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Contra a solidão do empreendedor, o “clube do milhão”

Empresários se reúnem em um grupo exclusivo, a Entrepreneurs' Organization, onde podem falar de tudo: de concorrência desleal a deslealdade conjugal. Para fazer parte do time, é preciso faturar ao menos US$ 1 milhão ao ano

Por Da Redação 13 set 2015, 10h06

Gilberto Crombé já se sentiu o Super Homem. Também teve a impressão de que era o homem mais estúpido do mundo. “Esses altos e baixos ocorrem aos empreendedores”, diz o mexicano, consultor de estratégia empresarial/corporativa. Não é que os homens e mulheres que se arriscam nos negócios sofram de algum tipo particular de instabilidade emocional. Ao contrário, Crombé diz que eles, de certa forma, têm capacidade de ver o que os demais não veem, acreditar no que só eles viram e contretizar suas visões. “São pessoas com DNA talhado para os momentos de crise, como o atual, porque elas não esperam que as coisas sejam feitas, elas próprias as fazem.” O DNA, contudo, não elimina a gangorra emocional, que na visão de Crombé é fruto da pura solidão. “Eles algumas vezes se sentem sós porque têm que tomar decisões e assumir riscos. Diante da família, dos amigos, são como estranhos.”

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Para aplacar a solidão, 11.000 deles estão reunidos em uma espécie de clube exclusivo, chamado Entrepreneurs’ Organization, uma entidade sem fins lucrativos mantida pelos próprios membros em 48 países. Crombé é o atual presidente. Fundada em 1987, a OE já abrigou gente como Michael Dell, fundador da marca de computadores que leva o sobrenome do criador. Somadas, as empresas dos participantes faturam 536 bilhões de dólares e mantêm em média 240 empregos. Para fazer parte do grupo, é preciso ter receita anual mínima de 1 milhão de dólares (cerca de 3,8 milhões de reais) e passar por uma triagem. Aceito, o novato passa por um treinamento que pretende prepará-lo para obedecer regras e desfrutar de benefícios. É preciso pagar por tudo isso: 1.500 dólares de inscrição e 2.900 em anuidades global e local.

Gilberto Crombé
Gilberto Crombé (VEJA)

Os 11.000 membros espalhados pelo mundo se dividem em 150 “capítulos”, agrupamentos definidos por zonas geográficas, mais ou menos correspondentes a cidades. O “capítulo” do Rio tem 30 integrantes; o de São Paulo, 24. São os únicos abertos no Brasil até agora, num movimento que começou há cerca de dois anos. Dentro de cada capítulo, são criados “fóruns”, grupos de até dez pessoas que devem se reunir uma vez por mês. Eis a grande chance de o solitário empreendedor falar. Os encontros também seguem um roteiro estrito. A cada sessão, dois integrantes apresentam suas inquietações. Os demais intervêm contando experiências relacionadas. Não é permitido julgar o empreendedor em apuros (não deve ser fácil), nem dizer o que ele deve fazer: o proponente da questão deve chegar às suas próprias conclusões. Um participante do encontro controla o tempo das intervenções, todas pré-estabelecidas, e denuncia atos indevidos, como um julgamento.

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“Tive problemas sérios em uma das minhas empresas há alguns meses. Um presidente deixou seu cargo e eu estava decidido a recrutar outro. Depois de trazer a questão para o fórum e ouvir outras experiências, entendi que aquela poderia não ser a melhor escolha, pois eu continuaria distante do negócio. Decidi voltar e acompanhar o dia a dia da operação. Em pouco tempo, a casa estava em ordem e os resultados vieram”, conta Cristiano Miano, de 35 anos, presidente do Grupo Digi, responsável na EO pela estratégia de expansão na América do Sul. Ao lado de outros ex-alunos do Owner and President Management (OPM), programa da Universidade Harvard para aprimoramento de líderes empresariais, Cristiano é um dos responsáveis pelo fato de a EO ter aportado no Brasil.

Relatos sobre as reuniões são sempre acompanhados de um prólogo: “Sinto-me à vontade para narrar esse caso porque aconteceu comigo…” Isso se repete porque a confidencialidade é uma das garantias da instituição. Problemas pessoais, queixas conjugais, turbulências íntimas e quetais podem ser apresentados nos fóruns – e, de fato, são. Como os demais assuntos, contudo, só podem sair dali se sobre eles falarem os autores das reclamações. O resultado dessa espécie de catarse é positiva, segundo Marcelo Aoki, de 36 anos, que comanda a IBR Participações e preside o “capítulo” de São Paulo: “Aqui, aprendi a negociar. Ao contrário do que acontece na minha empresa, onde pago para que me obedeçam, aqui tenho que ser persuasivo. Melhorou minha visão como pessoa e empreendedor.”

Os fóruns, é claro, não são o único recurso da EO. Ao entrar para o clube, o novato passa imediatamente a ter acesso irrestrito a 11.000 potenciais parceiros de negócio. Por meio de uma plataforma digital, é possível falar com todos e elaborar buscas: quem trabalha com importação de têxteis na Alemanha, por exemplo, ou onde está o parceiro americano interessado em fazer negócios de software? “Quando falo com membros de outros países, eles sempre me dizem: ‘Se precisar de algo, venha a minha casa.’ É como uma família”, diz Felipe Ramos, de 33 anos, cofundador do site Papo de Homem, entre outros negócios, e diretor de comunicação do “capítulo” de São Paulo.

Regularmente, são realizados encontros regionais e, de forma permanente, treinamento e capacitação. Um desses eventos trouxe Crombé a São Paulo na semana passada. Ele comandou um workshop sobre planejamento estratégico para membros e convidados – gente que o “capítulo” paulistano espera atrair para o grupo. Em resumo, o mexicano falou sobre o atual papel do líder nas corporações, sobre como planejar e colocar objetivos em prática, apoiado em uma metodologia desenvolvida originalmente por Verne Harnish, um dos fundadores do EO. Segundo Crombé, as companhias que adotam o método registram crescimento de 20%. As pessoas, gestores e colaboradores, ganham 30% de tempo livre para suas vidas.

O presidente da EO estica a conversa dos negócios para a vida dos empreendores. “Queremos ajudá-los a ser os líderes de economia, a ser bem-sucedidos, não apenas nos negócios, mas também em família, em suas comunidades e do ponto de vista pessoal”, diz. Se o fizer, estará cumprida a promessa do EO. E haverá, é claro, um bônus: “Nós temos que dar força a essas pessoas, porque elas fazem bem à economia: ao invés de procurar empregos, elas os criam e essa é a única forma de fazer com que as economias continuem crescendo.”

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