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“A criatividade irá dominar os robôs”

Geoff Mulgan, CEO da Nesta, uma das mais relevantes companhias de inovação da Inglaterra, afirma que trabalhos criativos serão os mais bem remunerados nos próximos anos. Para ele, são esses postos que vão mover a economia mundial e subjugar as máquinas

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 Maio 2016, 16h10 - Publicado em 8 jun 2015, 19h25

Para Geoff Mulgan, CEO da Nesta, uma das mais relevantes companhias de inovação da Inglaterra, artistas, designers e arquitetos serão os profissionais do futuro. De acordo com o inglês, atividades como essas estão “à prova” de automação, jamais serão substituídas por robôs e figuram dentre as que mais crescerão – e serão bem pagas – nos próximos dez anos. A Inglaterra, sozinha, tem 2,6 milhões de empregos na indústria criativa, com potencial de gerar 1 milhão de novos empregos como esses nos próximos dez anos.

Uma pesquisa divulgada por sua companhia no início deste ano revelou que os Estados Unidos têm cerca de 21% de empregos altamente criativos e, desses, 86% correm pouco ou nenhum risco de serem substituídos por máquinas. Na Inglaterra, 87% da força de trabalho envolvida nos 24% de trabalhos criativos não será eliminada. São esses profissionais que, no futuro, estarão no centro da inovação mundial, trazendo formas novas para mover a economia. Em outras palavras, correm menor risco de se tornarem obsoletas frente ao surgimento de inteligências artificias cada vez mais evoluídas.

Nesta entrevista ao site de VEJA, Mulgan, que esteve no Brasil para conhecer projetos educativos e expor os programas da Nesta, explica o que é preciso para que isso se torne realidade e como a criatividade vai, em pouco tempo, dominar as máquinas.

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Por que profissões que não envolvem inovações vão desaparecer nos próximos anos? Cerca de um terço dos empregos na Inglaterra irão sumir em vinte anos. São trabalhos que serão substituídos por máquinas. A pesquisa que fizemos buscou traçar qual será o rumo da economia nos próximos dez a vinte anos e quais serão os postos que não estarão ameaçados pelos robôs. O que descobrimos é que aqueles com altos níveis de criatividade, inteligência social e emocional são os que irão permanecer com força.

São habilidades ligadas às artes. Artistas serão os profissionais do futuro? Os trabalhos que exigem criatividade, inteligência e também destreza manual (como a de um neurocirurgião) tendem a ser os mais bem pagos e vão crescer mais que outros. As máquinas jamais terão essas habilidades. A criatividade vai dominar os robôs. Em outras palavras, sim, os artistas se darão bem.

No entanto, no momento atual de crise, profissionais assim tendem a ganhar pouco e, por isso, não são muitos que continuam a apostar no setor criativo. Como se dará a mudança? Eles jamais serão a maior parte dos profissionais. São cerca de 10% a 20% em cada país. Na Inglaterra, que é um polo de inovação, acreditamos que 1 milhão de trabalhos assim serão criados nos próximos anos. No entanto, ainda é uma minoria.

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Se são poucos, como terão essa relevância na economia? Em todos os países, incluindo o Brasil, o setor está crescendo e é um gerador importante de riqueza. A economia criativa deixará de ser uma pequena parcela para se tornar bastante significativa. Mas não dará trabalho para todos. Além disso, é importante notar que o trabalho criativo não estará apenas em agências de inovação ou empresas do gênero. Estamos falando de inovação em áreas como engenharia e agricultura.

Por que considera importante ligar arte à tecnologia? Essa relação é natural para os jovens, que estão fazendo seus vídeos e jogos no tempo livre. O que precisamos é que eles façam mais que isso. A criatividade deve ser um trabalho integral para que usem esse potencial para se tornarem inventores com real capacidade de mudar a sociedade em que vivemos. Temos projetos com escolas inglesas em que fornecemos o material digital para que os estudantes usem isso de maneira criativa. A ideia que está por trás é criar uma civilização de inventores digitais. Não de indivíduos que são somente usuários digitais.

E quais as outras estratégias para que surjam esses tais inventores do futuro? Trabalhamos na Inglaterra e em outros países com novos modelos de negócios, como empresas sociais, que ajudam as pessoas a utilizar a internet para compartilhar informações realmente relevantes que podem vir a gerar uma nova fonte de renda. Isso trará uma grande mudança econômica. Elas podem compartilhar coisas como sua casa, que é o que o Airbnb faz, ou carros, caronas, como no Uber. Elas também podem compartilhar tempo, trocar serviços. Esse uso da internet dá poder às pessoas e não às empresas, como é o uso da internet hoje, com os anúncios no Facebook ou Google. Outro de nossos experimentos é o patrocínio de pesquisas artísticas, que une museus ou galerias a empresas digitais para que experimentem novas formas de arte, de levantar recursos ou se relacionar com o público. Acredito que isso deveria ser uma parte estratégica para governos.

É isso que quer dizer com ‘humanizar’ a internet, termo que costuma usar? A ideia é que as pessoas acessem o mundo digital para as suas necessidades. Que elas não sejam apenas os observadores desse universo. Se for usado da maneira certa, para servir aos homens, à sua liberdade e criatividade, muitas visões caóticas para a próxima geração da internet não vingarão, felizmente. Uma delas é que a inteligência artificial não deixaria espaço para o ser humano se destacar por si no mercado de trabalho. A ligação da tecnologia com a arte é uma maneira de abrir esse espaço. Enquanto máquinas farão o trabalho duro, poderemos nos dedicar à economia criativa.

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