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Punir abusos — e só os abusos: um desafio para o Facebook

"Nem sempre é possível compreender o contexto de uma postagem", diz Monika Bickert, chefe do time que pode remover conteúdos do serviço

Por Da Redação 14 out 2015, 07h49

Pouca gente chia quando o Facebook retira do ar posts com decapitações promovidas pelo Estado Islâmico ou sexo explícito. A gritaria começa quando a rede remove conteúdos que não chegam aos extremos. É o caso de uma publicação feita pelo Ministério da Cultura em abril que mostrava uma indígena brasileira como ela sempre esteve – nua (a rede apagou o conteúdo e depois voltou atrás) – e também um post do jornal Folha de S. Paulo de 2013 que ilustrava uma reportagem sobre um beijaço gay, também com seios à mostra. Nada de seios à mostra decidiu o Facebook.

O procedimento do Facebook é regido pelos chamados Padrões de Comunidade (vale a pena visitar a página), que por sua vez são regidos pela americana Monika Bickert, que esteve no Brasil na semana passada para ouvir e ser ouvida acerca do tema em um encontro com jornalistas. Ela resume desta forma a tarefa, que também diz muito sobre as controvérsias ocorridas: “É um trabalho interessante, mas desafiador.”

O desafio, pela descrição de Monika, tem ao menos três razões. A primeira: a rede impõe aos mais de 1,5 bilhão de usuários espalhados pelo mundo um único conjunto de “padrões de comunidade”, na prática, um documento que explica “tipos de compartilhamentos permitidos no Facebook e os tipos de conteúdos que podem ser denunciados e removidos”. Isso significa que todos, a despeito de diferenças locais, estão sujeitos às mesmas normas. Por exemplo: a rede pode apagar postagens que representem uma ameaça a uma pessoa ou grupo, promovam bullying ou pornografia infantil. “Nos focamos na tarefa de manter a comunidade em segurança”, diz. Críticas que não configurem ameaças diretas não provocam remoção. “Entendemos que elas fazem parte do debate público.”

A segunda razão é o próprio volume de conteúdos acusados de cometer algum tipo de abuso. Segundo Monika, semanalmente, os usuários da rede fazem milhões de denúncias, apontando como impróprios textos, fotos, vídeos, páginas… O Facebook age por reação. Espalhados pelos cinco continentes, revisores (Monika não revela quantos) avaliam se as denúncias fazem sentido à luz dos “Padrões” e decidem se o conteúdo segue no ar ou não – a tarefa nada tem a ver com remoções determinadas pela Justiça. “Operamos 24 horas por dia, sete dias por semana. Não é um trabalho perfeito, mas damos duro para que tenhamos um revisor com conhecimento necessário à avaliação do conteúdo denunciado, em qualquer língua.”

Monika Bickert, responsável pelos Padrões da Comunidade
Monika Bickert, responsável pelos Padrões da Comunidade (VEJA)
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O terceiro (mas não menos importante) desafio diz respeito à objetividade dos revisores na lida diária. Segundo Monika, a rede redesenhou os “padrões” em março tentando evitar que conceitos pouco precisos dessem margem a interpretações pessoais por parte dos avaliadores. Assim, foram definidas situações que configuram bullying, discurso de ódio ou mesmo autoflagelação, que a rede também veda a fim de não estimular o comportamento.

Monika não faz comentários específicos sobre os episódios da indígena nua ou do beijaço gay. Prefere evocar os “padrões”, que não permitem fotos exibindo órgãos genitais nem topless – os seios são liberados em alguns casos, como amamentação ou registros pós-cirúrgicos. “Existe a restrição pois essas são situações que exigiriam consentimento da pessoa em destaque nas fotos, e também para coibir a pornografia. As imagens que não se adequam completamente aos padrões, em geral, são removidas.”

Mas o calcanhar de Aquiles do processo parece estar em outro ponto: “Nem sempre é possível aos revisores compreender o contexto de um post”, diz Monika. É ironia? É brincadeira? É a identidade de um grupo? Como descobrir? Eis a brecha para malentendidos e, portanto, gritaria.

Antes de assumir um posto como advogada do Facebook, há cerca de três anos e meio, Monika trabalhava como procuradora do Departamento de Justiça americano. Lidava com questões ligadas a abusos contra mulheres, exploração de crianças e até terrorismo – ameaças que ela tenta manter distantes da rede também. Há dois anos, migrou para a chefia da operação dos Padrões de Comunidade. “Quando assumi a função, achava que se tratava de manter o equilíbrio entre liberdade de expressão e segurança. Minha percepção a respeito mudou. Hoje, acredito que manter a comunidade em segurança é o que ajuda as pessoas a se expressar, porque nessas condições elas realmente percebem que podem soltar sua voz.”

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