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Facebook e seu limite de 5.000 amigos

Por Por The New York Times
30 Maio 2010, 15h04

O antropologista britânico e professor da universidade de Oxford Robin Dunbar tem uma teoria pela qual o número de indivíduos com quem alguém pode manter uma relação interpessoal estável (leia-se: amigos) é limitado pelo tamanho do cérebro humano, mais especificamente pelo neocórtex. O Número de Dunbar, como a hipótese se tornou conhecida, é 150. O Facebook acredita em outra coisa.

O que seria uma impressionante, ainda que exaustiva, quantidade de amigos na vida real é mato para os mais populares do Facebook, que tem milhares deles. Outras redes sociais utilizam uma terminologia menos intimista para definir contatos (o LinkedIn tem “conexões”, o Twitter, “seguidores”), mas o Facebook cooptou a famosa palavra “amigos” e criou um novo verbo.

A palavra em inglês “friending” (uma variação de friend, amigo, cuja tradução poderia ser “amigando”) “mantém uma ilusão de intimidade em um mundo complexo de atenção parcial contínua”, disse Roger Fransecky, psicólogo clínico e orientador de executivos em Nova York (2.894 amigos). “Fomos capturados pelos algoritmos do Facebook. A cada dia, 25 pessoas novas podem estar desfilando em sua sala. Eu venho de uma juventude religiosa fracassada e havia uma parte de mim que pensava ser falta de educação não responder a convites de novas amizade. Então me dei conta que não poderia colocar todo mundo em minha sala, eu precisaria de um anfiteatro.”

O Facebook desencoraja adicionar estranhos como amigos, e agrega que só uma pequena parte de seus usuários chegou ao número de 5.000 “amigos”, o momento em que a rede social move seu dedo digital e diz: “É o suficiente”. A companhia cita a tecnologia de “back end”, por trás da cena, como a razão para o número de corte, o que implica o risco de o sistema implodir ao sinal do amigo número 5.001.

“Você chega a esse limite, e tem que cometer um assassinato com o Facebook; talvez ‘sacrifício’ seja uma palavra melhor”, disse Sreenath Sreenivasan (5.000), decano de assuntos estudantis da escola de jornalismo da Universidade Columbia, em Nova York. Sua página tem o alerta, “o Facebook não me permite adicionar mais amigos”, e ele periodicamente posta mensagens perguntando se alguém de sua lista quer se tornar “não-amigo”.

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O que pode parecer surpreendente é que o grupo de pessoas com lista considerável de amigos não se limita a desempregados de 20 e poucos anos, comandando mesas no Starbucks e enganando-se sobre se estão em redes sociais ou não. Os grandes usuários incluem uma abundância de adultos com empregos de verdade e, aparentemente, com coisas melhores para fazer com seu tempo do que atualizar seu status para estranhos, antigos colegas e companheiros de férias de 300 anos atrás.

“Em um dado momento, eu arbitrariamente decidi que para cada novo amigo eu teria de eliminar um antigo, como as pessoas fazem com suas roupas quando têm armários pequenos”, disse Kurt Andersen (3.072), apresentador do programa de rádio Studio 360. “Dediquei uma semana inteira para atravessar todos eles, mas isso me fez sentir como uma menina de 14 anos: ‘eu vou ser amigo de fulana, mas não de sicrana'” Amigos do Facebook crescem como fermento por uma série de razões, pessoais ou não. Ele é um substituto para a troca de cartões (tão velha guarda). Como na vida real, uma rede de amigos serve para expandir os círculos sociais com pessoas que pensam de forma parecida com você. Por isso há grupos no Facebook para amantes de culinária, literatos, jardineiros, viciados em política, talvez jardineiros, possivelmente encanadores…

Popularidade – Se o Facebook é um lugar para reflexões e minúcias indiscriminadas, onde as pessoas relatam cada um de seus pensamentos, humor, soluço, cappuccino, evolução na academia de ginástica ou a escolha de uma nova marca de pasta de dente, por que a amizade não pode ser indiscriminada? Por que negar o estremecimento de prazer quando sua página proclama que agora você é “amigo de John Smith e mais 27 pessoas”?

Os anúncios e “sugestões” de novos amigos do Facebook ajudam a tornar atrativos os números, ainda que poucos admitam a gratificação do ego quando se atinge a cota mítica de 5.000 amigos, tal como o personagem Ryan Bingham em Amor sem Escalas, cuja obsessão é chegar em 10 milhões de milhas em seu programa de milhagem. Como uma métrica de status ou valor, o Facebook tem a habilidade de transformar usuários adultos em adolescentes inseguros. Dizendo que se sente como numa competição de popularidade nerd, Chris Brogan (4.801), cuja companhia em Boston ajuda empresas a usar as novas mídias, completa: “Eu passei pela escola com a popularidade em baixa, e ninguém tinha orgulho de ser meu amigo. Agora é como vestir um distintivo estranho.” Mas ele é pouco disposto a seguir o caminho de uma página de fã, especialmente desde que o termo foi trocado por um botão com a expressão “gostei”, que lhe parece odioso. “Me sinto como a Sally Field: ‘Você gosta de mim, você realmente gosta de mim?'”

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Como alguns poucos sortudos aprenderam no colégio, a popularidade cósmica tem suas armadilhas e a amizade no Facebook pode levar a batalhas de aniquilação mútua. “Minha filha pequena escreveu para mim: ‘como você tem tantos amigos, eu só tenho 40′”, disse o chef Norman Van Aken (2.299), de Orlando, na Flórida. “É ótimo que tenha reencontrado a mulher que foi minha babá quando eu tinha 5 anos, mas agora existem até tutoriais sobre ‘como construir sua lista no Facebook’. Eu não tenho nada com isso. Está virando uma forma de isolamento em vez de comunicação”.

“Sou um amigo de Bob Dylan no Facebook, o que provavelmente significa que tenho uma relação profunda com seu divulgador”, disse Daniel Farber (1.762), professor de direito da Universidade Berkeley, na Califórnia. “Tinha esperança de impressionar minha mulher. Na escala de coisas que fiz para impressioná-la, foi muito bom.”

Jeffrey Wolf (4.447), um corretor na área de São Francisco, na Califórnia, registra como amigos, entre outros, Alicia Keys, Alicia Silverstone e Alicia Wiit – só para ficar na lista da letra A. “Gostaria de incluir Rachel Maddow, mas ela não quer fazer amigos”, disse. A tarefa de administrar esse prodigioso inventário, atender pedidos de novos amigos, comunicar-se com os já existentes, é árdua. “Normalmente eu começo por volta das 10 da noite e, se tudo der certo, acabo ali pela uma da manhã”, disse Wolf. “Qualquer um em seu juízo perfeito consideraria abandonar isso.”

Em seu livro How Many Friends Does One Person Need? (Quantos amigos uma pessoa precisa?, em tradução livre), o antropólogo Dunbar sustenta o seu número, reconhecendo que os recursos digitais ajudam a manter contato, mas não para substituir as relações cara a cara com pessoas queridas, fontes de apoio mútuo em um mundo de carne e osso. Ou, como disse o psicólogo Fransecky: “Preciso de amigos que podem arranhar e cheirar.”

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