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Por que ainda existe gente careca?

Cientistas já conseguiram reverter a calvície e recuperar os pelos de camundongos cobaia. Aos calvos, no entanto, resta apenas a espera. Um ano após anúncio de que a finasterida pode causar danos permanentes ao homem, a medicina ainda não encontrou um novo tratamento contra a calvície

Por Aretha Yarak
21 abr 2013, 12h30

Quando os fios de cabelo de Júlio César (100 – 44 a.C.) começaram ralear, o imperador romano se pôs em batalha. Contra a iminente calvície, se valeu do inimaginável: as receitas exóticas contra a careca incluíam ratos domésticos queimados, gordura de urso e vísceras de veado. A receita, é claro, não produziu um fio de cabelo a mais na cabeça do imperador. A calvície, que atinge em algum grau até 50% dos homens acima dos 50 anos de idade, permanece pouco compreendida pela medicina até hoje. Os cientistas não entendem, por exemplo, o que, exatamente, causa a atrofia da matriz que produz os fios de cabelo. Enquanto isso, tratamentos que surgiram como grandes promessas nos últimos anos, não tiveram avanços significativos – e nem partiram para os testes clínicos em humanos.

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A CALVÍCIE

A alopecia androgênica, como é conhecida a calvície, se caracteriza pelo afinamento progressivo do fio de cabelo. Esse afinamento é uma consequência da redução em volume da matriz capilar (raiz, onde se produz os fios), causada por uma hipersensibilidade ao hormônio diidrotestosterona (DHT, um resultado da metabolização da testosterona). A enzima responsável pela transformação da testosterona está mais presente nas regiões frontais da cabeça, por isso, predominantemente, os homens ficam calvos nas “entradas” e no cocuruto.

Com a diminuição em tamanho da matriz, os fios acabam sendo produzidos cada vez mais finos. Ao fim de diversos ciclos de crescimento capilar, essa matriz fica tão pequena que, incapaz de produzir mais fios, se atrofia. De acordo com Arthur Tykocinski, dermatologista especializado em cabelos e pelos, a calvície afeta em algum grau cerca de 50% dos homens aos 50 anos de idade – e de 10% a 20% das mulheres. No padrão masculino, o afinamento costuma acontecer nas “entradas” e no cocuruto. Já nas mulheres, a calvície tem um padrão mais difuso e menos localizado.

A época ideal para se procurar um dermatologista é quando se percebe que os fios começam a ficar mais finos. Os remédios existentes hoje, como a finasterida, não trazem de volta os fios que não crescem mais. O medicamento ajuda apenas a dar uma estabilizada na queda. “Depois que a pessoa ficou careca, a única opção é o transplante”, diz Tykocinski.

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Publicada em fevereiro de 2011 no periódico PLoS One, pesquisa conduzida pela Universidade da Califórnia descobriu uma nova droga eficiente em fazer crescer pelos em camundongos carecas. A descoberta aconteceu quase ao acaso. Enquanto estudavam como o stress interfere nas funções gastrointestinais, os pesquisadores acabaram por encontrar um composto químico que conseguia induzir o crescimento capilar, batizado de astressin-B. Esse composto agia bloqueando um hormônio relacionado à perda de cabelo. De acordo com Million Mulegeta, coordenador do estudo, a descoberta pode levar a novas formas de tratamento da calvície em humanos. Infelizmente, disse ao site de VEJA, a pesquisa não apresentou uma evolução significativa nos dois anos. Os testes clínicos e de toxicidade em humanos ainda nem começaram, e não há perspectivas de apresentação de novos resultados.

Em outra pesquisa, publicada em março de 2012 no periódico Science Translational Medicine, cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, identificaram um lipídio responsável por inibir o crescimento do cabelo. Chamado de prostaglandina D2 (PGD2), o lipídio impedia o crescimento capilar por meio de um receptor chamado GPR44 – que é um alvo terapêutico promissor para a calvície masculina e feminina. De acordo com George Cotsarelis, coordenador do estudo, em um ano o levantamento não teve muito avanço prático. “Não há nada de novo, nenhum dado novo. Ainda estamos nas fases de pesquisa pré-clínica”, disse em entrevista ao site de VEJA.

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Fitoterápico – De acordo com o dermatologista Vacinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira do Cabelo, há um fitoterápico no mercado que vem sendo usado por alguns pacientes. Os extratos da planta Serenoa repens, uma planta nativa da América do Norte, teria uma função andrógena muito semelhante à da finasterida, mas com menos efeitos colaterais. “Não há estudos sobre esse extrato demonstrando que ele evita a queda de cabelo. Mas existem pesquisas que mostram que ele bloqueia a enzima 5-alfa-redutase, assim como a finasterida”, diz Bedin. O uso do fitoterápico, no entanto, segue como off label (fora da sua indicação original em bula).

Calvície
Calvície (VEJA)

Genética – Em 2012, a empresa americana 23andMe conseguiu identificar seis variações genéticas associadas à calvície de início precoce. O estudo, publicado no periódico PLoS Genetics, significou o primeiro passo na melhor compreensão do problema. Dois anos antes da descoberta, a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, já havia encontrado uma mutação genética que leva à queda dos cabelos em homens. A identificação do gene APCDD1 ajudou a entender melhor mecanismos de ação que levam ao afinamento capilar. Os achados genéticos, porém, ainda não conseguiram chegar à prática clínica – e devem demorar algum tempo antes de serem levados para dentro dos consultórios médicos.

Apesar das descobertas recentes, os avanços médicos em relação à calvície ainda esbarram no conceito mais básico: como ela acontece. “Ainda não se sabe exatamente o acontece, qual o mecanismo exato que leva à diminuição da matriz capilar”, diz Thais Ferraz, dermatologista e especialista em tricologia. Se os ratos eram queimados nos tempos de Júlio César, atualmente eles são os únicos beneficiários dos parcos achados contra a calvície.

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