Após discurso firme, Dilma volta a ser Dilma
Presidente afastada até começou bem, mas voltou a fazer uso do "dilmês" ao ser interrogada
Após um início auspicioso de sua participação na sessão desta segunda-feira do Senado Federal, em que leu quase sem tropeços um discurso firme contra sua condenação por crime de responsabilidade, a presidente afastada Dilma Rousseff voltou a fazer uso do “dilmês” na fase de interrogatório. A retórica confusa que sempre a caracterizou dá o tom das respostas aos senadores.
Com frases emendadas umas nas outras e nem sempre respeitando a lógica, a presidente retomou o uso de metáforas e dos pleonasmos que consagraram o idioma próprio de Dilma. Ao rebater a fala do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que a acusou de não cumprir a Constituição por não seguir a Lei de Responsabilidade Fiscal, Dilma foi redundante ao dizer que a mentira “não tem base na realidade”. “Considero que essa sua acusação é improcedente. Acho que ela é aquela mentira que não tem base na realidade, ou seja, ela não expressa a verdade dos fatos”, disse ela.
Em resposta à senadora Ana Amélia (PP-RS), Dilma comparou o processo de impeachment a uma árvore ao tentar explicar o que entendia como golpe parlamentar. “A diferença consiste que no golpe militar é como se você tivesse uma árvore, que você derruba o governo e o regime democrático. O que tem acontecido no golpe parlamentar é que você tira um presidente eleito por razões que estão fragilizadas pelo fato de que não tem crime de responsabilidade que as sustentem. É como se essa árvore não fosse derrubada, mas atacada por forte e intenso ataque de fungos, por exemplo”, disse a presidente.
Ao contrário da semana passada, em que houve muita discussão e troca de farpas entre os senadores, o interrogatório de Dilma segue em clima cordial. Favoráveis ao impeachment, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Ana Amélia Lemos (PP-RS) fizeram questão de dizer que respeitam a biografia de Dilma e a sua posição como mulher, mãe e avó. A presidente, por sua vez, rebateu os argumentos da acusação com aparente irritação, mas agradeceu às manifestações de respeito.
Em resposta ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da comissão do impeachment, Dilma fez uma espécie de “mea culpa” em nome do PT, dizendo que “lamenta” o fato de o partido ter votado contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Faço aqui essa confissão clara”, completou. Em seu discurso de 45 minutos na tribuna, a presidente também não fez nenhum aceno à legenda, à qual é filiada desde 2001 e que nos últimos meses se viu às voltas com constantes descontentamentos por falta de diálogo e pelas medidas impopulares do ajuste fiscal.