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A Moro, Lula classifica Palocci como ‘frio’ e ‘calculista’

Ex-ministro declarou ao juiz federal na semana passada que o ex-presidente firmou 'pacto de sangue' com a Odebrecht. 'Nada é verdadeiro', diz o petista

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 set 2017, 21h35 - Publicado em 13 set 2017, 18h51

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu depoimento ao juiz federal Sergio Moro, nesta quarta-feira, para rebater as declarações do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci que, também em oitiva a Moro, incriminou Lula em um processo da Lava Jato. Segundo Palocci, o petista firmou um “pacto de sangue” com o empresário Emílio Odebrecht ao final de seu mandato, em 2010, que teria rendido a Lula um “pacote de propinas” com obras em seu benefício e 300 milhões de reais para “atividades políticas” depois que deixasse o Palácio do Planalto.

Diante do magistrado, Lula classificou Palocci como “calculista”, “frio” e “simulador”. “Eu ouvi atentamente o depoimento do Palocci. Uma coisa quase que cinematográfica, quase que feita por um roteirista da Globo. ‘Você vai dizer tal coisa, os lides são esses’. Prepararam alguns lides pra ele dizer e ele foi dizendo habitualmente, lendo alguma coisa. Eu conheço o Palocci bem. O Palocci se ele não fosse o ser humano ele seria um simulador. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Palocci é médico, é calculista, é frio”, atacou o ex-presidente.

Lula disse a Moro que “nada é verdadeiro” no depoimento de seu ex-ministro da Fazenda, a não ser a intenção de Antonio Palocci em fazer uma delação premiada para obter benefícios “ou quem sabe um pouco do dinheiro que vocês bloquearam dele”. O ex-presidente ressaltou não ter “bronca” ou “raiva” de Palocci e afirmou que o ex-ministro “tem o direito de querer ser livre” e de “ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra”, mas que ele tenta “jogar” a responsabilidade sobre suas práticas ilícitas sobre outras pessoas.

“Ele inventou a frase de efeito ‘pacto de sangue’ com o Emílio Odebrecht. Ele fez um pacto de sangue com os advogados dele e com o Ministério Público. Ele disse exatamente o que o PowerPoint queria que ele dissesse. Há muito tempo eu leio, escuto, eu converso com advogado e fico sabendo. Todo mundo que é preso, a primeira pergunta é ‘e o Lula, você conhece o Lula? O Lula estava lá? Diga alguma coisa do Lula’ e isso faz dois anos e meio, doutor Moro”, continuou.

O ex-presidente ainda criticou as afirmações de Palocci de que teria atuado ao lado de Lula para atrapalhar as investigações da Lava Jato. “Em algumas oportunidades, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar criar obstáculos à Lava Jato”, declarou o ex-ministro a Sergio Moro na semana passada.

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“Ele termina o depoimento dele da forma magistral que o Ministério Público queria que ele dissesse. ‘O Lula conversou comigo sobre obstrução de Justiça’. Eu venho ouvindo isso há muito tempo. O Delcídio falou a mesma coisa, tá lembrado? Eu venho ouvindo isso. E vou dizer uma coisa. Se tem um cidadão que tem coragem de olhar no seu olho e no olho dos meus acusadores e dizer que tem um cidadão nesse país que tirou o tapete da sala para que a podridão aparecesse, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva”, atacou Lula.

O processo que tem entre os réus o ex-ministro e o ex-presidente apura se a Odebrecht pagou cerca de 13 milhões de reais em propina a Lula por meio da compra de um apartamento vizinho ao do petista, em São Bernardo do Campo, e de um imóvel que serviria como sede ao Instituto Lula, em São Paulo, e acabou descartado. Conforme o Ministério Público Federal (MPF), o dinheiro destinado a Lula teria sido retirado de contratos da empreiteira com a Petrobras.

A ‘desfaçatez’ de Palocci

Diante dos indícios colhidos pelas investigações da Lava Jato de que Antonio Palocci tratou com o empreiteiro Marcelo Odebrecht sobre a compra da sede ao Instituto Lula, o ex-presidente lembrou a Moro a demissão de Palocci do ministério da Fazenda, em 2006, no escândalo envolvendo o caseiro Francenildo Costa, e afirmou que, apesar da relação de “profunda amizade de 30 anos” entre ambos, os encontros com ele desde então não eram frequentes, “de 6 em 6 meses, ou 8 em 8 meses”.

Conforme a denúncia do MPF, a aquisição do imóvel, por 12,4 milhões de reais, foi encaminhada pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, e executada pela construtora DAG a pedido da Odebrecht. Em seu depoimento, Palocci contou ter sido contrário à compra do imóvel de maneira irregular. “Eu não estava de santo na história não. O nosso ilícito com a Odebrecht já estava muito grande naquele momento, eu achei que essa compra não precisava ser um ilícito, não precisava ser um ilícito travestido de lícito”, disse o ex-ministro a Moro.

Ao magistrado, Lula negou o relato do ex-ministro e disse que ele usa de “desfaçatez”. “Ele fala do terreno com a maior desfaçatez. Que foi na minha casa, que conversou com a dona Marisa, que eu pedi pra ele falar com a dona Marisa porque a dona Marisa era muito brava. Eu não sei se ele estava envolvido ou não. Eu só não quero que ele me envolva. Se ele está envolvido, se ele cometeu ilícito, ele que diga que cometeu”, declarou o petista.

“Ele espertamente dizia ‘não é que eu sou santo’, e pau no Lula. É um jeito de você conquistar veracidade na tua frase. Fiquei com pena disso”, completou o ex-presidente.

‘Peça de ficção hilariante’

Questionado pela procuradora Isabel Cristina Groba Vieira, Lula classificou como “peça de ficção hilariante” a afirmação de Antonio Palocci de que intercedeu junto a Marcelo Odebrecht para cobrir um “buraco” de 4 milhões de reais nas contas do Instituto Lula, entre o final de 2013 e o início de 2014, a pedido do presidente da instituição, Paulo Okamotto. Conforme o ex-ministro e o empreiteiro, o dinheiro teria saído da “conta corrente” da propina entre o Partido dos Trabalhadores e a Odebrecht, administrada por Palocci.

“Doutora, essa é a  peça de ficção mais hilariante que eu ouvi na fala do Palocci. Eu, sinceramente, não sei qual é a relação que o ex-ministro Palocci tinha com Marcelo Odebrecht. Os dois têm mais de 35 anos de idade, têm autonomia, conversavam e nunca me pediram para conversar. Se eles conversavam, se tinha fundo, se não tinha fundo, o doutor Palocci que explique, o Marcelo que explique. O dado concreto é que o Emilio Odebrecht, o Marcelo Odebrecht, nunca nenhum empresário discutiu finanças comigo”, completou.

Defesa de Palocci

Por meio de nota divulgada após a publicação do depoimento de Lula, o advogado Adriano Bretas, que defende o ex-ministro Antonio Palocci, afirmou que “enquanto Palocci mantinha o silêncio, ele era inteligente e virtuoso; depois que resolver falar a verdade, passou a ser tido como calculista e dissimulado. Dissimulado é ele, que nega tudo o que lhe contraria e teve a pachorra de dizer que se encontrava raramente com o Palocci a cada 8 meses. Quando lhe foi apresentada a agenda do Dr. Emilio Odebrecht esquivou-se, dizendo que o documento é falso. Essa é a lógica dele: os que o acusam mentem, os documentos são falsos, e só ele diz a verdade”.

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