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O ‘não curti’ do Facebook quer dizer ‘solidariedade’. Entenda

Rede social planeja lançar um botão oposto ao “curtir” – não para expressar rejeição, e sim a resposta a notícias como a morte de um amigo

Por Filipe Vilicic e Jennifer Ann Thomas
25 set 2015, 22h16

Há já algum tempo Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, movimenta a comunidade de 1,5 bilhão de usuários da rede social ao dar a entender que seria possível a criação do botão “dislike” (“não curti”, em português). O ícone para “curti” – a imagem da mão com o polegar para cima – é o maior símbolo e uma das razões do sucesso do Facebook. Nos seus mais de dez anos, a rede social de Zuckerberg fez a expressão “dar like” virar uma gíria recorrente no mundo virtual, como sinônimo de “gostar do que se viu”. Contudo, sete de cada dez usuários declaram sentir falta de algo para expressar o contrário, ou seja, que um post não agradou. O Facebook resistia à ideia de criar um botão para isso, temendo que ele viesse a promover ainda mais discórdia num ambiente já tomado por inflamadas discussões. O receio se justificava: o clima de guerra e fofocagem é um dos principais motivos que levam as pessoas a deletar perfis de seu rol de contatos – o primeiro é a constatação de que se está muito ocupado para navegar pela rede social. Agora, no entanto, o gigante do Vale do Silício parece mesmo disposto a encarar o desafio. No último dia 15, durante um evento no qual adeptos do Facebook fizeram perguntas ao CEO, surgiu uma resposta positiva para a insistente questão “Vocês planejam um ‘dislike’?”.

Não se conhecem detalhes de como nem quando tal botão será implementado. Mas o assunto já incendiou a rede. Imagine quando o dispositivo estrear. Compreensível. A vida real, claro, é bem mais complexa do que podem exprimir dois botões: Curti/Não curti. Porém, para a vida virtual que pulsa – que pisca – nas redes sociais, um botão já tem sido suficiente para dividir, por exemplo, amigos e inimigos.

Em sua intervenção sobre o tema, Zuckerberg procurou se mostrar empenhado em facilitar a expressão de mensagens que representem sentimentos positivos, e não o contrário: “Não queremos que pessoas compartilhem os seus momentos e em troca recebam reações negativas. O que falta é a possibilidade de expressar empatia”. Em outras palavras, a companhia não pretende que a novidade seja usada para exibir descontentamento, raiva ou ódio – tão comuns na web. O objetivo maior é transmitir, de maneira apropriada, apoio ao amigo virtual. O melhor exemplo para isso é uma mensagem na qual o usuário informa a morte de um familiar. Soa estranho apertar “curtir” nesse caso. Para Zuckerberg, seria mais adequado se existisse um ícone, o “dislike”, que permitisse às pessoas demonstrar que uma notícia como aquela as deixou entristecidas e que elas se solidarizam com a dor alheia.

Direto ao ponto
Direto ao ponto (VEJA)

A postura do Facebook diante do assunto sugere que o ícone para a novidade talvez não seja o tradicional polegar para baixo, gesto que se originou, segundo alguns historiadores, na Roma antiga e mais tarde ganhou conotação estritamente negativa. Há mais de dois milênios, os imperadores romanos – logo seguidos pelo público – mostravam o polegar para cima como forma de indicar nas arenas que um gladiador deveria matar o oponente, e o gesto oposto ordenava que o vencedor deveria demonstrar clemência. Se essa não deve ser a escolha de Zuckerberg, então, qual será? Especula-se que a rede social possa optar, por exemplo, por um desenho de flores ou de um abraço.

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“No fim das contas, trata-se de um problema semântico”, analisa o paulistano Marcelo Tripoli, que chefia a área de criação da agência americana SapientNitro, uma das mais renomadas do planeta em publicidade digital. “O que o Facebook precisa entender direito é qual mensagem quer passar aos usuários com uma inovação que promoverá uma mudança radical da experiência de navegação no site”, completa. Sim, é verdade. E mais do que isso: é preciso compreender como as pessoas poderão se apropriar do novo botão.

Mesmo que Zuckerberg queira que elas expressem empatia, a internet já deu provas suficientes de que representa um universo cruel, no qual boa parcela de seus habitantes se sente protegida e livre para escancarar preconceitos, externar opiniões políticas radicais e agredir verbalmente os outros. Não por acaso, 58% dos cadastrados no Facebook acreditam que um “dislike” apenas incentivará mais o cyberbullying, termo que define as ofensas digitais. Assim, poderia ser mais útil lançar botões que possibilitassem a expressão de sentimentos que mais aparecem nas conversas da rede, como a inveja.

O “dislike”, portanto, pode se voltar contra o Facebook exatamente pela chance de se transformar na melhor tradução do que existe de pior na web. “É quando qualquer rede social fica repleta de barulho e ódio que ela corre o risco de implodir”, observou o neurocientista, escritor e empreendedor digital americano Jeff Stibel. Em seu livro Break­point (Ponto de Quebra, em português), Stibel – que em 2007 publicou um artigo premonitório no qual apostou que o hoje arcaico MySpace estava “abarrotado demais” e perderia a liderança para o então novato Facebook – indica que há um limite de lotação para as redes. “Trata-se de algo que funciona como uma festa. Se fica aglomerada demais, gera conflitos, e as pessoas começam a sair, sem planos de voltar”, afirmou a VEJA. É esse o risco do “dislike”. A “festa” imaginada para dar fôlego ao Facebook, segurar usuários e criar um novo modo de coletar informações sobre eles – algo valioso na conquista de anunciantes – pode fazer com que seus animados participantes queiram ir embora antes da próxima música.

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