a observação dos ministros do STF de que o Estado de Minas Gerais “litigou de má-fé”, tão claros eram os direitos de Aécio Cunha.

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O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, discursa durante sabatina promovida pela CNI, em Brasília
O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, discursa durante sabatina promovida pela CNI, em Brasília (VEJA)

Com o objetivo de aperfeiçoar o escoamento da produção agrícola e industrial do estado, até o ano passado, o Programa de Infraestrutura Aeroportuária (ProAero) havia investido 330 milhões de reais na construção, reforma e modernização de 24 aeroportos mineiros. As obras incluíram desde simples adequações de pistas – como a de Guanhães, no Vale do Rio Doce, orçada em 350 000 reais – até a ampliação do Aeroporto Regional da Zona da Mata, próximo de Juiz de Fora, no valor de 106,8 milhões de reais.

A construção do aeroporto de Cláudio, pivô da atual crise na campanha tucana, é parte desse pacote. Ele foi erguido a partir de uma pista de terra batida construída em 1983, quando Tancredo Neves, avô de Aécio, era governador de Minas. O asfaltamento da pista, o sistema de iluminação mais a construção de instalações de atendimento e apoio custaram ao estado 13,9 milhões de reais. A escolha de Cláudio para receber o investimento, segundo o governo, se deu pela relevância econômica do município – um polo que reúne em torno de 120 indústrias metalúrgicas e de fundição. “Já pleiteávamos a pavimentação da pista desde o tempo em que o Aécio era deputado federal”, afirma Braulio Campos, presidente da Fundimig, uma das maiores empresas do setor na região.

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Dois aspectos do episódio deram margem aos ataques dos adversários do tucano. O primeiro é que o aeroporto está situado em uma área que pertenceu à fazenda de um tio-­avô do senador, Múcio Guimarães Tolentino. O segundo é que a pista fica a 6 quilômetros da Fazenda da Mata, de propriedade da família de Aécio. Ambos os pontos foram usados para que adversários acusassem o candidato do PSDB à Presidência de ter feito a obra com a finalidade de beneficiar sua família.

No aspecto legal, não há o que discutir, como atestou o Ministério Público depois de cinco anos de investigação. O terreno onde está localizado o aeroporto pertence ao estado, que pagou 1 milhão de reais pela desapropriação, e só não obteve ainda o registro porque Tolentino contesta o valor na Justiça. Ele quer 9 milhões de reais de indenização. “As explicações apresentadas pela Secretaria de Transporte e Obras Públicas mostraram-se satisfatórias, não se vislumbrando nenhuma irregularidade que justifique a adoção de medidas outras pelo Ministério Público”, escreveu a promotora Maria Elmira Evangelina do Amaral Dick, da 17ª Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Belo Horizonte. Do ponto de vista moral, porém, a proximidade entre o investimento público e a propriedade privada da família Neves abriu uma brecha que os adversários do tucano não perderam tempo em explorar – e da forma mais virulenta possível. O maestro e grande incentivador e financiador da guerrilha virtual sem leis na internet é Franklin Martins, ex-ministro de Lula. Esperemos seus próximos lances.

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