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‘The Social Network’, o filme do Facebook, não é só para fãs: ele conta uma história atual e relevante

Por Fábio M. Barreto, de Los Angeles
1 out 2010, 13h49

Em tempos em que Hollywood busca, desesperadamente, faturamento garantido com continuações infindáveis e adaptações ilógicas de jogos como Batalha Naval e Banco Imobiliário, pensar no “filme do Facebook” pode parecer apenas mais uma peça maluca nessa equação sem pé nem cabeça. Mas The Social Network surpreende ao contar uma história atual e relevante, cujo final, real ou embalado na ficção, faz parte do dia a dia de mais de 500 milhões de pessoas no mundo todo. Sob a direção de David Fincher e roteiro de Aaron Sorkin, o longa-metragem é dramático, inteligente e divertido sem ser piegas ou óbvio.

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Nomes como de Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin ou Sean Parker podem não significar muito para quem usa computadores de maneira casual, mas é bom avisar que eles representam as maiores invenções da internet nos últimos quinze anos. Zuckerberg e Saverin criaram o Facebook e ditaram os rumos das redes sociais, enquanto estudavam em Harvard; e Parker causou tumulto no mundo da música com a rede de troca de arquivos Napster.

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As histórias desses três se cruzam em The Social Network, que coloca o espectador em contato direto com uma versão fantasiosa, porém extremamente atraente, da ideia nascida numa noite de bebedeira num dormitório universitário. Incluindo as intensas batalhas judiciais travadas por Zuckerberg por direitos autorais e controle acionário da empresa, que, hoje, vale mais de 25 bilhões de dólares.

Stephen Frears, diretor de A Rainha, costuma dizer que escalar o elenco certo é a melhor decisão que o diretor pode tomar. “Com um elenco bom, você não tem muito trabalho e não precisa se preocupar; já com o errado, vai ser um inferno e a culpa é sua”, diz o diretor ao site de VEJA. David Fincher parece concordar com Frears, pois cada escolha foi impecável, a começar pelo espetáculo dado pela dupla Jess Eisenberg, que atravessa sua juventude profissional sem precisar apelar para comédias fúteis, e Andrew Garfield, com pouco destaque em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, mas aclamado por Never Let Me Down, e que vai ser o próximo Homem-Aranha. Justin Timberlake chega tarde na narrativa, mas a influencia diretamente, assim como seu personagem, Parker. Eles são instrumentos numa dura e impactante análise das aspirações do ser tecnológico moderno.

“O que queremos?”, pergunta Zuckerberg. “Mulheres”, responde Saverin. Mas acima de tudo, é preciso saber da vida alheia, além de encontrar modos de expor opiniões e, portanto, buscar relevância. É outro aspecto do desejo de fama pela fama; menos direto, mas igualmente relevante. Da mesma forma que o Facebook aposta em seu alto nível viciante e na dependência de seus usuários, o roteiro de Sorkin se apoia nos meandros dessa brincadeira milionária para prender a atenção sempre com novidades e novas facetas do que pode, ou não, ter acontecido nos primeiros anos da operação.

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O autor não fornece respostas, apenas posiciona perguntas e faz sugestões. Não há dicotomia nessa dinâmica, pois existem tantos pontos de vista, que apoiar Zuckerberg é tão plausível quanto se alinhar a Saverin, suplantado pela chegada de Parker. Todos têm sua participação na criação desse empreendimento, assim como todos compartilham da culpa pelo desfecho regado a acordos milionários. Entretanto presenciar Zuckerberg ser vítima da mesma fama que manuseou habilmente para construir sua fortuna de forma quase infantil, permite ao espectador pensar em como se comportaria em seu lugar. Todo ser humano tem ídolos, inclusive os próprios ídolos. Zuckerberg se viu tentado e falhou ao reconhecer a verdadeira amizade, mas, no fim das contas, conseguiu tudo o que queria de todos os envolvidos. Se ele errou, também erraram todos os empreendedores dos últimos cem anos ou mesmo uma influência mais recente, e direta: Bill Gates.

Mesmo sem considerar os potenciais 500 milhões de usuários atingidos pela campanha de marketing, The Social Network abre um precedente fundamental para a investigação da atual estrutura social. Histórias como a de Mark Zuckerberg reforçam o abalado sonho americano, que fundamentalmente depende da mente empreendedora, bem-sucedida pela engenhosidade e empenho. Desde a dobradinha Bill Gates e Steve Jobs não havia surgido um negócio forte o bastante para relembrar a geração atual de que ser milionário, ou famoso, ou as duas coisas, ainda é possível sem sair da frente do computador. Zuckerberg e Saverin são heróis modernos. Modelos. Pessoas normais capazes de inspirar milhões de ideias e indivíduos, ou seja, trajetórias facilmente relacionáveis e acessíveis a qualquer aspirante ao sucesso.

Sua história não terminou e Sorkin se aproveitou disso ao escrever um filme que não desacelera, que não avisa que vai terminar e que, facilmente, poderia ter mais uma ou duas horas – o espectador não notaria ou reclamaria. O público quer viver aquela vida, quer se alimentar daquele exemplo. Quer acreditar que o sonho é possível e que, acima de tudo, sua vez pode chegar. George Lucas precisou buscar inspiração em Joseph Campbell para causar esse efeito na década de 1970. David Fincher precisou apenas olhar para a internet para se inspirar. É o poder das redes sociais extrapolando a rede e direcionando a vida real.

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