A nova bancada dos sem-voto no Senado
Após segundo turno das eleições, mais dez suplentes que jamais receberam um voto poderão ganhar quatro anos de mandato no Senado Federal
O eleitor mato-grossense talvez nem desconfie, mas um dos senadores que representará o estado pelos próximos quatro anos chegou ao poder quase por acidente. O vigilante rodoviário José Antonio Medeiros, de 44 anos, nunca disputou uma eleição sequer. Mas vai ter direito ao salário de quase 26 700 reais, à verba de gabinete de 15 000 reais, carro oficial, passagens aéreas e outros benefícios.
Inicialmente, o escolhido para ser o primeiro suplente de Pedro Taques (PDT-MT) era Zeca Viana (PDT), que desistiu do posto em cima da hora. O segundo suplente, Paulo Fiúza (PV), esperava ser “promovido”. Mas, na hora de registrar a chapa, em 2010, Medeiros acabou sendo indicado para a primeira suplência, e não à segunda. Fiúza brigou na Justiça, mas acabou derrotado.
Com a eleição de Taques para o governo do estado neste mês, Medeiros ganhou de presente uma cadeira no Senado – posto que figuras conhecidas como Eduardo Suplicy, Pedro Simon, Olívio Dutra e Paulo Bornhausen não conseguiram conquistar nestas eleições.O episódio só mostra como é pouco criteriosa a escolha dos suplentes que, muitas vezes, chegam ao poder por razões nebulosas.
O mandato de senador é de oito anos. Em muitos casos, o parlamentar acaba se elegendo governador no meio do mandato – ou se afasta por razões diversas. Muitos substitutos se beneficiam com isso. Atualmente, quinze senadores em exercício (18,5% do total) são suplentes.
A partir de 2015, novos sem-voto chegarão à Casa. Dois deles já sabem que assumirão o mandato. Um deles é Medeiros. A outra é Maria Regina Souza (PT), que vai herdar o lugar de Wellington Dias (PT), eleito no Piauí.
Outros oito suplentes dependem do segundo turno da eleição: se os seus titulares se elegerem para cargos no Executivo, os suplentes terão quatro anos de mandato garantidos no Congresso. Nessa lista, há políticos experientes, uma esposa de senador e até um acusado de pedofilia.