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Pressa para investir em tecnologia alimenta bolha na web

Por Claire Cain Miller - The New York Times
9 jul 2011, 13h45

O que aconteceria se você desse uma festa de 41 milhões de dólares e ninguém aparecesse? Uma companhia iniciante chamada Color conhece esse sentimento.

Em março, a Color revelou seu aplicativo de compartilhamento de fotos para celulares – e revelou também que havia angariado 41 milhões de dólares de investidores, antes que o aplicativo tivesse um único usuário. A despeito das riquezas da companhia, o aplicativo aterrissou com um baque, atraindo poucos usuários e muitas reclamações daqueles que realmente o testaram.

“O aplicativo seria inútil mesmo se eu conseguisse entender como ele funciona”, escreveu um crítico na App Store da Apple.

Desde então, a Color se tornou um sinal de alerta para investidores, empreendedores e analistas que temem a existência de uma bolha na área de investimentos iniciais. Eles dizem que isso mostra que os capitalistas de risco, desesperados em investir no próximo Facebook ou LinkedIn, estão distribuindo dinheiro às cegas para startups que não demonstraram que possam construir alguma coisa útil, quanto mais um negócio que consiga trazer retornos decentes de investimento.

A Color, que diz estar revisando seu aplicativo, é apenas um dos iniciantes que ficaram de boca aberta sobre a bolha de excesso no Vale do Silício. A companhia The Melt planeja vender sanduíches de queijo quente e sopa, que as pessoas possam pedir de seus telefones celulares. Ela levantou algo em torno de 15 milhões de dólares da Sequoia Capital, que também investiu na Color.

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O Airbnb, que ajuda as pessoas a alugarem quartos em suas casas, está levantando capital de risco que irá valorizá-lo em um bilhão de dólares. O Scoopon, um tipo de Groupon para australianos, conseguiu 80 milhões; o Juice in the City, um site de compras coletivas para mães, levantou 15 milhões. É claro que esses podem se tornar negócios de sucesso. A preocupação, dizem os investidores, são os preços.

Eles dizem que têm pago duas ou três vezes mais do que no ano passado por suas participações nessas startups. Segundo a National Venture Capital Association, os capitalistas de risco investiram 5,9 bilhões de dólares nos três primeiros meses deste ano, 14% a mais do que no ano passado, mas os investimentos foram feitos em 51 companhias a menos, o que indica que os investidores estão filtrando mais capital em menos startups.

“As histórias de grande sucesso – Facebook, Zynga e Twitter – estão levando a se investir em ideias ‘de guardanapo’, porque ninguém quer ficar de fora do próximo grande negócio”, diz Eric Lefkofsky, um dos fundadores do Groupon, e que também tem o Lightbank, fundo de capital de risco de Chicago com um caixa de 100 milhões de dólares.

Uma década atrás, no primeiro surto de investimento na internet, não era incomum que startups de tecnologia conseguissem levantar dezenas de milhões de dólares antes de terem qualquer receita, produto ou usuários. Mas os capitalistas de risco tornaram-se mais cautelosos depois da explosão da bolha e da recessão de 2008 ter paralisado o Vale do Silício.

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Nesse meio tempo, agora está mais barato do que nunca a criação de um website ou um aplicativo para aparelho móvel. Então, agora, a filosofia geral tem sido ‘começar pequeno’.

“Começando pequeno, você tem a chance de saber se realmente tem algo na mão”, diz Mark Suster, um diretor executivo da GRP Partners. “Se você começar grande e o conceito do produto não funcionar, sua companhia vai perder muito dinheiro”.

Dois dos aplicativos de compartilhamento de fotos concorrentes da Color, o Instagram e o PicPlz, são exemplos de se começar pequeno. Eles começaram com 500,000 dolares e 350,000 dólares, respectivamente, e equipes de apenas algumas poucas pessoas. À medida que introduziram produtos de sucesso e atraíram usuários, lentamente levantaram mais dinheiro e contrataram engenheiros.

A Color, enquanto isso, gastou 350,000 dólares para comprar o domínio color.come e 75,000 dólares adicionais pelo colour.com. Alugou um escritório cavernoso no centro comercial de Palo Alto, onde trabalham 38 funcionários num espaço para 160, em meio a pufes, tendas para cochilos e um half-pipe para skate construído a mão.

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Bill Nguyen, o sempre-sorridente fundador da Color, contratou uma equipe de caros engenheiros, como D.J. Patil, ex-cientista chefe do LinkedIn. “Se eu conhecesse uma maneira melhor para fazer isso, eu a faria, mas esse é o meu custo estrutural”, ele disse em entrevista recente.

Michael Krupka, diretor do Bain Capital Ventures e um dos investidores da Color, disse que a empresa precisou angariar muito investimento, porque planejou fazer muito mais do que apenas compartilhamento de fotos.

“Quando chegarmos ao produto final que temos em mente, as pessoas vão perceber o quanto ele é tecnicamente sofisticado e que nós não conseguiríamos fazer isso com apenas quatro pessoas”, diz ele. “É uma coisa cara de se fazer, então eu acredito que o valor é justo”.

Empreendedor em série, Nguyen, de 40 anos, diz que sempre levantou mais dinheiro do que precisava, porque se o produto vacilasse ele teria o suficiente para continuar durante mais tempo do que seus concorrentes. Mas isso também significa que ele teria de vender a companhia para uma maior, ou para seus acionistas, por muito mais dinheiro do que teria, caso tivesse levantado menos.

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Ele comenta que o jogo vale a pena, e que se deu bem duas vezes com ele. Ele começou um serviço de recebimento de fax, e-mail e correio de voz, chamado Onebox.com, que foi comprado pelo Phone.com por 850 milhões de dólares, e o Lala, serviço de música digital que foi comprado pela Apple por 80 milhões de dólares no ano passado. Também começou uma companhia de mensagens para aparelhos móveis chamada Seven, que ainda não foi vendida.

Nguyen anda saltitante pelo escritório da Color, descalço, e fala com pontos de exclamação implícitos no final de cada frase, alimentado pelo que chama de vício em Coca-Cola Zero. Apesar de toda essa energia, ele diz que tem sido bem castigado nos últimos três meses.

“Seu ego fica um pouco machucado”, diz ele. “Não há dúvida que eu queria que nós tivéssemos lançado o produto e que milhões de pessoas o tivessem usado, mas isso não aconteceu. A verdade é vamos puxar a tomada dele e tomar um caminho muito mais tradicional para ir de A até B”.

Mas ele não se desculpa pela quantidade de dinheiro que angariou.

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“Ultimamente estamos vivendo um ambiente muito favorável para as startups, então se os números que conseguimos foram substancialmente maiores do que seriam em qualquer outra época, eu não vou me desculpar por causa disso”, diz ele.

Em seu começo, a Color disse que seria o carro-chefe de uma nova era para as redes sociais localizadas, deixando que as pessoas compartilhassem fotos tiradas de celulares com outros usuários do serviço que estivessem nas redondezas. Mas embora o aplicativo tivesse algum sucesso em eventos grandes, como festivais de música, as pessoas que o experimentaram em outros lugares descobriram que raramente havia alguma coisa para se ver.

Nguyen diz que a companhia encarou as críticas com seriedade e desenhou um novo curso de ação. Ele despediu o presidente da Color, Peter Pham, e seus engenheiros estão construindo uma nova versão do aplicativo para ser lançada nesse verão.

Nguyen delineou um plano ambicioso para competir com a Apple, Google e Facebook, juntando mensagens em grupo, recomendações e pesquisa local, tudo isso enquanto ganha dinheiro via publicidade. Ele planeja criar aplicativos que vão utilizar dados do Facebook para criar redes sociais temporárias, digamos em uma conferência ou evento esportivo, para ajudar os usuários a conhecerem pessoas que tenham crescido na mesma cidade, ou gostem das mesmas bandas. “Isso vai literalmente elevar a sua rede de amigos do Facebook de 500 para 750 milhões de pessoas”, diz.

Ele diz que as fotografias podem nem ser parte da Color no futuro, embora um engenheiro roubado da Livescribe, companhia de computadores em forma de caneta, esteja trabalhando em maneiras de fazer com que as pessoas possam rabiscar em fotos. Analistas estão curiosos sobre o que a Color pode conseguir em uma remodelagem – e se ela ou outras startups caríssimas podem derrotar as chances que toda companhia inexperiente enfrentam.

“Em qualquer fracasso, existem aqueles que levantam-se para se tornar um Google, mas essa é uma exceção, e não a regra”, diz Suster, do GRP Partners.

“Para cada sucesso vão existir 250 avaliações realmente estúpidas”.

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