GoPro: a câmera é você
A máquina portátil virou um fenômeno de vendas não por ser rápida, boa e barata – mas porque é a mais perfeita ferramenta para a era das selfies
Trezentos milhões de imagens são postadas no Facebook todos os dias. No YouTube, armazenam-se 100 horas de vídeos a cada minuto. Vivemos em uma época na qual qualquer situação pode ser gravada. Uma era apelidada por alguns de “o pan-óptico do povo”, em referência à arquitetura arredondada de prisões onde um único observador central, o carcereiro, consegue ver tudo ao redor, especialmente as celas dos prisioneiros. Se as redes sociais se tornaram as plataformas para esse fenômeno, são duas as principais ferramentas pelas quais se grava, e compartilha, o que se vê. Os smartphones, em especial o iPhone, que em 2007 inaugurou esse período de selfies e hashtags. E a GoPro, a câmera portátil que cabe na palma da mão e leva ao nível máximo a ideia de fotografar, filmar e postar cada momento da vida. Com suportes para ser colocada em capacetes, pranchas de surfe, hastes, ou onde for, ela é a primeira máquina a registrar com apuro o mundo pela perspectiva da visão em primeira pessoa. Seus modelos mais recentes, que chegaram às lojas na semana passada em versões que custam entre 129 e 499 dólares, filmam em 170 graus com altíssima resolução (veja o quadro na pág. 105). Resultado: seus vídeos são o registro mais fiel que se tem da experiência pela qual passou o indivíduo no momento em que os gravou.
Mais que uma novidade tecnológica, a GoPro ajuda a moldar um hábito de nosso tempo: a fixação em relatar o cotidiano em um diário visual que de nada valerá se não for compartilhado em redes sociais. “É a exacerbação do ego, pela necessidade não só de mostrar o que fazemos, mas de desafiar os outros a superar nossas experiências”, analisa a psicóloga americana Andrea Bonior, da Universidade Georgetown. O exibicionismo é a base da criação da GoPro. O primeiro protótipo foi produzido em 2004, pelo surfista americano Nicholas Woodman, como forma de gravar suas manobras no mar. Disse ele: “Antes da GoPro, se quiséssemos ter uma imagem de nós mesmos fazendo algo, precisávamos não só de uma câmera, mas de um outro ser humano para dar o clique”. Woodman desenhou um aparelho que pode ser preso no pulso ou na ponta da prancha, para assim registrar sozinho sua experiência surfando. “A ideia é celebrar nossa forma de viver e compartilhar isso com os outros”, resumiu.
(Com reportagem de Gabriela Neri)
Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet, no iPhone ou nas bancas.
Outros destaques de VEJA desta semana