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Com IPO, Twitter terá de voar mais alto

Sucesso na bolsa de valores depende da superação de quatro desafios, que incluem acréscimo de usuários e formatos de publicidade. Oportunidades de crescimento não faltam

Por Rafael Sbarai
22 set 2013, 19h20

Na semana passada, o Twitter alçou o voo mais alto desde sua criação, em março de 2006, ao revelar a intenção de abrir capital. O anúncio foi feito bem a seu estilo, com uma mensagem de 135 caracteres publicada no perfil da própria companhia na rede social: “Nós confidencialmente apresentamos um S-1 (documento que deve ser entregue às autoridades americanas) para o planejamento de um IPO (oferta inicial de ações)”. A operação, que ainda não tem data definida para ocorrer, mostra que o passarinho azul deverá se mover constantemente para atender às altas expectativas de seus investidores. Não se sabe, contudo, se seu caminho será próspero. Oportunidades de crescimento não faltam.

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A eventual abertura de capital do Twitter é o mais aguardado IPO de uma empresa de tecnologia desde o ingresso do Facebook na bolsa de valores, em maio do ano passado. O microblog, contudo, parece trilhar um caminho diferente de seu concorrente. A primeira medida foi tentar conter a euforia do mercado, adotando uma postura mais cautelosa. A empresa foi atrás de um nome com bagagem no setor financeiro: em maio, tirou do banco Morgan Stanley a executiva Cynthia Gaylor, profissional com vasta experiência em IPOs, que tem no currículo o trabalho que antecedeu a abertura de capital de Facebook, LinkedIn e Zynga. O recrutamento já dava sinais de que o ingresso na bolsa era questão de tempo.

O Twitter está avaliado em valores entre 10 bilhões e 15 bilhões de dólares. Um detalhe da forma como a rede está conduzindo o processo de IPO revelou ainda um dado importante. O Twitter se aproveitou de uma lei sancionada no ano passado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que permite fornecer informações mais detalhadas da oferta pública aos investidores somente às vésperas do seu lançamento na bolsa. Essa estratégia é valida apenas para companhias que possuem faturamento anual inferior a 1 bilhão de dólares. Descrobriu-se, portanto, o mistério que cercava a receita da rede.

Conhecido por expor poucas informações (não se sabe até hoje, por exemplo, o número oficial de brasileiros na rede), o Twitter não quis comentar o assunto com a reportagem de VEJA. Mas estimativas apresentadas pela eMarketer, empresa de análise de tendências em marketing digital e mídia, confirmam aquela cifra. Neste ano, o microblog deve ter receita de 583 milhões de dólares, baseada exclusivamente em três fontes: tuítes, contas e hashtags (que indica um tema no microblog) patrocinados.

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A expectativa é que essa cifra praticamente dobre em 2014, chegando a 950 milhões de dólares. O número impressiona. Mas a oferta publicitária relativamente restrita, se comparada à de seus rivais, pode comprometer o futuro da companhia. “Faltam mais opções de receita e ousadia para a empresa prosperar”, diz Dan Olds, analista da consultoria americana de tecnologia Gabriel Consulting. É verdade que o conceito de segunda tela, hábito de usar a internet (e o Twitter, especificamente) para comentar um programa de TV em tempo real, está em ascensão, mas até o momento não se sabe o retorno financeiro sobre o modelo.

O que é possível garantir é que a empresa concentra esforços nesse segmento. O Brasil, segundo maior mercado da rede social, ganhou recentemente um profissional dedicado à área. “As emissoras já identificaram a necessidade do uso do Twitter para promover maior interação com o público”, afirma ao site de VEJA Guilherme Ribenboim, diretor-geral da empresa no Brasil.

Os investidores, no entanto, estão com as atenções voltadas à receita proveniente dos dispositivos móveis, para onde migram milhões de usuários: 53% do faturamento da companhia vem de smartphones e tablets. Aqui, o Twitter parece estar à frente do Facebook e, a princípio, não terá as mesmas dificuldades vividas pelo serviço criado por Mark Zuckerberg, cujos papéis sofrerem intensa desvalorização após o IPO porque a companhia não oferecia publicidade dedicada a dispositivos móveis – aparelhos usados pela maioria de seus usuários. Ao enxergar esse cenário, tudo indica que o microblog já superou esse obstáculos e, assim, terá maior facilidade para conduzir sua operação. Há, porém, mais desafios.

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Dick Costolo
Dick Costolo (VEJA)

Há algum tempo, o Twitter não cresce em um ritmo acelerado. Até existem explicações para esse cenário. “Além da concorrência de outros serviços, houve um esforço do próprio microblog na batalha contra perfis falsos, eliminando assim uma base significativa de usuários”, explica Olds. Estima-se que 20 milhões de perfis falsos tenham desaparecido da rede. O último dado oficial relativo ao número de usuários é de dezembro: 200 milhões acessam o microblog por pelo menos uma vez ao mês. É um quinto da base do Facebook, a maior rede social do planeta.

A poucas pessoas, o CEO Dick Costolo afirmou esperar que essa base dobre até o final do ano. De acordo com o jornal americano The Wall Street Journal, o Twitter conta hoje com mais de 240 milhões de usuários ativos – um ganho de 4,5 milhões por mês. Se permanecer com essa taxa, chegará a 260 milhões no fim do ano: crescimento de 30% em um ano. Pode não parecer muito, mas o próprio Facebook cresceu 33% nos doze meses que antecederam seu ingresso na bolsa de valores. Essa solidez parece não preocupar Wall Street, uma vez que as estimativas de receita crescem exponencialmente. O usuário do Twitter, portanto, pode ser mais valioso.

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Outro obstáculo que a rede terá de superar se refere ao campo de inovação. Ela deverá apresentar um leque de ofertas para se manter relevante para usuários e investidores. Segundo Thiago Domenici, sócio e vice-presidente da Confrapar, gestora brasileira de fundos de investimento para empresas de tecnologia, a rede pode direcionar seus esforços em três setores: uma estratégia mais clara no mercado de monitoramento, com a criação de serviços pagos dedicados às empresas e celebridades; uma oferta de direcionamento de anúncios, com foco em dispositivos móveis; e maior integração com produtos adquiridos. Este último, por sua vez, pode fazer com que o Twitter sonhe ainda mais alto, principalmente com o ingresso de dois importantes serviços: o aplicativo de produção de vídeos em até seis segundos Vine e a plataforma de publicidade móvel MoPub.

Enquanto o Vine ganhou rapidamente a adesão de 40 milhões de usuários – e, pode-se dizer, forçou o Facebook a integrar o Instagram -, a MoPub pode dar um rumo promissor aos anúncios dedicados a smartphones e tablets. Avaliada em 350 milhões de dólares, a empresa americana é referência no setor de gerenciador de publicidade móvel, o futuro do universo digital. Com ela, o Twitter pode comercializar anúncios não só em seu microblog de 140 caracteres, mas também em aplicativos e serviços baseados nesses aparelhos, com a possibilidade de monitorar os resultados em tempo real. Assim, a complicada tarefa de segmentar publicidade – e fazer mais e mais dinheiro – pode ficar mais próxima, fornecendo assim anúncios baseados na geolocalização, horários, temas do interesse do usuário, além de dados pessoais, como idade, gênero e idioma. Seria possível, assim, que o microblog se tornasse um gigante de publicidade dedicado à área móvel.

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O passarinho parece ter um rumo. É preciso saber, agora, se ele vai voar alto. “O Twitter tem a obrigação de mostrar que não é apenas um serviço de mensagem de até 140 caracteres”, explica Rob Enderle, fundador da consultoria americana de tecnologia Enderle. “Chegou o momento da empresa mostrar que é uma ameaça real a Google e Facebook.”

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