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Uma brasileira no Vale do Silício

Bedy Yang é mentora da incubadora americana 500 Startups e criou uma plataforma colaborativa para conectar investidores e empreendedores

Por Renata Honorato
31 dez 2011, 11h50

A brasileira Bedy Yang, de 33 anos, é filha de chineses e foi para os Estados Unidos, no início dos anos 2000, estudar o acelerado crescimento da economia da China. Lá, percebeu que o mercado brasileiro começava a oferecer grandes oportunidades para quem quisesse se arriscar no segmento da inovação tecnológica. Ela passou a atuar como uma intermediadora entre investidores americanos e empreendedores brasileiros. Além de fazer parte do grupo de investidores da 500 Startups, fundo americano que aplica entre 10.000 e 250.000 dólares em empresas em estágio inicial, a brasileira criou uma plataforma on-line colaborativa, a Brazil Innovators, por meio da qual encontra parceiros em potencial: dez novos negócios já foram garimpados ali. Seus gestores são levados para uma imersão no Vale do Sílicio, em um programa chamado Brazil Innovators Fellows. Na entrevista a seguir, Bedy fala sobre o potencial do Brasil. “O interesse pelo país é impressionante”, diz.

Como você foi parar no mundo das startups? Estudei na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e depois me mudei para os Estados Unidos, onde me especializei na economia da China. Fui para a Ásia e quando voltei para a América percebi que tinham muitas oportunidades ligadas ao Brasil no Vale do Silício.

À época, você trabalhava com organizações governamentais. Como foi essa transição para o setor de tecnologia? Por volta de 2008, eu fiz muitos contatos no Vale do Silício e entrei de cabeça nesse mundo de empreendedores digitais e investidores. Em um evento global que reunia gente da Grã-Bretanha, da Alemanha, da Argentina, da Colômbia, conheci Dave McClure, um dos investidores mais ativos do Vale. Ele me chamou para a sua equipe e comecei a participar de muitos encontros similares. O que me desapontou é que não havia um brasileiro nesses debates. Ninguém sabia o que estava acontecendo no Brasil. Percebi, então, que era preciso criar uma comunidade que pudesse trazer dados sobre o nosso mercado para os investidores do Vale do Silício e, ao mesmo tempo, aproveitar as informações difundidas naquele ambiente favorável de criação e inovação.

Assim surgiu o Brazil Innovators? No começo era uma rede informal de pessoas. Organizei eventos no Vale do Silício e fui entender junto a espanhóis, suíços e franceses como eles operavam suas startups. Perguntei quais atividades eram importantes para fomentar uma comunidade de empreendedores estrangeiros e descobri que a melhor opção, com o menor custo, seria levar um grupo de empresários brasileiros para o Vale do Silício. A experiência abriu muitas portas para os empreendedores que participaram do programa: todos eles conseguiram investimentos.

Qual o objetivo do Brazil Innovators? Trabalhamos com empreendedorismo e inovação. Incentivamos o empreendedor a pensar grande e a enfrentar riscos. Temos essa comunidade, através da qual fico sabendo o que está sendo desenvolvido no Brasil. Como vivo no Vale do Silício, tenho como fazer as melhores conexões. Claro que só isso não basta. Precisamos de empresas de sucesso fazendo parte dessa rede e apoiando os novos empresários.

Arte - Startup
Arte – Startup (VEJA)
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Muitas startups quebram mesmo após sucessivos investimentos. Como os empreendedores do Vale do Silício encaram o fracasso? No Vale do Silício as pessoas aceitam o risco. O fracasso é visto como uma coisa importante. Se um negócio não deu certo, o investidor pergunta ao empreendedor o que ele aprendeu com o erro. Se tiver de escolher entre duas boas ideias, provavelmente vou preferir aquela cujo dono já se arriscou antes, mesmo que o empreendimento tenha fracassado.

No Brasil, as pessoas não saem da universidade prontas para montar um negócio. Os recém-formados sonham em ocupar cargos de gerência na Vale ou na Coca-Cola. Em sua opinião, esse é um problema para o empreendedorismo no país? Esse é um problema muito grande. Estamos conversando com algumas escolas de administração renomadas do país, como USP, Fundação Getulio Vargas e Unicamp. A ideia é criar parcerias e programas para fomentar o empreendedorismo no Brasil através de eventos e incentivos. Os alunos precisam de espelhos, e casos de sucesso fazem com que eles se sintam motivados a buscar investimento para seus projetos.

Nos Estados Unidos é muito diferente? Nos Estados Unidos, há muito contato entre os investidores e o pessoal da Universidade de Stanford, por exemplo. Muitos dos investimentos realizados através da 500 Startups são feitos em pessoas que saem de grandes escolas.

Muitos brasileiros empreendedores têm a Universidade de Stanford ou a Harvard Business School em seu currículo. É imprescindível passar por essas escolas antes de montar um negócio de sucesso? Não é bem assim. A diferença dessas pessoas é que elas fizeram bons contatos nos Estados Unidos e descobriram que o empreendedorismo é uma opção. Claro que é possível sair de uma universidade brasileira e criar um negócio. A pessoa não precisa ter trabalhando anteriormente em uma consultoria ou ter passado por um MBA para criar uma startup com potencial.

Quais são os melhores casos brasileiros de empresas que começaram como startups? Buscapé, Apontador e Peixe Urbano.

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Esse movimento pelo qual o Brasil está passando é mesmo especial? Esse é um momento muito especial e não sei quanto tempo vai durar. O interesse no exterior pelo Brasil é impressionante. O país está sendo visto como a China no passado, que atraía todas as atenções e enormes investimentos. Quem entrou na China quer entrar no Brasil. Quem não entrou, não quer perder o bonde novamente.

Quanto é investido em média em uma startup no Brasil? Grandes empresas, como a Tiger e a Accel Partners, investem cerca de 1 milhão de dólares em cada nova startup. Uma empresa que já conseguiu capital anteriormente pode captar até 2 milhões de dólares. Na segunda fase de investimento, os valores giram em torno de 10 milhões.

Quais são os setores mais promissores e onde é mais fácil conseguir investimento? Nitidamente, e-commerce e games sociais. Essas são as áreas que estão em voga. Os investidores preferem apostar em formatos onde se sintam mais confortáveis, ou seja, áreas onde o Brasil esteja indo muito bem. Pessoalmente, eu acredito muito em educação e saúde, mas o investidor não conhece ainda esse nicho de mercado.

Quais as perguntas mais recorrentes dos investidores estrangeiros sobre o mercado brasileiro? Eles estão interessados em números. Primeiro eles veem o Brasil na capa da The Economist, depois no The New York Times. O que os investidores procuram são dados – quantidade de internautas, celulares, banda larga. Lá no Vale do Silício, criei uma diáspora brasileira, composta por brasileiros que fizeram as melhores universidades e ocupam importantes cargos em empresas como Google, Facebook e Twitter, além de cinco investidores do país. Ao todo, 50 pessoas fazem parte da rede. Por conhecer melhor o Brasil, eles criam pontes entre as startups e as grande companhias onde trabalham e explicam para o investidor estrangeiro o que é o mercado brasileiro de internet. Esse é o caminho. Quando a China começou a crescer, 80% do investimento externo veio da comunidade chinesa nos Estados Unidos, composta de imigrantes que haviam estudado e construído carreira no país. O mesmo aconteceu com os indianos e israelenses.

O que você procura quando está no papel de investidora? Eu acredito muito na equipe. Por isso, gosto de eventos em que o empreendedor tem um final de semana para colocar em prática a sua ideia. Nessas atividades, conseguimos ver o quão rápido um time se adequa às mudanças propostas pelo corpo de avaliação. Procuro também equipes completas, que não necessitem terceirizar suas funções. No caso da 500 Startups, trabalhamos com pequenas parcelas de investimento. Uma empresa que captou 1 milhão de dólares, por exemplo, recebe inicialmente 50.000 dólares. Após três ou quatro meses, avaliamos o desempenho e decidimos se a equipe precisar receber uma parcela maior de capital.

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